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Uma noite para sentir: Setembro Freire homenageia o artista Wlademir Dias-Pino

Da Redação - Naiara Leonor

HOMEN-RONDON...geografia selvática de aromas[...] RONDON-SINFONIA: É floresta demais o nativo si-be-mol ligeiro[...] RONDON E GLÓRIA: campos de Mimoso[...] RONDON NA BOCA DO POVO: homem-tutano[...] RONDON E PÁTRIA: herança atávica da raça.

As palavras acima não são minhas, são de um dos maiores poetas que a literatura brasileira e mato-grossense tiveram o privilégio de ter como representante, e que nós, hoje, temos a honra de poder compartilhar e referenciar seu legado: Silva Freire.

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Uma noite memorável é como a abertura da quarta edição do “Setembro Freire” pode ser descrita. O governador Pedro Taques colocou de forma simples o que era aquele encontro: “um momento para sentir”.

Do preto na tela, ao branco do palco, do texto ritmado feito máquina de escrever e batida do coração. Da vida dada ao poema/processo, que de intenso ganhou alma. A performance “Rondon: Silêncio Orgânico de Flores” incomodou, trouxe dúvida e curiosidade.

Pedro Taques disse que “tocou sem encostar”. O nosso performático Adir Sodré um dia me disse que “arte é tudo aquilo que te toca”. E não é isso que Silva Freire queria com sua poesia? Trazendo o Intensivismo ele queria incomodar, com Wlademir Dias-Pino ele trouxe a vanguarda a Cuiabá e inundou a cidade com uma nova forma de fazer e consumir arte.

Na edição deste ano do “Setembro Freire”, a sincronicidade perfeita de três personalidades importantes para Mato Grosso: Rondon, Silva Freire e Wlademir Dias-Pino. Poemas de Freire que referenciam Rondon, poemas estes que com Dias-Pino transformaram a literatura mato-grossense.

Uma edição de homenagem a Dias-Pino, “um dos maiores poetas brasileiros, vivo”, bem dito por Eduardo Mahon, presidente da Academia Mato-grossense de Letras. Leila Freire mesmo disse: “estava com saudades Wlademir, vem chegando, essa casa sempre foi sua”.

Lembrando tempos do professor Silva Freire, o Secretário da Casa Civil, Paulo Taques, falou da honra que teve de conhecê-lo e de poder estar nesta homenagem a Dias-Pino. “Fui da última turma que Silva Freire deu aula. Há uns 30 anos, tive a honra e o privilégio de ouvir debaixo do cajueiro, dois homens conversando: Freire e Wlademir. Na ocasião, me certifiquei de fechar bem a boca e abrir bem os ouvidos, e hoje vejo que fiz a escolha certa”.

A noite também foi um momento marcante para o Palácio Paiaguás, que pela primeira vez recebeu um evento cultural. O secretário de estado de Cultura, Lazer e Esportes, Leandro Carvalho, falou desse marco para a cultura e também sobre a importância do investimento do Estado na área.

“É extraordinário que um evento como esse esteja sendo realizado no Palácio Paiaguás. É extraordinário que Pedro Taques abra as portas do Palácio para artistas, produtores e intelectuais. Saber que Mato Grosso tem artistas de alto nível, com produção de vanguarda é importante. Também é importante que tenhamos nossas tradições preservadas. É fundamental que os artistas tenham espaço para a arte experimental, provocativa, vanguardista, espaço para o erro. Não podemos deixar que a lógica do mercado limite o investimento na área. Se hoje já é difícil que o artista tenha um espaço para criação artística, imaginem na época de Silva Freire e Dias-Pino!”, declarou Leandro Carvalho.

Na ocasião também foi lançado o livro “Literatura, vanguardas e identidades: nas brenhas do regionalismo, de Mário Cezar Silva Leite. Segundo livro individual de Mário, a obra vem propor uma análise do encontro da cultura, da literatura e da história mato-grossense, por meio de Dias-Pino e Silva Freire, em suas atuações na segunda metade do século XX, no estado.



“Já vinha pesquisando a identidade cuiabana, tentando entender essa cuiabania no inicío do século XX. Quando alcancei os anos 1950 descobri Wlademir e Silva Freire em uma postura de enfrentamento com a arte antecessora. Propunham uma arte experimental, queriam desenvolver a identidade pela experimentação. Duas personalidades que anteciparam o concretismo em Cuiabá em 1940, quando o movimento só foi lançado no restante do Brasil no fim dos anos 1950/60”.



Depois de tudo, vi um Wlademir emocionado e confuso com toda aquela atenção. “A vanguarda sempre foi meio cheia de espinhos. Estou meio tonto com toda essa atenção, não estou acostumado. Sou meio arredio e não sei lidar com o público, mas quero te mostrar as minhas obras, preciso mostrar ao invés de falar”, convidou Wlademir.

Uma fala de quem vive o movimento que criou, que vive a arte concretista. Quem quiser aceitar o convite de Wlademir e conferir sua exposição no Museu de Arte e Cultura Popular (MACP), na UFMT, a abertura será na próxima terça-feira (08), às 20h. Depois disso ela fica a disposição do público de 09 de setembro a 31 de outubro, das 07h30 as 17h30.

Para saber a programação completa do “Setembro Freire 2015”, acesse o site AQUI ou a página da Casa Silva Freire no facebook AQUI.
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