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Notícias / Artes visuais

Além de artista plástico renomado, Adir Sodré era um amigo leal e pai

Da Redação - José Lucas Salvani

Década de 1980. Maurim Rodrigues tinha acabado de se mudar para Cuiabá. Trabalhando no centro da capital mato-grossense, ele tinha o costume de andar pela Praça da República. Em uma dessas caminhadas, ele avistou um homem pintando em pleno ar livre, acompanhado de um aparelho de som, um clássico micro system. Esse homem era Adir Sodré, que mais tarde se tornaria um de seus grandes amigos.

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A amizade entre os dois foi duradoura. “A coisa que mais marcou é o seu poder de amizade. O Adir era muito sincero com suas amizades e eu tive o prazer de ser amigo dele. O artista Adir é muito grande. Não cabe em palavras. É inexplicável”, conta Maurim Rodrigues, de 61 anos, em entrevista ao Olhar Conceito.



Sempre que ia até a casa de Adir, Maurim nunca voltava de mãos vazias porque o artista sempre o presenteava com “mimos” - qualquer que fosse, sempre de coração. No dia 10 de agosto de 2020, porém, Maurim voltou para casa com a tristeza de perder um amigo cuja amizade atravessou décadas.

Aos 58 anos, Adir Sodré faleceu no final da tarde daquele dia, após sofrer um infarto. Relatos da época apontam que Adir teria passado mal duas vezes antes de falecer. Na primeira vez, pessoas que estavam próximas o ajudaram, mas na segunda não conseguiu ter amparo. Maurim, que havia combinado de ir até a casa de Adir, viu o amigo ainda no chão ao chegar no local.



Maurim não gosta de relembrar deste dia, mas sim das boas memórias que Adir deixou. “Nós íamos para a casa dele, ele começava a pintar e colocava uma música alta. Ele gostava muito. Tinha um microfone que ele usava para cantar. Pegava o microfone e acompanhava a música, como se fosse um karaokê”, relembra.

Comadre de Adir, Alba Medeiros o considera como um irmão. Adir não era apenas um amigo, mas uma pessoa com quem poderia aprender sempre, principalmente nos aspectos culturais. Com Sodré, Alba “aprendia em uma hora de conversa o que levaria um ano”, brinca em entrevista ao Olhar Conceito
 
"Ele era muito intenso em tudo que fazia"

Alba também conhece Adir desde a década de 1980. Entre as histórias vividas com o artista plástico, teve uma vez que ele ajudou Alba em uma mudança com uma Brasília de cor cinza, o primeiro veículo que teve. Houve também uma vez que Alba viu Adir chegar de São Paulo, capital, com inúmeras peças de roupas para seu filho. Esses pequenos gestos demonstravam o afeto que o artista plástico tinha por Alba. Era família.
 
“Eu lembro da energia, alegria e intensidade. Ele era muito intenso em tudo que fazia. Não era uma pessoa que passava despercebido. Onde ele chegava, chamava todas as atenções”, pontua Alba. Não só ele, como também suas obras tem o mesmo efeito nas pessoas, tanto que já passaram por inúmeros lugares, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Tóquio, Pittsburgh e Nova York.



Adir é natural de Rondonópolis (a 218 km de Cuiabá) e mudou-se para a capital mato-grossense ainda aos 15 anos. O artista plástico, em 1977, passou a frequentar o Atelier Livre da Fundação Cultural de Mato Grosso, onde foi orientado por Humberto Espíndola (1943) e Dalva (1935). Nos dois anos seguintes, integrou com Gervane de Paula (1962) e outros artistas, um grupo que procurava renovar a arte mato-grossense.

Na década em que conheceu Alba e Maurim, Adir já havia participado de algumas exposições coletivas em Cuiabá, Curitiba e São Paulo, mas foi em 1983 que teve uma exposição individual no Rio de Janeiro. De acordo com o site Escritório da Arte, o artista fez uma performance com a cantora alemã Nina Hagen, na Galeria Multi Art, de Goiânia (Goiás), em 1985. Já em 1988 e 1990, expôs suas obras em Tóquio.

“Era meu melhor amigo”

Além de amigo e grande artista plástico, Adir também é pai de Nina Sodré. “Era meu melhor amigo”, conta em entrevista ao Olhar Conceito. Nina lembra de Adir como uma pessoa única, alegre, acolhedora e que fazia todos ao seu redor felizes. A arte era sua vida.

“Ele dedicou sua vida à arte. Desde de criança ele pinta. Ele dedicou completamente a vida dele à pintura. A gente vai começar a fazer agora uma organização das artes dele, mas nunca será possível fotografar todas as obras dele. Não tem como descobrir onde ele vendeu todas, de tanto que ele pintou. Era incansável. Ele pintava 24 horas. Era a vida dele”.
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