Imprimir

Notícias / Cuiabá 300 anos

Dos pés da bateria aos grandes palcos de MT: conheça a história do vocalista da Banda Terra

Da Redação - Isabela Mercuri

Edmilson Maciel nasceu em Nortelândia, mas mudou-se três anos depois para Cuiabá. Quando criança, lembra-se de passar por baixo da bateria que os irmãos tocavam, e ficar surpreendido com a grandiosidade: a música já estava em seu sangue. Hoje, 55 anos depois, ele acumula uma carreira de cantor da banda Terra, uma das mais tradicionais da cidade, é diretor artístico do grupo folclórico Flor Ribeirinha e ator. Mas é a música o fio condutor de toda sua história.



Leia também:
“Sou mais conhecida que nota de dois reais”, diz comerciante há mais de 40 anos no Santa Helena

Apesar de os irmãos mais velhos terem uma banda, foi só quando a família foi para Tangará da Serra, na adolescência, que ele começou a cantar e tocar. Ainda quando a banda se chamava ‘Natureza’, ele chegou a ser baixista antes de se tornar definitivamente o vocalista. O grupo logo passou a se chamar ‘Banda Terra’, e fazer apresentações longas como ‘banda baile’.

Conhecidos na cidade, eles foram convidados a fazer uma campanha política em Rondônia. O que era para durar três meses, demorou três anos para acabar. “Porque a gente ia pros municípios, e em cada município que a gente fazia um showmício – naquela época podia – a gente era contratado pra voltar na cidade. Foi um ciclo que foi ficando até  o dia que nós percebemos e falamos: ‘Não, nós vamos nos tornar rondonienses... nós somos mato-grossenses”. Antes de voltar para casa, a banda ainda foi para o Rio de Janeiro, onde gravou seu primeiro LP, chamado ‘América 500 anos’, e dirigido por Amauri Tangará.

De volta para Cuiabá, os músicos – três irmãos e dois amigos – levaram um susto. Por conta do tempo distante, ninguém mais os conhecia. Foram tempos penosos, sem conseguir nenhum restaurante, casa de shows ou lanchonete para tocar, até que finalmente, com a ajuda de um primo que tocava na ‘Banda de Maçã’, conseguiram uma vaga para se apresentar durante a semana no restaurante ‘Terraço’. A ideia era ganhar o couvert, mas, como a casa estava em um momento de declínio, Edimilson e seus companheiros acabavam fazendo o show em troca do jantar.

E isso não desanimou ninguém, muito pelo contrário. “Nós vibramos! Inclusive eu até conto sempre, que na primeira apresentação nós tocamos quase cinco horas, como se estivéssemos no Maracanã lotado, para apenas três casais. E nós tocamos tudo o que tínhamos, foi uma emoção! Só por ter conseguido um local pra deixar o nosso equipamento, um local que a gente sabia que ia jantar... nós estávamos felizes demais”, lembra o músico.

O entusiasmo dos integrantes encantou o público. Os três casais da primeira noite voltaram na noite seguinte, levando ainda mais pessoas. Em pouco tempo a casa já recebia 40% de sua capacidade, mesmo durante a semana. E foi aí que veio um convite para um local conceituado nacionalmente, a única casa de Mato Grosso citada no Guia Quatro Rodas: o Bataclã.

“Nós fomos por dois motivos: era [um local] muito frequentado por prefeitos de outras cidades, políticos locais, empresários que vinham a negócio e a noite iam tomar uma cerveja. E [também] porque eles iam colocar no nosso nome no outdoor. E isso era o que precisávamos: divulgação”. Foi ali que a banda explodiu. Os prefeitos do interior do estado, que assistiam aos shows no Bataclã, convidavam a Terra para tocar nos aniversários da cidade, e aos poucos eles passaram a ser conhecidos em todo o Mato Grosso.

As apresentações passaram a ser maiores, e vinham convites para inaugurações de shoppings, eventos que fechavam ruas. Um dos mais icônicos foi o ‘Rasque’Art’, realizado na Avenida Mato Grosso em 1997, que juntou 40 mil pessoas. “Na época tinha uma boate chamada Apoteose. Ali estava o palco, e tinha gente até no início da Avenida Mato Grosso, no cruzamento com a Prainha. [Estava] lotado mesmo, e não tinha nenhum ator famoso, nem artistas nacionais. Só nós”. Participaram do evento artistas como Roberto e Lucialdo, Pescuma e Bolinha, Henrique e Claudinho, Gilmar Fonseca, João Eloy, dentre outros.

“Era o momento do rasqueado! E a Banda Terra virou uma grande referência. Então Cuiabá, pra gente, pra banda Terra, é tudo. Aqui é nosso alicerce. Nós criamos nossos filhos aqui, aqui que nós compramos nossas casas, nossos carros, nossas vidas, e está tudo resumido em Cuiabá. Eu até falo sempre que eu, Edmilson, dificilmente conseguiria viver em qualquer outro local, ou viveria com dificuldade, porque aqui eu me sinto em casa”, confidencia.

A banda Terra sempre foi uma banda baile, ou seja, tinha um repertório de cerca de cinco horas, com músicas de diversos autores. Mas algumas autorais também fizeram sucesso, e a maioria era de rasqueados. Dentre elas, ‘Explode a emoção no coração da América do Sul’ e ‘Bem vindo a Cuiabá’, que falava das belezas da capital.



Além da música

Apesar de ter a Banda Terra como um de seus maiores feitos, não foi só a música a arte que fez – e faz – parte da vida de Edmilson Maciel. Ele também se dedica às artes cênicas e, hoje, é diretor artístico do grupo Flor Ribeirinha e ator profissional.

O encontro com o grupo folclórico aconteceu há quinze anos, quando ele mesmo procurou Dona Domingas para dizer que queria fazer parte da família, e ela aceitou. “Eu tive a oportunidade de levar a minha experiência da Banda Terra de uma forma mais profissional, e aprendi muito, porque eu sou muito ligado à cultura folclórica, à cultura popular”, conta.

Atualmente, Edmilson é um dos quatro diretores do grupo, e é responsável pela musicalidade. “O Flor Ribeirinha me ensinou a cultura popular, e disso eu pude aprender muita coisa. Eu conheci definitivamente a viola de cocho, o ganzá, o mocho, a função de cada um... porque que bate o pé, porque da roupa... tudo tem uma história”.

Ele esteve presente, também, nos dois grandes feitos do grupo folclórico: quando se consagrou vice-campeão em um festival na Coreia, e quando se tornou campeão mundial no festival da Turquia. Segundo Edmilson, o título veio principalmente pela diversidade cultural que eles apresentaram, já que o espetáculo ‘Mato Grosso dançando o Brasil’ trazia as representações das diferentes regiões do país: frevo, boi de Parintins, chula, vaneirão, siriri, cururu, rasqueado e samba. “Foi uma coisa impressionante, impressionou a gente. A gente se emocionou, chorava... O Flor Ribeirinha hoje, pra mim, é tão importante quanto a Banda Terra”, afirma. Enquanto ator profissional, ele apresenta o espetáculo ‘Mato Grosso em cena’, contando a história do estado. O espetáculo é levado para diversos congressos e convenções.

A Banda Terra, no entanto, continua se apresentando, com uma nova formação – só Edmilson permanece desde o início. Neste ano de comemorações, a agenda está cheia. “É um ano muito importante, porque vai haver muitas atividades, e vai abrir o mercado de trabalho pra cultura de modo geral. (...) Nós temos que celebrar da melhor forma possível esse aniversário, e o importante para nós é poder estar contido dentro do processo. Isso é um legado que a gente deixa”, finaliza.
Imprimir