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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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bósnia vs. nigéria

Relato de uma "virgem do futebol": Como é assistir a um jogo na Arena Pantanal pela primeira vez

Relato de uma
Tudo tem uma primeira vez, mas nem todas são em grande estilo. Mesmo no chamado “país do futebol”, muitas pessoas ainda não foram a uma partida em um estádio. E para parte destes “virgens” do futebol, essa primeira vez pode ter acontecido durante um jogo internacional da Copa do Mundo no Brasil. Esse foi o meu caso.

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O futebol, em condições “normais” – leia-se: sem Copa do Mundo no Brasil – não é parte direta do meu cotidiano. Diversas pessoas ao meu redor são fãs da seleção brasileira e de jogadores de outros países. Em casa, meu pai anota a pontuação de todos os times em uma cartelinha que a Unimed distribuiu. Sempre teve alguém da minha família comentando partidas, jogadas, atacantes, dentre outras coisas. E a isso resumia-se o papel do futebol na minha vida.


(Foto: Jardel P. Arruda)

Até que a Copa do Mundo chegou à Cuiabá. E então não se tratava apenas de futebol, mas de um evento internacional que trazia junto de si milhares de pessoas do mundo todo, diferentes culturas, idéias e costumes. As cidades sedes de repente estavam repletas de atrações culturais, muitas delas também vindas de outros países. E tudo isto passou a circular em Cuiabá, a capital de médio porte no centro da América Latina. E eu estava (ainda estou) no meio disso tudo.

Meses antes do mundial, eu não queria ir em nenhum um jogo. Achava que mal daria pra sair de casa, tamanho seria o caos que se abateria sobre Cuiabá. Mas veio o primeiro jogo entre Chile e Austrália. E vendo a quantidade de pessoas cheias de vida e energia transformando um pouco da capital, mudei de idéia sobre o que significava a Copa.

Não me entenda mal, algumas questões ainda incomodam. Dou o exemplo da Arena Pantanal: Somente quatro jogos aqui? Gastaram um bilhão até agora para somente 4 partidas? E o que vai acontecer lá depois? Vai ter eventos a altura da obra ou vai ser tonar um "elefante branco"?


(Foto: Jardel P. Arruda)

Mas apesar disto tudo e do não esquecimento de que ainda há muitas questões não resolvidas na cidade, descobri que a Copa do Mundo não era mais uma delas. Na verdade, o mundial trouxe um mix de sentimentos, sendo o maior deles o: Por que eu não comprei um ingresso? A Copa do Mundo veio e vai passar, sem nunca voltar e eu não vou ter assistindo a nenhum jogo?

Sábado, 24 de junho de 2014 – Bósnia VS. Nigéria na Arena Pantanal

Quando este arrependimento de não ter comprado nenhum ingresso bateu, a Copa do Mundo já estava na metade em Cuiabá. No sábado (22), jogariam Bósnia e Nigéria e, na próxima terça-feira(24), Colômbia e Japão enfrentam-se no último jogo em Cuiabá.

Mas por sorte (mas nem tanto, porque os ingressos de R$ 60 já haviam esgotado-se), consegui comprar uma entrada de última hora para o jogo do sábado. Ao chegar atrasada – já eram 17h quando cheguei à Arena Pantanal – achei que não conseguiria entrar antes de o jogo começar.

Havia uma fila enorme em frente aos portões da Arena. As pessoas estavam com pressa e desorientadas. A fila estava tão mal formada que ninguém sabia ao certo pra onde ir. Como conseqüência, muitos furaram-na. Foi então que alguns começaram com comentários grosseiros e violentos (“Se passar na minha frente, vou socar porrada”. Daí pra pior) e análise do caráter dos brasileiros (“Se os brasileiros deixam roubar milhões, o que é alguém passando na sua frente? É muita fraqueza de caráter mesmo”). Uma das voluntárias começava a apelar para divindades, procurando ajuda para organizar aquela quantidade enrome de pessoas.

Mas ao mesmo tempo em que isso acontecia, outros grupos dançavam, cantavam e torciam para os times que estavam prestes a entrar em campo. E quando finalmente passei pelos portões, faltavam 10 minutos para as 18h, hora em que o jogo estava marcado para começar. Andando apressada pela multidão, não pude deixar de notar, como alguém da geração Harry Potter, em como tudo aquilo parecia com o Torneio Mundial de Quadribol.

Meu lugar ficava no quarto andar e, depois de subir as escadas, estava morrendo de sede. Com tanta sede que pagar dez reais em um Coca Cola não pareceu algo tão absurdo. Mas quando vi o copo comemorativo do jogo, tentei pensar nisto mais como um investimento do que como gasto desenfreado.

Entrando na Arena Pantanal


(Foto: Stéfanie Medeiros)

Depois de matar a sede e contemplar meu novo investimento ( o copo comemorativo), era hora de acelerar o passo e achar meu lugar. Encontrar a entrada certa era complicado pra quem nunca tinha nem pisado naquele estádio, mas com a ajuda de um dos voluntários, entrei na arquibancada.

E aquela visão inicial é de tirar o fôlego.

Não sei muito bem como descrever o que é entrar em um estádio lotado em um jogo de Copa do Mundo. Mas não é algo que se vê todo dia – a não ser para aqueles que acompanham seus times em todas as Copas, que talvez vejam isso de quatro em quatro anos. Mas para um “virgem do futebol”, a visão era espetacular e a energia contagiante.

Naquele sábado, havia 40.499 pessoas na Arena Pantanal, recorde de público até agora. A maioria usava a camiseta amarela da seleção brasileira, mas mostravam seu apoio aos jogadores em campo com músicas, gritos, aplausos e "olas" (sendo que um destes “olas” deu a volta no estádio quatro vezes).

Jogo televisionado VS. ao vivo

Devo dizer que é um pouco estranho assistir a um jogo de futebol sem a voz do Galvão Bueno na narração. Esta é uma daquelas coisas que presumia que simplesmente faziam parte do jogo. Mas assistir algo na televisão é completamente diferente de ver ao vivo. E o futebol não era exceção.

Na televisão, com as câmeras lentas, narrações e replays, o jogo parecia algo fantástico e emocionante o tempo todo. Sentada na arquibancada, via-se o lado humano dos jogadores: O lado que parava, pensava, analisava, gritava, caía, machucava-se. O jogo não era pura adrenalina o tempo todo, como antes eu simplesmente presumia que era.


(Foto: Jardel P. Arruda)

Sem gols, até mesmo a platéia começa a ficar desanimada. Mas toda vez que algum jogador está prestes a marcar, a platéia vibra, sentindo uma dor quase que física quando a bola não entra. E uma euforia incontrolável quando é gol.

Jogadores - e público - como estrelas da partida

Além da falta de narrador e da consequente falta de noção do que está acontecendo no caso dos “virgens do futebol”, outros detalhes chamaram a atenção. Listo algumas delas:

1. Torcer exige esforço físico. A cadeira de plástico passa a ser confortável e ficar levantando toda hora pra erguer os braços e gritar “Sou brasileiro com muito orgulho” pode ser extremamente cansativo.

2. Todos os jogadores ficam com a sombra em formato de estrela quando estão no campo, por conta da iluminação vinda de todos os lugares.

3. Às vezes você pensa que foi gol, mas na verdade era só a rede balançando. Você vai saber a diferença quando olhar pro telão ou se estiver muito perto do campo.


(Foto: Jardel P. Arruda)

4. O “lepo lepo” virou tema do intervalo da Arena Pantanal. Logo após passar o clipe de “We are one”, música oficial do mundial, a platéia começa a dançar ao som do “eu não tenho carro, não tenho teto...”

5. Você já se perguntou o que acontece com as bolas que caem na arquibancada? Então, até ontem eu não sabia o que acontecia com elas. No geral, quem a pega tira uma selfie e tem que devolver pra equipe da FIFA.

6. Assistir um jogo de futebol é interessante porque não é simplesmente uma partida, mas uma comunhão de energia das pessoas que estão assistindo e torcendo no mundo inteiro. E é por isso que vale a pena.

7. Enquanto escrevia este texto, a FIFA disponibilizou ingressos para a partida do Japão e Colômbia. Esta que vos fala conseguiu comprar um. Fique atento ao site oficial que ainda há promessas de vendas.
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