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Notícias / Comportamento

Pouco mais de dois meses depois de chegar a Chapada, elefanta Ramba morre de problemas renais

da Redação - Isabela Mercuri

Dois meses e nove dias depois de chegar ao Santuário de Elefantes Brasil, em Chapada dos Guimarães, a elefanta chilena Ramba morreu na última quinta-feira (26), em decorrência de problemas renais. O anúncio foi feito no Facebook do Santuário, que agora segue com três moradoras: Rana, Maia e Lady. Guida, a primeira a chegar ao local (junto com Maia) em 2016, faleceu em junho de 2019.

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Ramba tinha 53 anos e pesava 4 toneladas. Ela foi comprada na Ásia e levada para a Argentina, onde trabalhou em diversos circos até que em 1995, chegou ao Chile para apresentações no Los Tachuelas, o circo mais famoso do país. Após denúncias de maus-tratos e posse ilegal de animais, foi confiscada pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile e proibida de fazer apresentações, apesar de o circo continuar como seu depositário.

O resgate aconteceu em 2011, após decisão judicial conseguida pela ONG chilena Ecópolis. O animal foi levado para o Parque Safári do Chile, localizado em Rancágua, mas precisou sair causa da localização do parque, atrás da Cordilheira dos Andes, onde tem invernos rigorosos. Há sete anos, começou a luta do Santuário para trazê-la para o Brasil – mesmo antes do SEB começar a funcionar.
 
Em outubro deste ano, a elefanta foi transportada em um avião cargueiro até o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), de onde percorreu 1,4 mil quilômetros por terra para chegar a Chapada dos Guimarães.
 
Leia a íntegra do texto publicado pelo Santuário no Facebook:

 
É com imenso pesar que comunicamos o falecimento de Ramba.

Nossa vovó teimosa, linda e maior que a própria vida, não tinha mais forças para lutar contra seus problemas renais.

Ainda que após a necropsia tenhamos mais detalhes, sua morte, apesar de dolorosa, não nos surpreendeu tanto. Quando Ramba foi diagnosticada com doença renal, ainda no Chile, há sete anos, tínhamos muita esperança que ela conseguisse viver por mais um ano, no mínimo. Milagrosamente esse ano transformou-se em sete, dando-lhe forças que a ajudaram a chegar ao Santuário.

Parece que os elefantes possuem um conhecimento profundo e inexplicável sobre a vida. Prometemos, repetidas vezes, que ela viria para o Santuário e ela lutou para chegar até aqui.

Aqui encontrou uma alegria gigantesca, conseguiu explorar como sempre desejara e descobriu o sentido da verdadeira amizade. Talvez fosse tudo o que ela precisava e merecia.

Ela se entregou à sua nova vida mas, no processo, parece que desistiu de lutar. Ela estava cansada.

Na manhã de quinta-feira, 26 de dezembro, Rana e Maia estavam no galpão sem Ramba. Isso acontecia sempre, Ramba gostava de explorar mais que Rana e, ocasionalmente, retornava à pastagem para um bom banho de lama pela manhã, enquanto Rana ficava próxima ao galpão antecipando o horário do café da manhã.

Saímos para encontrá-la e a descobrimos em um dos seus lugares favoritos, o recinto número 4, além do riacho. Ela parecia estar dormindo.

Sua morte deve ter sido repentina, pois a grama ao seu redor estava intocada.

Apenas um lindo elefante, deitado em um belo pasto, os olhos suavemente fechados e o rosto doce, tão calmo como costumava ser.

Como não sabíamos se Rana tinha a percepção do que acontecera, a levamos de volta para sua irmã. Sentimos que não sabia, porque quando se aproximou de Ramba arregalou seus olhos, a cheirou profundamente, repetidas vezes e depois murmurou baixinho, também, repetidamente. Cheirou e tocou todo o corpo de Ramba parecendo tentar entender o que tinha acontecido.

Após vários minutos ela ficou quietinha e permaneceu ao lado de Ramba, pastando. E ali ficou, o resto do dia ao lado da amiga.

Um pouco mais tarde, Maia também foi levada para ver Ramba e se despedir. Ela também a cheirou e a tocou, ficando por cima dela, como costumava fazer com Guida, certificando-se que sua barriga a tocava.

Isso chamou a atenção de Rana por um momento, que pareceu querer protegê-la da barriga de Maia, mas se acalmou ao ver que suas intenções eram gentis e amorosas.
A visita de Maia foi mais curta, por sua própria vontade. Como sempre deixamos que decidam o que querem e precisam, quando estava pronta, foi embora.

Embora sua visita tenha sido breve, em comparação ao tempo que passou com Guida, Maia e Rana demonstraram uma delicada reverência em honrar a amiga.

Ramba foi especial. Havia algo em sua presença que nos trazia de volta à razão e fazia com que nossos corações sorrissem, ao mesmo tempo.

Nos apaixonamos por ela, quando a conhecemos, há sete anos. Ela foi parte do motivo de seguirmos em frente com a ideia de um Santuário no Brasil. Não havia como deixá-la para trás ou esquecê-la depois de a ter conhecido. Parece que não somente os humanos se sentiram assim. Ramba teve um efeito de sustentação sobre Maia, Rana a adorava e até Lady parecia relaxar e confiar em sua presença.

Já sabíamos que cada dia de Ramba, no Santuário, seria uma dádiva, não apenas para ela, mas para todos que tiveram a oportunidade de conhecê-la. Todos foram, de alguma forma, tocados por ela.

Embora nosso desejo seja que todos os elefantes possam ter mais tempo no Santuário, somos muito agradecidos por Ramba ter, aqui, encontrado sua alegria.
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