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Notícias / Artes Cênicas

Diabo monta igreja, mas é traído por seus fiéis em "A Nova Ordem das Coisas"

Raquel Mützenberg - Especial para o Olhar Conceito

A Nova Ordem das Coisas encenada nesta quarta-feira (8) pelo Palco Giratório é um espetáculo baseado no conto A Igreja do Diabo, de Machado de Assis. Nesse conto, o Diabo, cansado do seu reinado casual e adventício, resolve fundar sua própria Igreja onde as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras que, segundo ele, eram as naturais e legítimas. O Diabo ganha muitos adeptos, mas, no final, descobre que seus fiéis passam a infringir suas leis para cometer bons atos.

Diretor coloca sua própria história em palco e transforma espetáculo em documentário

Sozinho em cena, o ator Alexandre Dantas dá voz aos diversos personagens do conto, e ao próprio autor, utilizando-se de todos os artifícios da linguagem narrativa.

“Eu sou o diabo!” – Afirma o ator nos primeiros minutos do espetáculo, trabalhando o texto de Machado de Assis em uma organicidade quase real com o cenário. Muito simples – característica destacada pela plateia durante o bate-papo depois da apresentação – o cenário trazia uma grande carta em rolo que tomava conta do palco inteiro, pendurada entre as grades de iluminação. Bem sugestivo.

A paixão que o ator Alexandre Dantas tem pelo texto de Machado de Assis é gritante em sua atuação, favorecida pela atualidade do texto. O ator apela provocando diversas vezes a plateia, que respondeu muito participativa, principalmente às que satirizavam práticas de diversas religiões. Bem a cara do diabo.

Apesar da aceitação do público com esse tipo de ironia, os integrantes da companhia Falácia explicam que o primeiro nome do espetáculo teve que ser alterado. À época da estreia, a peça era vendida com o mesmo nome do conto de Machado: “A Igreja do Diabo”, o que gerava receio principalmente do público escolar.

O trabalho da Cia Falácia é essencialmente a interpretação, que sempre recai em bordões da comédia. O ator também utiliza músicas em vários momentos da peça, com repertório que inclui Tom Zé e Raul Seixas, interpretadas algumas vezes em playback com coreografias que apelam para um humor estilo “Zorra Total”.
Sem incentivos financeiros, o ator Alexandre Dantas e a diretora Claudia Ventura fizeram toda a produção. Apenas algumas questões como a iluminação foram elaboradas por profissionais amigos que, segundo Dantas, não se importaram em fazer de graça pois ganhariam dinheiro com outras coisas.

Apesar disso, Dantas questiona a iniciativa do Sesc Mato Grosso em estabelecer o valor dos ingressos do Palco Giratório 2013 a um litro de leite. Para ele, isso atrapalha a formação de plateia quando for realizado um espetáculo que cobra a entrada em dinheiro, mesmo se for um custo baixo.

A plateia concordou com a posição do ator e muitas pessoas opinaram sobre o fomento a cultura, levantando questionamentos em relação à arte e seu papel e presença na sociedade. Dantas completa a discussão afirmando que a arte é elitista, é pra pouca gente e que quem faz teatro é porque teve um mínimo apoio e condição oferecidos pela família. Ele ressalva que viver de teatro nem sempre é viver do teatro que se quer fazer.

Esta é a sexta vez que os integrantes da Cia participam do projeto Sesc Palco Giratório, que elogia e parabeniza o Sesc pela iniciativa de interiorizar a arte no Brasil. Para quem acompanha o projeto em Cuiabá, hoje tem Cia Falácia com o espetáculo "Amor confesso", às 20h. Te vejo lá?

* Raquel é atriz e jornalista e não perde um espetáculo deste Palco Giratório por nada. Para nossa alegria, divide suas impressões com os leitores do Olhar Conceito. Veja mais críticas no blog Três Movimentos

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