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Notícias / Comportamento

Mídia local e público só valorizam artistas e influenciadores de MT quando ganham destaque nacional, avalia criadora de conteúdo

Da Redação - José Lucas Salvani

Mercado de Cuiabá. 2019. Um homem pega um aparelho de som e sintoniza em uma rádio local. Quando consegue, ele aumenta o som para que todos os clientes possam ouvir. É sua filha, Milena Santos, que está concedendo uma entrevista sobre o seu trabalho na internet. Essa foi a primeira vez que Milena sentiu que os pais finalmente estavam acreditando em seu trabalho, o que ela não consegue enxergar sendo feito pela própria mídia local e parte do público. Para ela, só existe apoio quando um mato-grossense desponta no eixo Rio-São Paulo.

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“As pessoas e a mídia não valorizam antes. Eles só começam a valorizar no momento em que o pessoal de fora, do Rio de Janeiro e São Paulo, reconhece. Estou aqui. A mídia de Cuiabá está ao meu lado, mas eu tenho que fazer sucesso primeiro em São Paulo, aparecer em alguma coisa nacional, para o pessoal perceber: ‘olha, a Milena ali’. Eu sei que isso não é só comigo”, afirma ao Olhar Conceito.

Aos 22 anos, Milena coleciona mais de 380 mil seguidores no Twitter, enquanto no Instagram o número é menor, mas ainda expressivo, pouco mais de 30 mil. Ela se tornou um dos principais assuntos na última semana quando foi descoberta como uma das “responsáveis” pelo que é cringe (comportamentos que causam vergonha alheia) ou não, mas Milena vai muito além de uma mera viralização nas redes sociais.

Milena também é podcaster. A alagoana radicada em Mato Grosso roteiriza e apresenta o “bom dia, estou morrendo” (escrito em minúsculo mesmo), um podcast com um humor bem peculiar, que mistura notícias verdadeiras e falsas para mostrar ao ouvinte o quão bizarra é a situação atual do brasileiro em meio a pandemia do novo coronavírus e um governo envolto em polêmicas. Os nomes dos episódios são convidativos, aliás - é impossível não querer ouvir “é o último programa do ano e eu ainda estou viva”.

O podcast foi lançado em 2020, logo nos primeiros meses da pandemia, e ela confessa que talvez o nome de alguns episódios não seriam os mesmos caso fossem lançados com o cenário atual, com mais de meio milhão de brasileiros mortos por covid-19. Ela sabe da responsabilidade que carrega em sua fala, mesmo com as ironias e tiradas sarcásticas no podcast, tanto que todos os episódios possuem um aviso logo nos primeiros segundos, alertando o ouvinte que “bom dia, estou morrendo” não tem qualquer compromisso com a verdade e que pode causar gatilhos emocionais.

Além do “bom dia”, Milena possui também o “Dá Pra Fazer”, podcast em parceria com Marina Figueiredo. “Nós entrevistávamos mulheres de várias áreas, que trabalhassem com absolutamente qualquer coisa, para mostrar que as mulheres podem fazer qualquer coisa. Era um podcast feito por mulheres entrevistando mulheres, mostrando o mercado de trabalho para inspirar todas as meninas”. “Dá Pra Fazer” está em hiatus, sem previsão de retorno.

Milena está na internet, em especial o Twitter, onde faz mais sucesso, desde 2014, ano em que a capital mato-grossense foi um dos palcos da Copa do Mundo. Ela entrou como qualquer usuário no Twitter, para reclamar e falar sobre seu dia, mas sem qualquer pretensão de alcançar sucesso - tanto que trabalhou como maquiadora uma época, uma ocupação totalmente diferente, visto que ela não conseguia enxergar no começo que a internet poderia se tornar um trabalho.

Mesmo fazendo mais sucesso no Twitter, Milena só foi perceber que tinha uma voz que estava sendo ouvida no Instagram, quando fez vídeos de uma reforma feita por ela mesma, ainda em 2019. “Percebi que estava incentivando outras mulheres a fazerem o mesmo. Recebi mensagens como ‘Milena, cansei de pedir para o meu marido. Pintei a sala e deu tudo certo’. Eu pensava: ‘nossa, ajudei essa senhora’”.

O momento de virada na vida de Milena é bem recente, logo na primeira metade de 2020. Ela percebeu que seu trabalho na internet e seus trabalhos enquanto maquiadora - também dando uma força aos pais no mercado - começaram a entrar em conflito. Os horários passaram a se chocar, então ela resolveu focar na internet porque este era o caminho que ela queria seguir.

Apesar de saber que o eixo Rio-São Paulo seria mais benéfico para conseguir alavancar sua carreira como criadora de conteúdo e podcaster, ela nunca cogitou mudar-se porque acredita conseguir fazer seu trabalho aqui em Cuiabá, inclusive com marcas nacionais. Às vezes, ela perde alguns eventos, mas com a pandemia do novo coronavírus ela explica que não está sendo tão afetada. 

Siga Milena no Twitter e Instagram. Ouça “bom dia, estou morrendo”.
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