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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Fabricantes de gôndolas de Veneza tentam manter viva tradição secular

As elegantes gôndolas que deslizam por Veneza, na Itália, carregam a marca de um pequeno, mas orgulhoso grupo de artesãos que lutam para manter vivos os métodos tradicionais de construção do mais famoso símbolo dessa cidade alagada.

Conduzida por um gondoleiro com camisa listrada e chapéu de palha, a embarcação de luxo oferece um ambiente romântico para um calmo passeio e, não raro, um pedido de casamento.

Há 700 anos, havia em torno de 7 mil gôndolas em Veneza, segundo a associação de gondoleiros Ento Gondola, mas o uso como transporte diário foi substituído por barcos mais modernos. As 433 restantes são agora, sobretudo, atrações turísticas.

No canteiro naval Tramontin, conhecido como "squero" no dialeto veneziano, o fabricante de gôndolas Roberto Tramontin explica por que seu negócio familiar, fundado em 1884 pelo tataravô, ainda fabrica o barco clássico.
"É como uma mulher sem muita maquiagem em um vestido Armani preto, somente com um diamante no pescoço", descreve.

Levam-se dois meses para construir uma gôndola a partir de 280 peças de variadas madeiras, incluindo carvalho, mogno, castanheira e elmo, entre outras, todas custando juntas cerca de 38 mil euros (R$ 113,5 mil), diz Tramontin.

A madeira é tratada por até um ano, antes de ser montada em uma forma ligeiramente assimétrica, semelhante a uma banana, que permite a um único gondoleiro impulsioná-la em linha reta.
Os construtores praticam por anos antes de começar a construir barcos em tamanho condizente com o peso de cada gondoleiro.

"Comecei a trabalhar em 1970 e, em 1994, fiz minha primeira gôndola por conta própria", conta Tramontin, apoiando-se em um reluzente exemplar, que pesa cerca de 500 kg e tem 11,1 metros de comprimento.
Tramontin diz construir gôndolas 60% de acordo com os métodos antigos. Isso porque ele também usa algumas peças de madeira cortadas por máquinas e um tipo de compensado moderno para a base do barco.
Cultura em desaparecimento

"Trabalhamos no estilo antigo. Tudo é feito à mão", diz o fabricante Lorenzo Della Toffola, de 48 anos, que trabalha em gôndolas no "squero" de San Trovaso, no bairro veneziano de Dorsoduro. O local produz um ou dois barcos por ano, usando apenas técnica centenárias.

"Esse trabalho já foi feito por dezenas de pessoas em diferentes oficinas ao redor da cidade", afirma o fabricante de remos e cavilhas Saverio Pastor, enquanto ele e seu funcionário Pietro cortam um pedaço de madeira de castanheira usando um serrote de dupla empunhadura.

"No passado, todos sabiam remar, agora poucos têm alguma habilidade para remos", diz Pastor, balançando a cabeça. "É uma cultura de milhares de anos que está se perdendo."

O artesanato em torno das gôndolas deve ser preservado, apesar dessa mudança de comportamento, destaca o prefeito de Veneza, Giorgio Orsoni. "A gôndola é um dos símbolos da cidade e, por isso, está claro que temos que fazer todos os esforços possíveis para preservá-la e também manter a profissão, as técnicas", acrescenta.
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