O amor não é fogo que arde sem se ver, mas se esgota mais rápido do que um jato de esperma. Ao menos no mundo dos poemas sujos e da literatura de sarjeta, do qual Charles Bukowski é nome muito conhecido.

Este tipo de poema não é para muitos. E esta última frase, acredite, não vem da arrogância literária e nem tem a intenção de colocar os “poucos” como os intelectuais e literatos. A poesia suja é para poucos porque, a partir do momento em que se mergulha nela, é difícil sair da mesma forma.

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Admirado e lido por muito tempo apenas por prostitutas e boêmios, Bukowski tem se tornado cada vez mais popular entre as classes mais altas que são, muitas vezes, conservadoras. A razão deve estar no próprio trabalho do escritor.
Com sua escrita aparentemente simples (veja, aparentemente!), Bukowski e outros sujos conseguem traduzir a sociedade com uma sinceridade clara e longe da hipocrisia. Quando se diz que o amor se esgota mais rápido do que um jato de esperma, o poeta traduz fielmente a modernidade líquida – onde nada dura.

Em um mundo onde ainda é difícil gritar os desejos e pensamentos mais subversivos, ler poesia suja pode ser uma válvula de escape. Não que Camões esteja errado ou seja menos importante ao dizer que “o amor é fogo que arde sem se ver”, mas o fato é que é mais fácil sofrer por amor do que declará-lo sujo.

No livro “O amor é um cão dos diabos”, de Bukowski, o que fica claro é a vontade do escritor de expelir todos os pensamentos perturbadores de sua alma. O sucesso deste, e de tantos outros livros, mostra o quando as pessoas têm o mesmo tipo de pensamento e como a poesia dá a elas uma nova forma de expeli-los (além das salas de psicanálise).

Para quem quer entrar neste mundo, citar apenas um poema ou um livro de Bukowski seria injusto. É necessário apreciar a obra por completo para entender a complexidade simples de seus textos. A garantia é que, ao lê-lo, todo o mundo se torna mais nublado e com cheiro de uísque e sexo. O lado bom também é este.