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Sábado, 20 de abril de 2024

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Alta-'coolstura'

A Givenchy como a nova criadora de desejo do hip-hop; (Confira imagens)

Foto: Reprodução

A Givenchy como a nova criadora de desejo do hip-hop;  (Confira imagens)
Quando foi anunciado em março de 2013 que Riccardo Tisci assinaria figurinos da nova turnê de Rihanna, a reação geral pode ter sido de surpresa, mas para quem acompanha de perto os passos do diretor criativo da Givenchy, a colaboração foi apenas natural; afinal, desde que ele se juntou à grife, em 2005, o designer tem se estabelecido não apenas como nome forte da alta-costura, como também da cultura pop e de tudo que é novo, urbano, descolado. Alta-coolstura, alguém?

O segredo do sucesso de Tisci se deve ao seu dom em misturar rua e conceito para um resultado não apenas coerente, mas altamente desejável. Como bem definiu a revista “Interview” lá em 2011, quando florescia a relação mais explícita do estilista com o universo hip-hop: “Ele se tornou em pouco tempo um maestro do choque e um vidente do chique, com um toque mágico capaz de misturar o amor rebelde pelo gótico e a profundidade urbana com um senso refinado de estilo e sexualidade”.

Isso fica muito claro nos desfiles da Givenchy. Na coleção feminina Inverno 2013, apresentada em Paris em março deste ano, lá estão os moletons estampados que viraram febre há algumas temporadas, combinados a saias lápis, casacos de pele e vestidos bordados repletos de transparências. As estampas marcam presença também na coleção masculina, criada com a alta-costura em mente, em materiais inesperados como cashmere, veludo e couro. A beleza – e o tino comercial — está nisso: como uma grife tão fortemente associada ao estilo clássico de Audrey Hepburn consegue atrair uma clientela jovem e moderna, sem deixar de lado seu público já fiel.

A nova estética da Givenchy é reflexo da persona de Tisci, cujas “Audreys” vão de Mariacarla Boscono e Lea T a Marina Abramovic, Courtney Love e Antony Hegarty, líder da banda Antony and the Johnsons. Em um artigo da “Vogue” americana de março de 2012, que aborda justamente a relação de Tisci com a cultura pop, ele afirma, sem pudores: “Eu amo a arte e a música mais do que amo a moda”. Para a “Interview”, ele acrescenta: “Tenho gosto por tudo o que é americano, mas especialmente pela América do gueto. Amo o Bronx. Amo o hip-hop e o R&B”. E esse amor é recíproco.



Kanye West e Jay-z na turnê do disco Watch the Throne, com figurino elaborado por Riccardo Tiscci.

Kanye West, Jay-Z e Rihanna são os principais artistas do hip-hop que desenvolveram uma relação com Riccardo Tisci que vai além do consumo, e inclui parcerias em projetos especiais: West e Jay-Z conseguiram seus serviços como diretor de arte para o álbum “Watch the Throne”, que já falamos aqui, após reunião e jam session em que todos trocavam ideias “como uma família dando opiniões uns para os outros, compartilhando – algo que está faltando na moda”, Tisci afirmou à “Vogue”. A dupla teve ainda looks criados para sua turnê, assim como Rihanna mais recentemente. Com sua popularidade e influência (a Watch the Throne Tour foi a 9ª turnê mais lucrativa de 2012, de acordo com a Billboard), não é difícil entender como eles ajudaram a introduzir o nome da Givenchy a um público totalmente novo, transformando a marca na principal criadora de desejo do hip-hop atual.

2011 foi notavelmente o ano da virada para a Givenchy, mais especificamente a partir do desfile Inverno 2011 masculino, quando foram apresentadas as camisetas e moletons com estampa de rottweiler que viraram desejo depois que Kanye West e muitos, muitos outros artistas começaram a exibi-la. Só para se ter uma ideia da importância desse ano para a empresa, fizemos uma pesquisa rápida no site da revista “Complex”, referência entre as publicações voltadas para o estilo urbano: buscando pela tag “Givenchy”, aparecem apenas dois artigos em todo o ano de 2009; um em 2010; e 25 em 2011. Em agosto de 2012, a revista já elegia a Givenchy como a número 1 das “Marcas de Moda Mais Importantes no Hip-Hip Atual”, em uma lista que também incluía Maison Martin Margiela, Balmain, Rick Owens e Louboutin, entre outras.

Na multimarcas virtual SSense, que trabalha com uma seleção das grifes mais representativas do estilo urbano, a popularidade da tal camiseta foi bastante óbvia. Procurado pelo FFW, o site revelou que “a demanda foi tão alta que a peça esgotou em apenas alguns dias. Fizemos novos pedidos, e o item continuava esgotando instantaneamente. Depois de analisar toda a nossa gama de produtos e nossas vendas, podemos dizer que ela é um dos itens masculinos mais vendidos e a peça que mais vendeu da coleção masculina Inverno 2011 da Givenchy”. O modelo, que ganhou nova versão no Verão 2012, seguindo a estética icônica que já se provou sucesso garantido, “continuou sendo um dos itens mais vendidos na temporada seguinte”. A SSense se diz “muito empolgada em receber a nova coleção [com a estampa central sendo a de um doberman, embora o rottweiler apareça nos acessórios femininos], porque temos certeza que ela terá um grande impacto”. A procura faz sentido: embora não seja barato, é relativamente “possível” comprar uma camiseta-desejo de US$ 265 ou um suéter de US$ 960.

E se em lojas virtuais como a SSense, publicações como a “Complex” ou blogs especializados em estilo como o UpscaleHype a popularidade da grife já é notável, ela fica ainda mais óbvia em ferramentas em que o próprio usuário tem o poder de expressão. Hoje, no Instagram, há mais de 262 mil imagens identificadas com a hashtag #Givenchy. O peculiar nesse resultado, no entanto, é a forte presença masculina; aqui, eles se fazem muito mais presentes do que nas marcações envolvendo outras grifes de luxo. O mosaico do início desta matéria foi feito com algumas dessas fotos, e mostram a Givenchy como grife aspiracional e desejável para os homens. “Não é que eu tenha inventado a roda”, Tisci afirmou à “GQ” em dezembro de 2012 sobre sua habilidade em transformar cultura pop em couture e vice-versa. “É só que eu sou muito honesto com o meu estilo e com o que as pessoas querem nas ruas”. E embora seja difícil mensurar exatamente como essa habilidade está se transformando em lucro, é seguro dizer que, mal, ela com certeza não está fazendo.
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