Na inauguração da galeria Silva Freire, reeducandos reencontram famílias e recebem certificados
Da Redação - Isabela Mercuri
Aconteceu na noite da última terça-feira (22) a inauguração da Galeria Silva Freire, na sede da OAB/MT, com obras oriundas do projeto ‘Liberdade Consentida’, que ofereceu oficinas de artes aos reeducandos do Centro de Ressocialização do Carumbé durante três semanas.
Os reeducandos foram liberados para assistir ao evento, e tiveram a oportunidade de rever parentes e amigos que foram prestigiar suas obras. O projeto foi idealizado em 1985 por Benedito Sant’Ana da Silva Freire, então presidente da OAB, e foi retomado neste ano durante o Circuito Cultural Silva Freire.
Foram ministrados cursos de desenho, pintura e grafitte por André Gorayeb, Babu Seteoito e Hugo Alberto. André, que começou a dar cursos em setembro no Sesc, disse que foi a primeira vez que trabalhou com reeducandos: “A única diferença era a dificuldade pra entrar lá, de resto é a mesma coisa. A aceitação foi ótima e a gente conseguiu ver a evolução clara deles nas três semanas”, conta. “O resultado foi ótimo, a gente tentou incentivá-los a fazer obras autorais, porque eles faziam muitas cópias”.
Reeducandos e equipe da Liberdade Consentida (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)
Winkler Teles, diretor do centro de ressocialização, explicou que a iniciativa é importante para ocupar o tempo dos que estão reclusos: “Trabalhar e estudar é importante para tirá-los do ócio e para que eles aprendam uma função”. Além disso, o diretor explica que cada um deles vai receber uma carta de elogio, um certificado e haverá remissão de pena “A cada três dias de trabalho, um a menos de pena”, explica.
Para Marcos Paulo, reeducando que já trabalhava com arte antes das oficinas “é importante aprender e se dedicar pra viver disso, e quando sair ter uma profissão”, afirmou em entrevista ao Olhar Conceito. “Essa é minha paixão, eu quero viver disso quando sair, e dar uma boa vida para minha esposa”. Marcos aprendeu o ofício dentro do Centro de Ressocialização com Eurico, que na época também estava recluso, e atualmente trabalha com arte e ensinar outros reeducandos.
Obra de Marcos Paulo (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)
No evento de inauguração foi apresentado, também, um documentário produzido por Sérvulo Neuberger e Giulia Medeiros, feito durante o projeto e com ajuda dos alunos na oficina de Cinema e Vídeo. Estavam presentes autoridades como o Chefe da Casa Civil Paulo Taques, o presidente da OAB/MT Maurício Aude, o Secretário de Justiça e Direitos Humanos Mário Dorilêo e, representando a família Freire, Murilo Silva Freire.
Para Murilo, é inédita a forma como o governo de Mato Grosso trata a cultura e a traz para dentro dos prédios institucionais, como fez com o Palácio Paiaguás. Ele agradeceu também ao presidente da OAB por abrir as porta para uma galeria com o nome ‘Silva Freire’ e disse estar grato por saber que o trabalho de Silva Freire não foi em vão.
Para Babu 78, grafiteiro que também ministrou aulas, a importância era outra: “Acreditar no grafite e na arte como oportunidade e ver o quanto ela é importante”, pontuou. Edimilson Siqueira, um dos recuperandos, concordava: “Essa foi uma grande oportunidade e um começo para outras que teremos lá dentro. E assim podemos mostrar às autoridades que basta acreditar em nós que conseguimos”.