Talvez tenhamos começado com o pé esquerdo. Sem querer parecer comunista com os clichês do dia a dia, acho melhor, no entanto, voltarmos e começarmos tudo de novo. E de preferência com os dois pés, pois assim as chances de alguém cair no caminho são bem menores.
Talvez você já tenha lido algum texto meu e saiba do que eu estou falando. Mas como é muito mais provável que você nunca tenha ouvido falar de mim, apresento-me: Oi, meu nome é Cecília, tenho 22 anos, não sou especialista em nada, mas tenho algumas anotações mentais que quero compartilhar com você, querido leitor.
E proponho começarmos novamente esse processo de compartilhar as coisas com assuntos mais gerais, assim você se acostuma a mim e eu a você. E de preferência, ninguém cai. Então, depois de me apresentar, apresento Alexandra. Nova, tímida, séria, o que muitos não sabiam é que a curiosidade de Alexandra ia além de seus livros didáticos.
Aos 17 anos, uma das mais controversas dúvidas envolvia pêlos pubianos. E a julgar pela reação do público às fotos de Nanda Costa na Playboy há alguns meses, essas dúvidas não eram infundadas. O que ela via na televisão era absolutamente nada. Liso, raspado, sem nenhum fio. Na vida real também era assim? Alexandra, por algum motivo, tinha a impressão de que era. E não estava totalmente errada.
Deixa eu te falar uma coisa sobre depilação, seja ela com cera ou com lâmina: Dói. Com cera, dói no momento e depois, com pêlos encravados. E além disso, quanto mais você depila, mais a região da virilha vai ficar frágil e suscetível a processos inflamatórios como foliculite e queimaduras. E se isso não bastasse, pode manchar a região. Pesquise, eu te convido a fazer isso.
Mas por que a mulher quer ficar sem pêlos nenhum, coisa que não só é natural, mas uma forma de proteção da região? Alexadra só foi conversar sobre o assunto aos 19 anos. Acredite ou não, esse assunto que parece tão trivial é realmente um tabu. Algumas mulheres fazem isso porque acham que os homens preferem assim. Embora em alguns casos seja verdade, em outros não é. Em uma das primeiras escapadas de Alexandra, eis o diálogo que se seguiu:
“Você raspou hoje?”, perguntou o dito cujo. “Foi”, ela respondeu meio sem jeito, pois mesmo depois de ler e discutir sobre o assunto, ainda se sentia acanhada em falar sobre isso. “Você fez isso pra que? Pra ficar parecendo mais menininha do que já é?”, perguntou novamente o dito cujo, rindo, achando graça daquilo.
Não me entenda mal, se você acha mais prático ficar sem pêlo nenhum, seja minha convidada em sessões de laser ou depilações uma vez por mês. Mas isto está virando algo equivalente a magreza: está virando uma das características de um novo padrão de beleza. E as mulheres seguem ou o combatem como se fosse a Inquisição. Existem grupos de “diga não ao desmatamento da virilha”, “Em defesa dos pêlos pubianos” ou algo assim. Sem brincadeira. Está virando questão política.
Agora eu me pergunto: Por que algo assim vira polêmica, indicador de beleza e tabu? Quando as mulheres e os homens vão perceber que pêlo cresce, que se quer depilar, ótimo, se não quer, ótimo também? Por que tudo tem que ser uma afronta, um debate incessante de interesses e opiniões infundadas que não levam a lugar nenhum, somente raiva, angústia e às vezes depressão?
E por incrível que pareça, esse assunto nem é mais só com as mulheres. De alguma forma, alguém inventou que o homem também tem que ser “liso”. A pressão e reação do público quanto a isso é bem mais suave, ninguém se desespera se um homem estiver au naturel.
Então vamos parar de drama quanto aos pêlos pubianos porque, que nem qualquer pêlo em nosso corpo, ele não vai embora pra sempre, mesmo com o laser. E talvez seja hora de refletir que tê-lo seja melhor e mais sensato do que não o ter. Mas isso é só divagação.
*Cecília Neves é escritora, curiosa sobre o sexo, escreve no Olhar Conceito aos domingos (na maioria das vezes) e quer que você compartilhe experiências pelo e-mail cecilia.neves25@gmail.com ou clicando aqui.