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Sexta-feira, 17 de maio de 2024

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Uma história de luta

Na batalha pela vida há 15 anos; estudante já passou Natal e Réveillon internada

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Kimberly e o Papai Noel

Kimberly e o Papai Noel

O Papai Noel fazia a festa na sala ao lado, mas Kimberly Raiane da Silva não se empolgou muito em ir pedir um presente. Ela nem mesmo soube dizer o que pediria. Sua mãe, Ângela da Silva, disse que todos os anos pede a mesma coisa: uma casa. Mas o destinatário do pedido é Deus.


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Kimberly e Ângela enfrentam uma batalha há quinze anos. Um ano e dois meses depois de dar a luz à filha no Hospital Universitário Julio Muller, mãe e filha tiveram que voltar para começar um tratamento. A garota foi diagnosticada com banquelite operante (insuficiência crônica respiratória), e desde então passou a ter o HUJM como segunda casa. Foi ali que elas passaram muitos natais, aniversários e réveillons.

“Com um ano ela começou a ter falta de ar, pneumonia... aí a gente marcava mensalmente pra fazer exames, às vezes ficávamos mais de seis meses inteiros no hospital. Os médicos fizeram biópsia e disseram que ela tinha isso [banquelite]”, conta a mãe. Neste ano, a última vez que correram para o hospital foi em setembro. Na metade do mês de dezembro, Kimberly ainda estava internada e sem previsão de sair.

A garota diz não se lembrar muito das datas comemorativas que passou internada. Com ar sereno, sem rir nem chorar, ela apenas esboça um sorriso e deixa que a mãe conte a história. “Pra mim natal é família reunida, né? Minha família faz festa, se reúne, mas nós temos que ficar aqui”, se emociona.


Ângela da Silva (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)


A família de Ângela é de Cuiabá. Seu pai teve 14 filhos com mulheres diferentes, e após a morte de um de seus irmãos, ficaram 13. A família é grande, com muitos tios e tias, e apesar de a mãe falar que às vezes alguns parentes vêm visitar, Kimberly dispara: “Não tem mais ninguém. É só minha mãe mesmo”. A garota é filha única.

Essa realidade não é exclusiva da família Silva. Segundo chefe de unidade da ala pediátrica do HUJM, Sandra Breder Assis, na maior parte dos casos quem fica com as crianças é a mãe. Eles organizam até mesmo passeios para que essas mulheres possam sair, ir ao cinema aos parques ou até mesmo tomar um lanche, quando o estado dos filhos é muito grave e eles não podem deixar o hospital.


Sandra Breder Assis (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Todo final de ano, e também em todas as comemorações durante o ano, o hospital busca fazer comemorações para as crianças e famílias. Neste natal, a festa foi no último dia 18, e teve comidas, bebidas e papai Noel: “A gente tem uma equipe formada por pedagoga, enfermeira, assistente social e outras profissionais que organizam as festas por aqui. Todo ano também a gente faz um bazar para arrecadar fundos e temos parceiros que doam presentes, comes e bebes”, explica a chefe.

A festa de natal, no entanto, não é realizada no dia 24 porque o hospital tenta ao máximo dar alta para o maior número de pacientes poder passar a data com a família, nem que seja apenas por uma noite. Infelizmente, alguns em estado mais grave não conseguem esse agrado. “Na noite de Natal os profissionais procuram passar no quarto de todos os que ficaram, muitas vezes tem instituições religiosas que vem e fazem apresentações também”, conta Sandra. Ela explica, ainda, que o hospital nunca fecha, mas no final do ano cai a procura: “Até mesmo no atendimento cai a procura, mas ficamos abertos. Às vezes não fica ninguém internado, damos alta para todos, mas no dia de natal eles pioram e chegam aqui”.

Sandra conta, ainda, que muitas crianças internadas no HUJM são do interior. “Tem mãe que chega aqui com a criança, fica o tempo todo aqui e vai embora sem conhecer Cuiabá”, é por isso, também, que o hospital promove os passeios para paciente e familiares. “Tentamos diminuir o sofrimento tanto da criança quanto da mãe”.

Atualmente, a ala pediátrica do Hospital Julio Muller conta com 16 crianças internadas. Na noite de Natal, normalmente ficam quatro ou cinco. “Mas doença não escolhe dia, né? A ala não fecha, e já chegou vez de ter 20 crianças aqui”, conta a chefe da unidade.

Ângela e Kimberly, no último dia 18, ainda não tinham certeza se passariam o natal em casa ou no hospital. Os médicos ainda não tinham descoberto porque a barriga da adolescente estava inchada: “Eles falam que é por causa da medicação, mas ela toma esse remédio há anos, se fosse isso já teria dado antes”, lamenta a mãe.

Nenhuma das duas tem ideia de quando vão embora dali definitivamente, mas acreditam: “Tem que acreditar, se não acreditar nada é possível”, comenta Ângela. Dentre as poucas palavras que diz ao falar de si mesma, Kimberly mostra sua esperança: “Nada é eternamente”, afirma.


Kimberly (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)
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