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Notícias / Artes visuais

OAB realiza reunião pública contra a censura das artes após obras de Gervane serem retiradas de Shopping

Da Redação - Isabela Mercuri

Após duas obras do artista plástico cuiabano Gervane de Paula serem censurada na exposição ‘Amo Cuiabá’, que foi lançada no Pantanal Shopping no último dia 29 de agosto, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) decidiu fazer uma reunião pública de manifesto contra a censura às artes e liberdade de expressão na próxima quarta-feira, 27.

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A censura aconteceu após um visitante do shopping fazer um vídeo, no início desta semana, dizendo que a obra era imprópria para crianças. “Pessoal, eu estou em uma exposição aqui no Shopping Pantanal e aí para vocês verem como o negócio a nível Brasil banalizou mesmo. Dá uma olhada no tipo de quadro que está sendo exposto aqui”, dizia o homem.
 
As obras em questão eram do artista plástico Gervane de Paula, que nasceu em Cuiabá e tem um extenso portfólio de obras e intervenções. Em 1976, entrou em contato com o Ateliê da Fundação Cultural, instalado no Palácio da Instrução, onde foi orientado por Dalva de Oliveira e Humberto Espíndola. Em toda sua carreira, já foi citado por grandes críticos de arte como Frederico Morais, Aline Figueiredo - que o acompanha desde o início de sua carreira -, Aracy Amaral, Xico Chaves, Roberto Pontual, Ivens Cuiabano Scaff, Ludmila Brandão, Ferreira Gullar, entre outros.

Gervane de Paula (Foto: Luiz Marchetti)

De acordo com a assessoria da OAB/MT, a decisão de realizar a reunião veio após a intensificação das ações de protesto, boicote e censura às manifestações artísticas. Além da obra de Gervane, na semana passada um caso parecido aconteceu em Porto Alegre, quando o Santander Cultural decidiu cancelar a exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira”, depois de protestos e boicote de clientes da instituição financeira.
 
Em Cuiabá, no ano passado, o fotógrafo Tchélo Figueiredo teve sua exposição “Cinco Elementos do Cerrado” retirada do Goiabeiras Shopping, também após reclamações. Depois da censura, as fotos foram abrigadas na Galeria Silva Freire, na OAB/MT, e também no Museu de Arte de Mato Grosso (MAMT).
 
Exposição fotográfica foi censurada no Goiabeiras em 2016 (Foto: Reprodução)

Atualmente, a Galeria Silva Freira recebe a exposição do artista plástico Amâncio Ribeiro, que em seu acervo, conta com a tela “173 Dias de Corrupção”. Amâncio conta que esta foi a primeira vez que expôs sua obra, pois durante sua execução chegou a sofrer um atentado que visou destruir a tela.

173 dias de corrupção (Foto: da Assessoria)

“É uma pressão pequena e que começou a ganhar corpo e isso é muito perigoso”, alertou Flávio Ferreira, vice-presidente da OAB e presidente da Comissão de Cultura e Responsabilidade, que realiza a reunião na próxima quarta. O encontro terá por objetivo reunir artistas, profissionais da advocacia e a comunidade em geral para discutir a intransigência que tem se repetido no cenário cultural mato-grossense.
 
“Não podemos ficar tranquilos quando se impõe censura à arte principalmente. Então, a finalidade desse encontro é definir como a sociedade pode agir para que atitudes de censura não se perpetuem num ambiente democrático tão duramente conquistado”, afirma Flávio.
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