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A cura pelos olhos: conheça as novas técnicas de terapia para tratar traumas antigos de forma rápida e profunda

Da Redação - Isabela Mercuri

Um assalto, um sequestro, um abuso, uma cirurgia ou uma perda são fatos que acontecem na vida de qualquer um, mas que podem se eternizar no cérebro, criando um trauma. A partir daí, qualquer situação pode se tornar um gatilho e trazer a sensação à tona novamente, mesmo passados anos. Em 1987, a Ph.D. estadunidense Francine Shapiro desenvolveu uma técnica psicoterapêutica chamada ‘Eye Movement Desensitization and Reprocessing’ (EMDR), baseada basicamente na movimentação dos olhos, para ajudar a reprocessar estes traumas. Hoje, a técnica está disponível em Cuiabá, junto a outras, como o brainspotting e a experiência somática – todas baseadas nos estudos fisiológicos do cérebro.

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Uma das psicólogas que utiliza a técnica é Danielle Muzzi Magalhães, terapeuta certificada em EMDR. Sua primeira formação foi com Esly Regina de Souza Carvalho, a responsável por trazer a novidade para o Brasil, há muitos anos. Danielle é também certificada em Brainspotting e em experiência somática. “É uma tendência de olhar o trauma a partir da sua fisiologia, ou a partir do cérebro. As terapias que utilizam essa metodologia de reprocessamento são muito mais eficazes que a terapia só da fala. Os resultados comprovadamente são mais rápidos e profundos”, explica.

Todas estas técnicas podem ser utilizadas pela psicóloga em algum momento durante o tratamento, que é feito não só com vítimas de grandes traumas, mas também com pacientes que sofrem de ansiedade, depressão, insônia, dificuldades para obter bons resultados em provas ou concursos, fobias, pensamentos negativos sobre si mesmo, dentre outros.

“A primeira sessão eu costumo dizer que é uma anamnese, em que eu quero entender a vida da pessoa. Eu quero entender as experiências”, explica Danielle. “A partir da segunda sessão, eu posso dizer que cada profissional tem uma forma diferente de trabalhar. Tem pessoas que vão conversar com o paciente por algumas sessões, pra depois começar a entrar na terapia de reprocessamento cerebral. Eu, a partir dessa segunda sessão, já entro nas técnicas que eu trabalho pra poder estimular o cérebro”.

Para chegar ao ponto do uso das técnicas, é necessário criar um ambiente. “A gente chega numa consulta como em qualquer outra, em que o paciente traz a queixa inicial. Vamos supor que ele traz a questão de fobia, medo de altura ou elevador. Nós vamos mapear, através de um diálogo, os pontos onde ele considera que foram muito difíceis de estar nessa situação”, explica. Quando o paciente já está ‘aquecido’, a psicóloga começa a utilizar a técnica que achar mais pertinente.

Danielle atende em Cuiabá (Foto: Arquivo Pessoal)

EMDR

Criada pela psicóloga Francine Shapiro na década de 80, a técnica consiste na dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares. “Diante de um evento traumático em que você identifica na fala, nós vamos fazer uma movimentação ocular rápida, e isso movimenta esse conteúdo traumático no seu cérebro, ajudando o seu cérebro a fazer uma ‘digestão’ desse conteúdo”, conta Danielle.

A ideia, aqui, é de ajudar o cérebro a fazer algo que, em condições normais, ele deveria fazer sozinho. “Vamos partir do princípio que o nosso cérebro, nosso sistema, tem já um funcionamento adaptativo de informação. Ou seja, é natural pro nosso organismo trabalhar os traumas, se adaptar. Mas em alguns momentos, quando os eventos são demais, quando isso acontece rápido demais, ou quando somos expostos metodicamente por um mesmo evento, isso não acontece. (...) A gente percebe, através dos sintomas que as pessoas trazem, como transtorno de ansiedade, depressão, flashbacks em que não conseguem esquecer uma cena, que esse conjunto de sintomas pode, em algum momento, ser demais no nosso cérebro, e isso trava a capacidade que ele tem de digerir os eventos. O EMDR entra como um auxílio pra que esse sistema volte a funcionar a seu favor”.

Na prática, o terapeuta coloca os dedos na frente dos olhos do paciente, e este tem que acompanhar o movimento somente com os globos oculares, enquanto pensa no que aconteceu. “Nas terapias tradicionais a gente vai só falar. Falando você está atingindo uma área do seu cérebro. Agora, quando a gente fala, mapeia a questão e movimenta os olhos, a gente entra em partes profundas do cérebro onde está a localização da informação bloqueada no sistema. Então a gente pode falar que o trauma é físico. É uma informação que ficou mal adaptada no nosso cérebro. E é através dos olhos que a gente acessa o cérebro”.



Brainspotting

A partir do mesmo princípio, outro Ph.D, David Grand, desenvolveu em 2003 o ‘Brainspotting’. “Se no EMDR nós estamos falando de movimentos oculares rápidos pra dessensibilizar um assunto no seu cérebro, como se a gente quisesse fazer o cérebro fazer digestão, o David já descobre que nesses movimentos rápidos oculares, existe um momento em que os olhos congelam em determinado ponto. E ele fala que é mais eficiente, neste momento, a gente parar e focar nesse único ponto, que é como se fosse o endereço do assunto que estamos trabalhando”, explica a psicóloga.

Segundo Danielle, esta técnica é muito utilizada com atletas. “A gente vê quando um jogador tem uma lesão, por exemplo, e é afastado. Ele tem o tempo de tratamento com a fisioterapia, e é liberado. Muitas vezes, o profissional até se condiciona novamente, mas quando ele está nas competições e precisa fazer o esforço máximo, ele trava. Muitos estudos que mostram essa ‘trava’ que dá nos jogadores acontece porque, na verdade, a lesão não tem que ser curada só no nível físico. Existe uma informação no cérebro daquela lesão. E temos que informar ao cérebro que aquela lesão cicatrizou. É como se a gente tivesse que fazer conexão entre a parte física e a parte psicológica”.

Experiência Somática

A experiência somática foi idealizada pelo terapeuta Peter Levine, baseado na observação da reação dos animais a situações extremas. O especialista chegou à conclusão que, mesmo passando por diversos perigos no dia a dia, os animais, quando conseguem se salvar, voltam à vida normalmente. Para ele, isso se dá pelo fato de os animais autorregularem seu sistema nervoso.

“O animal tem uma camada de cérebro que nós também temos. Na nossa formação, de baixo pra cima, nós temos a estrutura do cérebro animal, dos reptilianos, dos mamíferos, aí o homem desenvolve o córtex, que é a nossa parte pensante. O que o Peter Levine fala, é que o raciocínio e a inteligência bloqueiam a capacidade natural desse corpo de se autorregular. (...) Se acontece um acidente de carro, por exemplo, e uma pessoa sentar e começar a ter um tremor muito grande, vai vir alguém e dar um calmante, tentar fazer parar esse tremor. [Mas] na verdade, isso é o que o corpo poderia fazer de melhor: tremer”.

A técnica se baseia em trazer o paciente novamente para aquele momento traumático, dentro do consultório, e deixá-los sentir as emoções em sua totalidade, ensinando, assim, o cérebro a se autorregular. “Então a experiência somática, convidando a gente a sentir novamente tudo que o corpo faz, nos faz aprender a ficar com a sensação corporal, e aprendemos que, por exemplo, o pânico é uma sensação física, que se eu fico com ela, se eu acompanho a minha respiração, espero, [coloco o] pé no chão, movimento um pouquinho a cabeça, e se eu ajudo o meu corpo, com pouco tempo o pânico acaba. Falamos de sensações corporais quando a gente fala de emoções. Porque parece que é algo que é só psicológico, mas não necessariamente. Às vezes a história da pessoa não é tão importante quanto a gente mapear as sensações físicas na experiência somática”, garante a psicóloga.

As técnicas podem ser usadas com qualquer paciente, até mesmo aqueles que não sabem ou se lembram de traumas específicos. Diferente de outras vertentes da psicologia, estas terapias são relativamente breves. “A média são 15 sessões. Mas a pessoa chega aqui com uma queixa inicial, por exemplo, medo de falar em público, fobia, pânico. A gente faz a pessoa superar esse comportamento, e busca fazer o cliente aprender como é que funciona o seu organismo. Porque eu falo que isso é um comprometimento, o paciente não vai embora e está liberado. Ele vai se comprometer a continuar, aprender a se autorregular. O que eu estou ensinando as pessoas é como funciona o cérebro, e como a gente se autorregula. Então eu digo o seguinte: eu vou passar a rédea pra você. Agora, tem pessoas que ficam uma vida inteira e não saem do lugar, porque acham que alguém vai vir de fora o tempo todo e tirar delas um sintoma. A gente tem que assumir o nosso processo”, finaliza a psicóloga.

Serviço

Danielle Muzzi Magalhães
Contato: (65) 99983-4342 (Só WhatsApp)
Email: daniellemagalhaes@gmail.com
Consultório: Rua das Margaridas, 78 – Jardim Cuiabá
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