Cuiabano que viralizou com dança nas ruas de Cuiabá decidiu ser drag queen após conhecer Pabllo Vittar
Da Redação - José Lucas Salvani
Ao passar pela Avenida Tenente Coronel Duarte, duas pessoas, que estão no canteiro onde iria passar o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), chamam a atenção de um motorista, que saca o celular do bolso e resolve filmá-los. Uma dessas pessoas é a drag queen Dan Close, de 23 anos, que está gravando um vídeo para a música “Atenção”, parceria de Pedro Sampaio e Luisa Sonza. O vídeo dos bastidores da gravação para na página Perrengue Mato Grosso, no Instagram, e dias depois mais de 17 mil pessoas estão curtindo o trabalho de uma drag queen na capital do estado do agronegócio.
“Foi um momento muito importante e épico para mim. É uma coisa que eu já queria e estava esperando há muito tempo. Ter essa oportunidade de mostrar meu trabalho e arte para as pessoas. E o Vovô, o Perrengue Mato Grosso, me deu essa oportunidade maravilhosa”, aproveita Dan para agradecer em entrevista ao Olhar Conceito.
Dan Close, ou simplesmente Daniel, começou a se apaixonar pela arte drag em 2015 e tem uma “culpada”: Pabllo Vittar. Enquanto a drag queen mais seguida nas principais redes sociais do mundo começava a colher os frutos de “Open Bar”, versão de “Lean On”, do Major Lazer, Danilo se apaixonava por esta arte e a artista se tornava sua ídolo. Em 2017, inclusive, ele chegou a subir no palco de Pabllo, no único show realizado em Cuiabá, na Casa Rio.
Pabllo e Dan dançaram juntos ao som de “Open Bar”, trocaram energias e elogios. O contato com Pabllo foi essencial para que Dan decidisse que também gostaria de se tornar uma drag queen, mas o trabalho só foi colocado em prática no ano seguinte. Naquela mesma época, ela já performava nas ruas da capital e em Várzea Grande, município vizinho, como forma de liberdade de expressão e mostrar quem verdadeiramente é, independente de orientação sexual, identidade de gênero, cor e religião.
Do momento em que Dan Close surgiu até a publicação desta matéria, Danilo sempre gravou nas ruas de Cuiabá e colocou sua cara a tapa. No começo, ele saía de casa com o pensamento de que poderia não retornar vivo, ou inteiro, como ele mesmo descreve. Esse medo se perdeu parcialmente ao longo do tempo, mas o principal problema enfrentado são os assédios constantes enquanto grava os vídeos em pontos movimentados na capital mato-grossense.
“O medo de apanhar, levar uma facada ou tiro ainda continua. É diário. [Sinto medo] toda vez que vou sair assim na rua, ainda mais com todo esse reconhecimento. Com as pessoas me reconhecendo na rua, eu tenho uma certa insegurança e medo. Porque são mais pessoas acompanhando, mas é sobre isso, é sobre não ouvir seus medos, ir lá e fazer”, explica.
Esse medo diário já fez com que ele fizesse uma pausa nos trabalhos. O medo, aliás, invadia sua própria casa, visto que sua mãe só foi descobrir que o filho trabalhava como drag queen no mês passado, justamente no Mês Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Dan sempre foi visto como uma “ovelha negra”, sendo a única bicha preta afeminada da família, e agora pode encontrar suporte dentro de sua própria casa. A mãe dá dicas e conselhos ao filho, auxiliando até mesmo em gravações.
“Me dá dicas e conselhos. Para mim, está sendo mais que tudo porque até o ano passado eu trabalhava com muita insegurança, tanto na rua quanto em casa. Agora até o medo na rua diminuiu porque o apoio da mãe é essencial”, confessa ao Olhar Conceito.
Formado em Fotografia, Dan faz parte do trio The Chanel's, junto de Lupita Amorim e Pedro Scarlet. O trio foi criado em 2016, quando as integrantes ainda cursavam o Ensino Médio, o trio apostou na união das diferenças para construir não só performances de dança, como também redes de apoio. "A nossa juventude foi e está sendo vivida a partir dessa experiência que a gente tem enquanto grupo", conta Lupita.
Referenciando a marca de alta-costura francesa Chanel, o trio já se apresentou em eventos, shows e utilizam as redes sociais para divulgar performances de dança criadas pelas integrantes. Buscando romper estigmas que atravessam a rotina da população negra e LGBT+, as integrantes procuram difundir o reconhecimento de seus espaços enquanto, nas palavras de Pedro Scarlett, “bixas, travestis, pretas e afeminadas”.