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Quinta-feira, 05 de setembro de 2024

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Da infância à vida adulta: comerciante que perdeu tudo viu Shopping Popular nascer enquanto acompanhava os pais

Foto: Arquivo pessoal

Da infância à vida adulta: comerciante que perdeu tudo viu Shopping Popular nascer enquanto acompanhava os pais
Nas fotos de infância, Euripedes Freire Alves, de 33 anos, aparece caminhando ou sorrindo enquanto faz pose no beco atrás do Ganha Tempo, no Centro de Cuiabá, lugar que faz parte das origens do Shopping Popular. Euripedes, conhecido como “Euripinho”, cresceu em meio aos produtos, brinquedos e rádios, que faziam sucesso na época e eram vendidos pelos pais. Para ele, foi natural seguir a mesma profissão que já está na terceira geração da família. 


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“A minha família estava no Shopping Popular desde o começo, na verdade, meus pais vieram da época que era na rua, no beco atrás do Ganha Tempo. Eles brincam comigo até hoje, porque eu ficava lá correndo atrás do boleiro que vendia salgado e suco. Nossa história começou desde lá. Meus pais vendiam brinquedos e rádios, que eram muito populares na época. O sustento da família veio sempre desse trabalho. Lá é muito de família mesmo, de acolhimento, todos estão sempre juntos... Foi nessa vontade e nesse espírito de uma grande família que crescemos unidos, buscando melhoria para o geral”

Enquanto o centro de compras era criado e passava por transformações até chegar, Euripedes também crescia. Com 16 anos, ele começou a trabalhar no box dos pais e, quando se tornou adulto, abriu o próprio comércio, onde vendia aparelhos de celular, eletrônicos e prestava assistência para esses tipos de produtos. 

Na segunda-feira (15), o Shopping Popular foi completamente destruído após um incêndio que começou durante a madrugada. Ao Olhar Conceito, Euripedes conta que estava dormindo quando recebeu a ligação de um amigo que também tinha um box no local. 

“Fiquei sabendo do incêndio por volta de 3h30, um amigo de lá ligou falando que tinha ficado sabendo que estava pegando fogo. Acordei assustado, porque não tenho costume de receber ligação naquele horário, ele falou que estava correndo para lá e eu fui também. No primeiro momento, o que a gente pensava era de tentar salvar alguma coisa, não só o meu, mas de quem fosse possível, qualquer coisa estaria valendo”. 

Ao ver de perto a proporção das chamas que queimavam a mercadoria de mais de 600 comerciantes, Euripedes entendeu que não havia mais nada a ser feito. Diferente de quando ele e outros do Shopping Popular perderam mercadorias em duas enchentes ou alagamentos, dessa vez eles haviam perdido, também, a possibilidade de continuar trabalhando. 


Quando camelôs ainda trabalhavam no Centro de Cuiabá, Euripedes já acompanhava os pais que vendiam brinquedos. (Foto: Arquivo) 

“Quando cheguei lá, só orei a Deus e agradeci por tudo que ele me deu. Se ele tirou, que seja feita a vontade dele, porque não tinha mais o que fazer, o fogo já tinha se alastrado, tinha umas partes que não estavam pegando fogo ainda, mas não tinha como entrar, era muito arriscado desmoronar. Uma coisa que aprendi: 'vão-se os anéis, ficam os dedos'. É um baque muito grande. Você dorme com tudo e acorda sem nada, nem mesmo o local para trabalhar”. 

“Perdas já tivemos várias, já perdemos mercadoria na enchente, já acordamos de madrugada para ir lá porque estava alagado para recuperar algumas coisas, mas no amanhecer do dia limpamos tudo e voltamos a trabalhar. Dessa vez não, foi diferente, não tenho espaço e nem mercadoria. Você acorda pensando: o que eu vou fazer?”, continua o comerciante. 

Euripedes ainda não contabilizou o prejuízo que teve no incêndio, diz que evitar fazer o cálculo, já que agora ele e a esposa precisam focar na reconstrução do que perderam, seja para conseguir comprar mercadoria ou esperando uma decisão de para onde os comerciantes serão realocados. 

“Não consegui tirar nada, nem contabilizei, porque se for pensar... Você vai chorar, ficar nervoso, tenho que pensar em reconstruir. Vários colegas do Shopping Popular passaram por dificuldades nesses anos todos, a gente se reunia para ajudar, dar uma mão e todo mundo ajudava da maneira que podia, tinham outras pessoas para ajudar. Hoje não, você olha para o lado e o colega está igual eu ou até pior”. 

Momento de reconstrução 

Com ajuda de familiares e da “vaquinha” criada pela prima dele em seu perfil no Instagram, Euripedes conseguiu dinheiro para comprar alguma mercadoria e conseguir recomeçar. Enquanto estiver sem um box, o plano é trabalhar pelas redes sociais, oferecendo serviços de assistência técnica e a venda de produtos eletrônicos. 

“Minha prima quando ficou sabendo de toda situação, ela se comoveu e saiu na minha frente, tomou iniciativa, dou glória a Deus pela vida dela e pela minha família inteira que sempre me apoiou. Todos se sentiram prejudicados com essa situação, mas continuamos unidos e fortes. Com essa ajuda da vaquinha e de alguns familiares que me ajudaram muito, conseguimos um dinheiro para comprar umas mercadorias e vamos começar a trabalhar online. Faço assistência também, perdi todo meu maquinário”. 

Shopping Popular passou por reformas para modernização e ganharia nova estrutura com sete andares de estacionamento, além de salas de cinema. (Foto: Arquivo) 

“A partir de hoje vamos começar a publicar a mercadoria que conseguimos para ir voltando, começar a pegar serviços também. Vamos voltar quando for para voltar. É um momento difícil, porque são muitas perdas, mas colocamos nas mãos de Deus, que seja feita a vontade dele e vamos continuar na luta”, diz. 

Sobre as notícias de que o Shopping Popular não tinha seguro e estava com o caixa vazio, o comerciante afirma que, no momento, nada do que for dito vai fazê-lo recuperar tudo que perdeu. 

“Cada um com sua opinião. Eu posso achar que errou, mas que diferença que isso vai fazer para mim agora? Já perdi tudo, já foi. Eu não tinha seguro da minha loja, algo que hoje posso olhar com outros olhos, ou seja, errar todo mundo erra, somos humanos. Essa resposta, nesse momento, sobre quem está certo ou errado, não vai fazer muita diferença. Importante é buscar o sustento de casa, honrar os compromissos, porque a gente tinha compromisso em cima do que ganhamos, todo mundo trabalha assim, seja ganhando muito ou pouco”. 

Assim como ele acompanhava os pais na rotina de trabalho, os filhos de Euripedes, de 12 e sete anos, também faziam parte do dia a dia no Shopping Popular, onde costumavam passar momentos com o pai. Além disso, a história do centro de compras e do casamento do comerciante são entrelaçadas. 

Familiares de Euripedes também dependiam financeiramente do Shopping Popular. A avó dele, apesar de não trabalhar mais diretamente no local por conta da idade e problemas de saúde, tinha um box de acessórios para pesca. O pai, um tio e dois primos do comerciante, trabalhavam diariamente no centro de compras. 

“Lá eu cresci, conheci minha mulher, sou casado hoje, ela é de lá... Nos conhecemos em uma festa e, no outro dia, descobrimos que a gente trabalhava no mesmo lugar. Começamos a namorar, casamos, hoje temos dois filhos”.
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