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Notícias / Literatura

Primeira biblioteca comunitária indígena de MT é lançada pela Secretaria de Cultura

da Redação - Isabela Mercuri

A primeira biblioteca comunitária indígena de Mato Grosso será construída e instalada na comunidade de Rikbaktsa, localizada às margens do rio Juruena, na divisa dos municípios de Brasnorte e Juína (735 quilômetros a Noroeste de Cuiabá). Batizado de ‘BibliÓca’, o projeto busca preservar e valorizar a memória do povo indígena, fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade cultural, perpetuar a cultura e o conhecimento tradicional das etnias.

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A biblioteca será construída com recursos do edital da Rede de Pontos de Cultura da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel). O lançamento contou com a presença do secretário da Pasta, Allan Kardec, do adjunto de Cultura, José Paulo Traven, do prefeito Altir Peruzzo, lideranças indígenas, outras autoridades locais, servidores da Secel e da Prefeitura Municipal.

“Estamos muito felizes com esse projeto, pois será uma biblioteca pensada pelo povo indígena, com acervo sobre a cultura tradicional indígena e ribeirinha, e que terá ênfase nas histórias, na literatura e no conhecimento oral e escrito desses povos”, ressaltou o secretário.

De acordo com a assessoria, o espaço cultural será construído pelo povo Rikbaktsa, em parceria com alunos do curso de arquitetura da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e respeitando a arquitetura e modo de vida locais. “A comunidade está abraçando o projeto com muita alegria e é muito importante para nós poder mostrar nossa cultura e estimular os jovens a estudar a história do nosso povo”, destaca o cacique Jaime Rikbaktsa.

“Vai melhorar nossa vida, pois, além de mostrar a nossa cultura, a divulgação e venda dos nossos artesanatos será uma fonte de ajuda para as nossas mulheres”, completou a presidente da Associação das Mulheres Indígenas, Marciane Rikbaktsa.

“Vamos mostrar para sociedade que o povo indígena também é cultura, também é vida. Nós preservamos, cuidamos da terra, e tudo isso que fazemos com o maior cuidado e carinho é para a sociedade. Esperamos que as pessoas tenham essa compreensão ao divulgar nossa cultura e mostrar nosso espaço”, afirmou Nelson Mutzie, uma das lideranças indígenas à frente da iniciativa.

A ‘BibliÓca’ é considerada a primeira biblioteca indígena comunitária porque, segundo a coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Mato Grosso, Waldineia Almeida, não será um ‘depósito de livros’, como existe em outros lugares.

A biblioteca atenderá a requisitos de classificação de bibliotecas públicas, que devem ser espaços culturais que ofereçam serviços de utilidade pública, contribuam para o fortalecimento da cultura local e, acima de tudo, sejam reconhecidos pela população como um ambiente de difusão de conhecimento e vivências culturais.

Além disso, haverá um acervo bilíngue, com obras escritas em línguas indígenas, e estará integrada ao modo de vida do povo, com a comunidade produzindo informação e realizando atividades culturais no espaço.

No local, serão comercializados artesanatos produzidos nas comunidades locais. O Departamento Municipal de Cultura de Juína auxiliará na composição de acervo e na organização do espaço.

Os rikbaktsa são conhecidos como ‘Orelhas de Pau’ ou ‘Canoeiros’, e o nome da etnia significa ‘os seres humanos’. Atualmente, os Rikbaktsa são bilíngües, tendo incorporado também o português. Vivem em terras localizadas às margens do rio Juruena, no Noroeste de Mato Grosso, dividido em cerca de 30 aldeias dentro dos limites de suas fronteiras, como estratégia de vigilância e uso dos recursos naturais.

A BiblioÓca será instalada na Aldeia Primavera, onde a comunidade vive da extração sustentável da castanha. Eles também plantam arroz, milho e mandioca em suas terras. (Os depoimentos de lideranças indígenas e prefeito de Juína foram retirados de vídeo institucional divulgado pela Prefeitura de Juína).
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