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Quinta-feira, 16 de maio de 2024

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Natal na segunda casa: Crianças da AACC brincam enquanto mães se apegam na união

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Cauã, Bruno e Emerson

Cauã, Bruno e Emerson

Os pedidos são os mesmos de qualquer criança: um carrinho, um helicóptero de controle remoto, um barquinho, uma moto. As crianças brincam e riem sentadas na mesa do lanche, e falam que adoram estar ali. A sede a Associação dos Amigos da Criança com Câncer (AACC) em Mato Grosso é um refúgio.


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O sorriso delas tem como contraste o rosto abatido das mães. Morando ali com seus filhos há três, seis, dez e até onze meses, elas deixaram tudo para trás: casa, família, casamento, igreja. Tudo para enfrentar junto com seus filhos a luta contra o câncer.

Solange Martins de Paula é uma delas. Há onze meses ela percebeu um caroço no pescoço do filho Bruno, de nove anos. Em Juína, sua cidade natal, os médicos diagnosticaram como infecção de garganta e até toxoplasmose, “Aí eu fui consultar com um pediatra e ele já me disse que o caso era pra ser tratado em Cuiabá”.


Solange, mãe de Bruno (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Chegando aqui Bruno ficou trinta dias internado fazendo exames. A biópsia diagnosticou câncer nos dois lados do pescoço, nos ossos do peito, na barriga, no baço e nos ossos da barriga. Para continuar o tratamento, o garoto e mãe se mudaram para a AACC.

Este será o primeiro natal que Solange passa longe de seu outro filho de catorze anos. “Ele não pode vir, porque a casa só aceita que ele fique dois dias, e pagar passagem de lá pra cá por esse tempo não compensa”. Para que ele aceitasse a situação também não foi fácil: “Ele não entendia, me disse que eu estava abandonando ele pra ficar com o outro. Ele começou a dar trabalho na escola... e também não tinha mais quem olhasse ele pra mim. Ele teve que sair da escola e ir morar com o pai na fazenda”.

O pai de Bruno não veio visitá-lo nestes onze meses, e para Solange a dificuldade é ainda maior porque os parentes ‘viraram as costas’: “Parece que quando a gente mais precisa eles não ajudam. Ninguém pôde ficar com meu filho e por isso ele teve que sair da escola”, lamenta. “Mas as coisas mudaram. Depois que ele viu o irmão carequinha e eu falei pra ele que ele tinha que amar e ajudar a cuidar porque hoje ele está aqui, mas amanhã a Deus pertence, ele passou a cuidar pra caramba do irmão. Dá até banho”.


Bruno (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Na cabeça de Bruno, no entanto, o clima é mais leve: “Eu amo aqui. As pessoas vem aqui agradar a gente, tem tudo... Eu quero ficar aqui até pra sempre, até eu ter uns... vinte anos!”, fala, enquanto compete com os outros meninos sobre quem tem mais casas: “Eu tenho duas casas, aqui e a minha”. Emerson da Cruz Silva, de onze anos, retruca: “Eu tenho quatro! Aqui, o hospital, a minha e uma outra que minha mãe comprou o terreno”.


Emerson (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Emerson é de Colíder, e sua mãe, Aparecida da Cruz, desconfiou da doença depois que o garoto teve uma infecção de garganta que não passava: “Cortou a febre, mas sete dias depois a febre voltou e ele teve dor do lado esquerdo. O médico do pronto atendimento passou para a pediatria, e o pediatra já ligou pra Santa Casa pedindo uma vaga pra ele”. Chegando a Cuiabá, o menino ficou dois meses na UTI e depois foi para a AACC.

Aparecida só tem ele de filho. Em Colíder, ela mora com a mãe e é vizinha da avó. Ambas sempre passam o natal juntas, e também com a irmã de Cida e sua família. Desta vez, o natal dela será um pouco diferente: “A gente sempre passa junto, desta vez vamos ter que passar aqui, mas ta bom também, meu filho está bem melhor, e tenho esperança que vamos passar o do ano que vem juntos”.


Aparecida, mãe de Emerson  (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Quem já passou o natal dentro da instituição sabe que não é fácil. É a segunda vez que Diego Borges Mineiro e sua mãe Jarlene Cosmo Borges passam por isso. Ele ficou doente pela primeira vez em 2011, e teve que morar na AACC por oito meses. Em outubro deste ano, seus exames deram alteração novamente e ele teve que voltar. Vai ter que passar as festas aqui por prevenção.


Diego (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Os dois não reclamam. Na última festa que participaram da AACC tiveram que voltar antes do Papai Noel aparecer por causa do tratamento, mas Diego conta que prefere o ano novo: “É aniversário do meu pai e ele vai vir me visitar!”, comemora.


Jarlene, mãe de Diego  (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Todos eles passarão a noite do dia 24 dentro da instituição e longe de suas famílias. Para amenizar a tristeza, a AACC promove uma ceia para as famílias que ficam ali. A festa de natal aconteceu no último dia 13 de dezembro, para que todos pudessem participar: “A maioria deles tem alta neste período, então fazemos a festa no começo do mês”, explica Juciane Nunes Siqueira, coordenadora da Organização.

“Neste período é quando eles queriam estar com a família, estão mais fragilizados, então a gente tenta amenizar essa dor. Mas quem sofre mais são as mães do que as crianças”, explica. A AACC é uma organização não governamental que sobrevive somente de doações. Ela tem capacidade para vinte mães e vinte crianças e funciona como um abrigo para pessoas de fora que tem que vir para Cuiabá fazer tratamento contra o câncer.

Um dos doares recentes da ONG é César Fernando da Silva. Policial Militar do Fórum de Várzea Grande, ele veio à instituição pela primeira vez há quinze dias para o aniversário do irmão, e depois disse decidiu se dedicar ao local: “Meu pai é doador já há uns cinco anos, e eu comecei a participar também. Ajudei a arrumar uns computadores que estavam quebrados, consegui um outro de doação, e em uma semana de campanha consegui arrecadar vinte caixas de leite”, conta.


César e Mariana  (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

Para ele, no entanto, mais importante do que tudo isso foi conhecer Mariana Ávila, de oito anos. “Depois que eu comecei a vir pra cá vi que meus problemas não são nada. Deito minha cabeça no travesseiro e lembro-me dessas crianças, e consigo dormir em paz”. Com a garotinha no colo, ele brinca e promete continuar visitando e ajudando a AACC sempre que puder. A resposta dela está no sorriso.

Serviço

A AACC recebe doações tanto na sede quanto pela central de doações no telefone (65)3025-0800. Ela também está aberta a visitas de segunda a sexta em horário comercial e aos sábados das 8h às 16h. A sede fica na Rua do Cajú, 329, Jardim Alvorada.
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