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Salvador comemora Dia da África com shows no Pelourinho

Terra

 Neste sábado (25), comemora-se o Dia Internacional da África. A data, instituída em 1972 pela ONU para lembrar a luta dos povos do continente por sua independência e emancipação, será celebrada em diversos pontos do País. Em Salvador, cidade de população predominantemente negra, sexta (24) e sábado serão dias repletos de atividades. Entre os eventos programados, está a celebração no Pelourinho com shows de artistas locais e internacionais, promovidos pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), em parceria com UNEB, UFBA e UFRB.

A festa contará com figuras cativas do cenário cultural de Salvador, como Guiguio, ex- integrante do Ilê Ayiê, e o afoxé Filhas de Gandhy, e com atrações do Guiné Bissau, como as bandas Nós Kuió Bwé e Socakuduro Bidinte, e o músico Patchi de Rima.

Segundo a SecultBA, a programação do Dia da África integra um conjunto de ações desenvolvidas anualmente pela instituição para fomentar e celebrar a cultura negra e africana.

Em entrevista ao Terra, Fábio Nascimento, historiador baiano pós-graduado em História Social do Negro no Brasil, comentou sobre a importância da data e o empenho da população negra de Salvador em promover eventos ligados a questões raciais. Confira o bate-papo na íntegra:

Terra - Datas como Dia do Índio, Dia da Mulher, entre outras, costumam gerar grandes polêmicas. Como fica o Dia da África nesse contexto? A existência da data comemorativa é positiva? Que tipos de benefícios e malefícios pode trazer?

Fábio Nascimento - Não vejo possibilidade de haver algum malefício. Todos os povos do mundo possuem em seus calendários datas comemorativas e de celebração, na qual fatos marcantes são relembrados. Como vivemos em uma sociedade que comporta diversos povos e diversas identidades, e essa sociedade se pretende democrática, é natural que se busque contemplar todos os grupos que a compõem. Essa data relembra o momento histórico em que os países africanos estavam se libertando de décadas de colonialismo europeu. Suas lideranças se reuníram em Adis Abeba, capital da Etiópia, em 1963, para fundar a União dos Estados Africanos (OUA), que hoje é conhecida como União Africana, reunindo chefes de Estados de todos os países africanos. É, então, uma data que deve ser, sim, observada e celebrada em um país onde mais da metade da população é afrodescendente.

Terra - A comemoração no Pelourinho é válida como celebração da africanidade e como forma de chamar atenção para questões importantes nesse âmbito, ou é pouco significante comparada aos debates promovidos na Semana da África, por exemplo?

Fábio Nascimento - A Semana da África e eventos relacionados estão todos inseridos no contexto de celebração da fundação da OUA, e é válida como marco de uma política internacional africana, que busca dialogar, justamente, com os problemas enfrentados pelos jovens Estados Africanos, mas também pela população de descendência africana em todo o mundo. É uma data instituída pela ONU em 1972, por isso ela é celebrada em todo o mundo. Naturalmente, a maior parte das atividades realizadas nessa semana em todo o mundo está ligada a como enfrentar os desafios da atualidade e do futuro postos para o povo africano.

Terra - Como você avalia o desempenho da prefeitura e de outras autoridades locais no sentido de promover eventos que reforcem a presença da África na Bahia, a identidade cultural e luta contra a discriminação?

Fábio Nascimento - O povo negro de Salvador está profundamente empenhado em realizar esses eventos e a maior parte deles parte de iniciativas de grupos não ligados ao Estado. Infelizmente, não percebo uma preocupação das esferas estadual e municipal do poder público em atuar no sentido de fortalecer essas iniciativas, e nem outras. Em se tratando unicamente do campo cultural, me preocupa a pretensão de um Estado que quer ser produtor cultural, em lugar de ser apoiador de produtores culturais.

Terra - Passada uma década, já é possível observar transformações decorrentes da lei que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas?

Fábio Nascimento
- Sim, muitas transformações já podem ser observadas, e o simples fato de uma demanda reivindicada pela comunidade negra organizada, desde os anos 1940, ter alcançado o âmbito de Lei Federal, já é uma vitória bastante significativa. No entanto, existe ainda um grande vazio, no que diz respeito a políticas públicas voltadas para a educação, relacionadas à efetivação da Lei 10.639. Mais uma vez, uma boa parte das transformações observáveis nesse período se dá mais por efeito de iniciativas de educadores comprometidos com essa transformação, do que devido ao investimento real nesse campo. Falta formação de professores, falta estrutura básica para o processo pedagógico (e isso é um quadro geral), falta material pedagógico, falta um debate ampliado sobre os currículos escolares, falta muita coisa, enquanto sobra em dedicação para alguns educadores que se desdobram para empreender a prática do que está previsto no corpo da Lei. A disseminação da Semana da África e o debate a respeito da fundação da OUA e o que isso implicou para o processo de independência das nações africanas e para os descendentes de africanos nas Diásporas seriam um exemplo interessante de projeto para ser apoiado pelos poderes públicos.

Serviço
Sexta-feira (24)
Dão e a Caravana Black, Nós Kuió Bwé e Socakuduro Bidinte
Largo Pedro Archanjo, a partir das 19h

Sábado (25)
Desfile de ‘Noivas Africanas’
Largo Tereza Batista, às 19h

Afro Bankoma, Carla Lis, Matheus Aleluia, Matildes e a Patchi de Rima
Largo Tereza Batista, a partir das 19h

Afoxé Filhas de Gandhy
Ruas e Largos do Pelourinho, a partir das 20h30

Graça Onassilê e Guiguio
Largo Pedro Archanjo, 21h

Dionorina
Largo Quincas Berro d’Água, às 21h
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