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Incêndio na Cinemateca é um 'genocídio da memória cinematográfica', diz pesquisador da UFMT

Da Redação - José Lucas Salvani e Marcos Salese

A tarde da última quinta-feira (29) ficou marcada na história do cinema brasileiro. O galpão da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, foi tomado por chamas, causando a destruição de 4 toneladas de documentos, equipamentos que eram relíquias para um futuro museu e parte do acervo de Glauber Rocha. Para o historiador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), José Amílcar Bertolini, o incêndio é um genocídio cultural e intelectual.

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“Graças a deus, não morreu ninguém, mas ainda vejo a perda desse montante de documentos, da forma que foi uma tragédia anunciada”, diz o pesquisador ao Olhar Conceito. O Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP), nove dias antes do incêndio, alertou o governo federal sobre a possibilidade de incêndio, principalmente em relação aos filmes de nitrato.

Imagens divulgadas pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo, nesta sexta-feira (30) (via CNN), mostram desde rolos de filmes completamente destruídos, assim como parte dos documentos. “Me parece, do ponto de vista de um historiador, que a queima desses documentos é um genonício na memória social do país, e da memória cinematográfica”, ressalta José Bertolini. 

O cineasta mato-grossense Bruno Bini enxerga que há um movimento claro de enfraquecer o sistema de produção cultural no Brasil. Bini cita a gestão da Associação Brasileira de Cinema (Ancine), que para ele não tem conseguido atuar e tornando cada vez mais lento os processos. Para o diretor, as pessoas capacitadas para os cargos de manutenção de cultura no Brasil aparentam não ter conhecimento para tal.

“Ontem à noite, o sentimento geral da comunidade de audiovisual do Brasil inteiro era de muita tristeza e revolta porque esse abandono que estava sendo aplicado a Cinemateca que é um órgão fundamental da história do cinema do Brasil já vinha sendo construído”, afirma Bini. Em 2016, um galpão da Cinemateca já havia pegado fogo, destruindo cerca de 500 obras e mil rolos de filmes da década de 1940.

O ano de 2020 foi caótico para a instituição cultural. Em fevereiro, houve o alagamento do mesmo galpão incendiado na última quinta-feira. Entre julho e agosto, funcionários ficaram sem salários e posteriormente foram demitidos após o governo federal assumir a gestão

Também em julho, o MPF-SP entrou com uma ação na Justiça contra a União por conta do abandono. Posteriormente, em maio de 2021, a Procuradoria suspendeu o processo após o governo federal se comprometer a mostrar ações em até 45 dias. O prazo venceu no início de julho, semanas antes do incêndio da última quinta-feira.

“O incêndio de ontem acabou se tornando um resultado, uma tragédia antecipada, uma tragédia que infelizmente tinha muito medo de acontecer, menos aparentemente o governo federal”, finaliza o cineasta ao Olhar Conceito.
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