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Silvia Catra, a esposa do Mr. Catra divide o marido com mais três mulheres e não se sente traída

TPM

Silvia Regina Alves, 35 anos, é uma mulher forte. E isso você percebe logo na primeira vez que a vê. Ela é “gênia, gata etc.”. E organiza o movimento. Comanda geral: a maquiadora que a prepara para a foto, a amiga que está por perto e outras pessoas que ligam no seu celular. Ela é do papo reto. Antes mesmo de a entrevista começar, dispara: “As mulheres ficam reclamando de homem que trai, mas depois reclamam que falta homem. Tem que aprender a dividir, galera”. Tudo é entremeado com uma adorável gargalhada, palavrões e gírias.

Quem olha de perto essa carioca sangue bom nunca vai imaginar que é casada com o MC de funk Mr. Catra (Wagner Costa) numa relação aberta (só para o homem). Ele tem no momento, além de Silvia, mais três “esposas”. Ao mesmo tempo que ela não comenta sobre as outras – porque, afinal, a mulher dele é ela e isso não se discute –, deu para as suas três cadelas pit bull o nome de ex-mulheres: Verônica, Patrícia e Renata.
Silvia recebe a reportagem da Tpm em um flat na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “Aqui é meu refúgio, venho quando preciso ficar sozinha, namorar e trabalhar” (ela administra a grife Família Sagrada Família,
que leva o nome do grupo de rap criado por Catra). Dá para entender. Afinal, ela vive em uma casa em Vargem Grande (bairro próximo à Barra da Tijuca) com nove crianças (até o fechamento desta edição o número pode ter aumentado) que vão dos 2 aos 22 anos. “Tenho cinco filhos, mas esqueço quem eu pari porque não existe diferença. Cada criança que chega é uma bênção.” E Silvia sabe muito bem que novas chegarão, “porque o negão continua na ativa”. E pensa também em adotar mais duas.

"Não me sinto traída. Traição é você conviver com uma pessoa e não saber quem é. Eu conheço o meu marido"

Traída? Eu?

A moça, criada pela mãe e entre um casal de irmãos, não tem problemas com a infidelidade aberta do marido. Na verdade, nem considera infidelidade. “Trair é viver na mentira”, dispara. “Não me sinto traída. Traição é você conviver com uma pessoa e não saber quem ela é. Eu conheço o meu marido. Ele é carinhoso? É. Ele é amável? É. Eu sou uma mulher feliz. Me sentiria traída se ficasse sabendo das coisas pelos outros. As pessoas se separam tanto hoje em dia porque não sabem verdadeiramente com quem se casaram.”

Silvia se apaixonou pela voz de Catra quando era adolescente, depois de ouvir uma fita com músicas dele, levada pela tia. “Brincava lá em casa: ‘Um dia vou casarcom esse homem’.” Os dois se conheceram num baile em Madureira. “Ele tocava em comunidade e me convidou para um show no Complexo [do Alemão, uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro]. Não tinha UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] naquela época, fiquei assustada”, conta. E lembra: “Nesse dia, ele queria safadeza e falei: ‘Se manca’. Dei uma chochada nele. Um mês depois, começamos a sair direto. Quando a mãe dele morreu [em 1999], ele ficou sem chão e fui cuidar dele. Pensei: ‘Agora vou ser mãe dele’. Ele é meu filho que mais dá trabalho, é cheio de dengo”.

Barba, cabelo, bigode

E, quando ela diz “filho” e “cuidar”, está falando sério. Ela lava pessoalmente todas as roupas do marido. Até as cuecas. Acha que esse é um dever da mulher. E que mulher é diferente de homem. Ponto. Não se fala mais nisso. As feministas mais radicais podem ficar arrepiadas com o que Silvia diz. Mas ela não está nem aí.
“Eu tenho três funcionárias, mas ninguém mexe nas roupas do meu marido. Eu lavo as roupas, as cuecas, limpo os tênis. Se não prestar para lavar a cueca do meu marido, vou prestar para quê? Gosto de ver meu homem arrumado. Faço a barba, corto o cabelo, a unha do pé e, se for o caso, corto até os pentelhos. Não vou deixar os pentelhos enormes, que falta de higiene! As minhas amigas falam: ‘Silvia, não faz isso, você vai mandar ele todo arrumadinho para as outras’. Respondo: ‘Para verem que ele é bem tratado’.” Gargalhadas gerais.

Junto com a criança Catra, um homem de 44 anos (ou um “pretinho velhinho”, segundo Silvia), as crianças foram entrando na vida da moça quando ela tinha apenas 18 anos. Ela conta com detalhes o caso de um dos meninos. Detalhes que merecem mesmo ser lembrados. “Uns 15 dias antes o Wagner me disse: ‘Filha, a gente tem que conversar. Tem uma garota aí que disse que está grávida’. Um dia a gente estava em casa, estava chovendo, e ele saiu depois de um telefonema. Em uma hora me ligou: ‘Não sai que vou levar um presente para você’ [risos]. Achei que era uma máquina de lavar roupa, porque vivia falando: ‘Não aguento mais lavar roupa na mão’. Aí ele chegou com um bebê empacotadinho na camisa, que sorriu para mim. Era uma bolinha bem pretinha, uma criança linda. Disse: ‘É seu’. Não quis nem saber quem era a mãe. Vinte dias depois fui ao juizado de menores e adotei. Ele é o xodó lá de casa”, conta.

Silvia tem esse momento como o início de tudo. Lembra que era louca para ter filhos, mas não engravidava. “As mulheres com quem ele se relacionava na rua falavam que eu era uma árvore seca, que não dava frutos, porque cuidava de vários. Isso me magoava muito. Depois que o Wagner [hoje com 13 anos] chegou, acabei engravidando.

Se ele não tivesse vindo para a minha vida, nada disso teria acontecido. Para ter o meu filho, tive que cuidar do filho de alguém. Se eu tenho os meus filhos hoje foi por causa delas. Como não vou aceitar a mãe dessas crianças?” Os amigos da família confirmam. “A Silvia é uma grande mãe, uma mulher poderosa, que passa por cima de um monte de preconceito para viver do jeito que quer e nem por isso abandona a leveza”, diz a fotógrafa Daniela Dacorso.

"Para ter o meu filho, tive que cuidar do filho de alguém. Como não vou aceitar a mãe dessas crianças?"

Não é casa, é ONG


Se você reclama (com razão) de trabalhar fora e cuidar de uma criança, imagine organizar a vida de nove – nas férias o número pode chegar a 20. “Temos ajudantes, mas eu faço tudo. Brinco que lá em casa é uma ONG.” Por “fazer tudo”, além de lavar as roupas de Catra etc., leia-se: acordar as crianças, dar café da manhã (são 50 pães por refeição e R$ 3 mil de comida por semana), organizar a merenda e buscá-las nas escolas – é o motorista que leva.

Catra é testemunha do seu esforço: “Ela é mais forte pra educar, o pai deixa fazer tudo”, solta. “Silvia é uma mulher família. Hoje mais do que nunca. Porque vive de uma forma diferente, do jeito que a vida é. Por ser mãezona, respeitadora, ela é uma mulher mais completa que as outras, entende?”

O marido nem sempre está presente. Às vezes está viajando, fazendo shows e, muitas vezes (por que não?), com outras mulheres. Fato que Silvia diz encarar “de boa”. “O Wagner não é obrigado a dormir na minha cama. Não quero que ninguém durma comigo por obrigação. Se ele tiver vontade de dormir com outra pessoa, problema dele. Se não voltou, é porque não quis. Estava com outra. Não perco o sono por causa disso e não pergunto onde ele passou a noite porque não me interessa. Se fosse importante, ele teria me falado.”

Licença para entrar

Sim, o casal Silvia e Catra tem um pacto sobre “falar sobre o que é importante”. No caso, relacionamentos mais sérios de Catra. E essas mulheres têm que pelo menos tentar se entender com Silvia. “Se percebo que ele tem algo com alguma mulher, pergunto: ‘Já falou pra ela que eu existo?’.

A mulher sabe que vai ter que se enquadrar comigo. Se não quiser, é porque não está a fim de nada. Teve uma mulher que foi até a minha casa em Vargem Grande. Falei: ‘Soube que você está falando que é mulher dele’. Perguntei: ‘Você é a mulher dele? Porque, se for, vou mandar os filhos para a sua casa e você vai ter que cuidar de tudo. Ou vai dividir as tarefas comigo’. Ela disse: ‘Nem sei o que estou fazendo aqui’.”

"O Wagner não é obrigado a dormir comigo. Se ele tiver vontade de dormir com outra pessoa, problema dele. Não perco o sono por causa disso"

Por enquanto nenhuma outra mulher ou namorada de Catra morou na mesma casa que Silvia – outra regra que ainda pode ser quebrada. “Para conviver, tenho que ter muita confiança. É o lugar dos meus filhos, a família é sagrada pra mim. Ele ter namorada fora, eu conhecê-las, normal. Eu tento ser amiga, elas que não me compreendem. Não que eu seja mais sábia, mas conheço ele melhor. Nunca aconteceu de outra mulher morar lá, mas quem sabe?”, diz.

A Silvia (gata, gênia etc.) é também conselheira de suas amigas. E tenta fazer com que as mulheres deixem de... ser descontroladas. “Você nunca teve ciúme?” “Eu tinha, mas quando era descontrolada”, diz. “Como assim?” “Não tinha a sabedoria que tenho hoje. Já dei muito barraco, daqueles que começam na boca e terminam no braço [risos]. Já fui de me atracar com mulher na rua. Gente, isso não vai adiantar. Se ele quiser, ele vai lá e fica com a mulher toda arrebentada [risos]. Não é você que vai impedir isso.”

Homem é homem, mulher é mulher

As palavras que Silvia diz agora vão causar revolta em muita feminista. Mas é o que ela pensa. É a maneira como vive. E é no que acredita. “O Catra tem várias mulheres. E se você resolvesse ter vários homens?” “Isso não existe. Acho que homem é homem e mulher é mulher. Falam que mulher tem que ter o mesmo direito de homem. Não, não tem que ter. Se tivesse, ela vinha com piroca. A gente tem que adquirir nossos próprios direitos, temos leis que nos favorecem. Para homem, ficar com várias é normal, para mulher, não. Você não cresceu aprendendo que vai pagar com a mesma moeda. Mas cresceu aprendendo que homem trai, que o seu pai trai, que seu avô, por mais perfeito que fosse, também dava as voltinhas dele. Acho que, quando a mulher ama, ela não quer saber de outro cara. Nós somos diferentes. Vamos aceitar isso!”

Silvia é assim. Fala isso ao mesmo tempo que comemora seus aniversários em puteiros. “O Wagner é dono de umas casas aí, gosto de levar minhas amigas que nunca foram.” E fala em Deus o tempo todo. Tem uma fé absurda. Ora. E acredita nos valores da família. A ideia de dar à grife de Catra o nome Família Sagrada Família foi dela. “Coloquei esse nome porque é nisso que acredito”, diz. Sim, Silvia é cheia de incoerências. Mas quem não é?
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