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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Tradição literária: Grupos de escritores e poetas são históricos e formam-se até hoje; Saiba mais

Ernest Hemingway e os amigos que o escritor eternizou posteriormente em seu primeiro romance,

Ernest Hemingway e os amigos que o escritor eternizou posteriormente em seu primeiro romance,

A formação de grupos literários é algo que, além de formar-se naturalmente, acontece há muitos anos. Algumas das ‘rodinhas’ de poetas e escritores são históricas e viraram referência, como é o caso, por exemplo, dos “The Inklings”, grupo de discussão ligado à Universidade de Oxford que, dentre seus membros, inclui J. R. R. Tolkien (“O senhor dos anéis”) e C.S. Lewis (“As crônicas de Nárnia”).

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Podemos citar também o grupo de Virgínia Woolf, o “Bloomsburry Group”, ou as rodinhas literárias de Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald na década de 20, em Paris. Estes encontros tornaram-se tão memoráveis que os cafés e restaurantes utilizam-se deste fato para atrair turistas e admiradores. No Brasil, é claro, temos vários exemplos destes grupos. A histórica Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, foi o cenário de encontro de várias figuras.

Uma destas figuras é o célebre poeta Olavo Bilac, que fundou a “Sociedade dos Homens de Letras”, em 1914. Na confeitaria, ele reunia-se com vários outros intelectuais para discutir os mais diversos assuntos. Dentre outros escritores que frequentaram a Colombo, estão Emílio de Menezes, que trocava sonetos pelos serviços da confeitaria, Lima Barreto, Machado de Assis, e mais.

Falando da contemporaneidade, é difícil identificar quando, onde e como estes grupos se formam. Mas uma olhada rápida dentro das universidades e conseguimos encontrar poetas discutindo prosa e poesia, escrevendo resenhas sobre seus trabalhos e construindo uma nova história literária para o Brasil. E Cuiabá não está fora deste ‘novo circuito’.

Grupo contemporâneo

Em fevereiro deste ano, o Olhar Conceito publicou os “Poemas selecionados (2012-2015) do poeta cuiabano Matheus Jacob Barreto. Clique AQUI para ler. Logo da publicação destes versos, o acadêmico Nelson Luís Barbosa, doutor em letras da USP, escreveu uma resenha sobre a coletânea.

“Já tive a oportunidade de expressar que na poesia de Matheus Jacob Barreto percebe-se claramente um diálogo com a mais fina tradição da poesia brasileira, (...) mas não é algum diálogo estéril que apenas retoma os mestres e os reverencia, e sim um diálogo que determinantemente se insere numa linha contínua de tempo, fazendo prosseguir esse modo de dizer e sentir a vida, as coisas, a própria insuficiência do viver e do fazer poético como um modo de compensar toda inutilidade da vida. E nisso a juventude de Matheus é um alento sem fim”, escreveu o professor no artigo “É de graciosidade que se trata aqui”. Leia na íntegra clicando AQUI.

Mas não só os professores manifestaram-se sobre a produção de Matheus. Seus conterrâneos também expressaram sua opinião sobre os poemas selecionados.

Rafael Tahan, 26 anos, estudante de letras na Universidade de São Paulo (USP) e também poeta, escreveu sobre a coletânea: “No poema “O canto máximo”, as estruturas da poesia de Jacob Barreto não negam o ofício do Poeta. Elas trazem a sutileza do jogo de ideias – no enlace com jogo de palavras – e cerzem o fino tecido que, ponto a ponto, e num tom cicio, prefigura o profundo questionamento que só emerge completamente depois que a estrofe já ficou pra trás, como um hematoma que só surge um tempo depois do trauma”. Leia a crítica completa clicando AQUI.

Já o escritor Caio Augusto Leite, 21 anos, também estudante de letras na USP, escreveu: “Ao atentarmos para estes poemas selecionados de Matheus Jacob Barreto, descobrimos um (dos muitos possíveis) tema quase comum a eles: a falta. Falta do que esteve aqui e foi embora, falta do que nunca esteve e almeja-se, a insuficiência que o ser – perplexo – constata ao tatear as paredes do real, a falta de si mesmo”. Leia a resenha na íntegra clicando AQUI.

Nova geração de escritores

Embora as resenhas expressem o conhecimento e apreço pela literatura e poesia e uma análise da obra de Matheus Jacob Barreto, elas também escondem um outro fato: A formação de um ciclo de poetas que, naturalmente, compõem o grupo literário da nova geração.


(Matheus Jacob Barreto/ Foto: Danilo Bezerra)

Esta geração, desvinculada do aspecto geográfico por conta da internet e redes sociais, constrói a nova tradição literária. Nesta matéria, vamos citar apenas um exemplo, tendo em mente que há vários outros a serem ‘descobertos’ Brasil afora. Vamos começar com aquele que iniciou em Cuiabá: Matheus Jacob Barreto.

Depois de terminar o ensino médio na capital mato-grossense, Matheus mudou-se para São Paulo para cursar letras na Universidade de São Paulo (SP). Em 2011, quando o jovem estava esperando um ônibus, conheceu Rafael Tahan. A amizade formou-se logo em seguida, sendo que Tahan, inclusive, foi quem revisou o primeiro livro de poesias de Matheus, o “Cancioneiro dos Ventos”.

Sobre esse primeiro contato sobre a poesia do amigo, Rafael disse: “Do ponto vista formal, os poemas eram muito sofisticados para um escritor tão jovem”. Os dois poetas são amigos até os dias de hoje. “A impressão que eu tive, após algum tempo sem contato com as produções mais recentes de Matheus, e ao ler certa coletânea de poemas dele, foi que o autor tinha encontrado sua dicção. Este é, sem dúvida, um fenômeno raro na vida produtiva de qualquer autor, e, por este motivo, merece ser evidenciado”, explicou Rafael sobre o motivo de ter resenhado a nova produção do amigo.

Um ano depois de Matheus ter conhecido Rafael, ele, através de outro amigo em comum (Eduardo Pereira, estudante de Grego Antigo), conheceu Caio Augusto Leite. Caio já havia lido alguns poemas de Matheus antes de ter conhecido o poeta. “As primeiras coisas que li do Matheus foram poemas esporádicos que um amigo nosso em comum me mandava. Essas leituras de poemas do Matheus me deixaram bastante impressionado por encontrar em um autor da minha idade e tão próximo das ideias que eu sempre tivera a respeito da literatura e da maneira como concebê-las”, disse Caio ao Olhar Conceito.

Os três amigos, embora estudem na mesma faculdade, nem sempre estão na mesma cidade. Rafael, Caio e Matheus possuem, cada um a seu jeito, uma forma bastante produtiva de fazer literatura. Saiba um pouco mais sobre eles:

Matheus Jacob Barreto

Matheus Jacob Barreto, 22 anos, nasceu na cidade de Cuiabá/MT. Foi um dos vencedores das competições nacionais “III Prêmio Literário Canon de Poesia 2010” e “III Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro de 2013”. Teve seus poemas vencedores publicados em antologias dos respectivos prêmios. Em outubro de 2012 participou da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Estuda na Universidade de São Paulo e mora na capital paulista. Seu terceiro livro, intitulado “É”, foi publicado pela Editora Scortecci em 2013. A obra foi lançada em Cuiabá em 2014.

Atualmente, Matheus está na Alemanha, estudando letras na universidade de Heidelberg. O poeta tem uma coluna semanal no Olhar Conceito. Clique AQUI para ver os textos.

Rafael Cristofer George Tahan Fernandes

Rafael Tahan, 26 anos, nasceu em São Paulo (SP). Ele atualmente estuda na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH, USP). Seu primeiro livro, intitulado “Diálogo”, será lançado no dia primeiro de agosto deste ano na capital paulista.

Segundo Rafael, seu interesse por literatura surgiu com outras demandas da vida. “O interesse de estudar não está muito desvinculado do produzir, embora, na prática, os caminhos sejam quase inversos”, disse. Sobre o temas, Tahan tem abordado muito o engano, a impossibilidade, a distopia e o ordinário.

Após a publicação do livro “Diálogo”, Tahan irá desenvolver outro projeto que atualmente está “na gaveta, amadurecendo”.

Caio Augusto Leite

Caio Augusto Leite, 21 anos, nasceu em São Paulo (SP). Ele atualmente estuda na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH, USP). Lançou, em 2013, o livro “Samba do Escuro”, pela editora Scortecci. A obra é uma mistura de poesia e prosa. Caio também escreve em uma página do facebook. Clique AQUI para ler.

Caio começou a escrever aos 13 anos e, segundo ele, foi uma fase importante no experimentalismo e desenvolvimento de sua poesia e prosa. “O interesse por fazer literatura veio de uma vontade de expressão que até então não tinha encontrado em outras formas, quando criança achava que ia ser pintor, mas logo descobri que não levava jeito, foi com o uso da palavra que pude começar a expressar o que sentia/pensava sobre o mundo ao meu redor e, também, sobre o mundo em meu interior”, disse ao Olhar Conceito.

Atualmente, Caio está trabalhando em sua segunda obra, com título provisório de “A hora infinita”.
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