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Terça-feira, 10 de setembro de 2024

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Amigas há mais de 20 anos fazem rock autoral e persistem na cena cuiabana: ‘se não tem espaço, vamos criar’

Foto: Reprodução

Amigas há mais de 20 anos fazem rock autoral e persistem na cena cuiabana: ‘se não tem espaço, vamos criar’
Amigas desde a adolescência, Sara Castillo e Ariana Campos encontram força na amizade de mais de duas décadas para continuar persistindo na cena cuiabana de rock autoral feita por mulheres ocupando palcos com os shows da banda Khaali. Sara lembra que, há 20 anos, quando elas ainda adolescentes ligavam os instrumentos para mais uma apresentação, eram o único grupo feminino de rock. Como a realidade segue a mesma em 2024, elas decidiram criar o próprio espaço. 


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“Hoje a cena em Cuiabá é muito parecida com a cena que eu e Ari vimos há 20 anos, ela não mudou muito coisa, não mudou mesmo. Tocamos recentemente no Festival do Mato e éramos a única banda com frente feminista, há 20 anos, a Lazy Moon também era”, conta a vocalista da banda Khaali, que acaba de lançar o primeiro EP, chamado "Choices". 

Lazy Moon foi a primeira banda em que as amigas dividiram composições e palcos mato-grossenses, como o do Festival Calango, além de terem circulado por outros estados brasileiros em eventos de rock. Sara explica que, na época, a Lazy Moon tinha uma proposta revolucionária de unir cinco meninas adolescentes que faziam som autoral e gravaram dois EPs. 

“A gente lembra que tinha sim mulheres no rock, mas elas tocavam com outros homens. Então, a Lazy Moon veio nos anos 2000 com uma proposta muito revolucionária porque era uma banda de cinco meninas adolescentes fazendo um som autoral e muito contemporâneo ao que estava sendo tocado por aí. As pessoas falavam que era um indie rock e indie pop, acho que a gente dialogava bastante com o que estava acontecendo por aí. Por isso Lazy Moon naquele momento ganhou bastante visibilidade”. 

Na Lazy Moon, Sara era vocalista, enquanto Ariana ficava na guitarra, assim como atualmente na banda Khaali. Com o passar dos anos, as amigas se afastaram por circunstâncias comuns da vida como trabalho e estudo. Anos depois, elas se reencontraram em Cuiabá e voltaram a ligar os amplificadores juntas. 

“A Khali surgiu, justamente, por conta desse reencontro meu e da Ari, minha amiga de composição, idealização e música. A música faz muito sentido para nós e para nossa amizade, não que ela se resume só a isso, mas a música é o espírito que embalou esse nosso reencontro. Então, nós duas idealizamos a Khali e persistimos com ela mesmo depois de tantas formações”. 

“Pretendemos persistir porque é algo que faz sentido para nós, é algo que lá atrás moldou nossa personalidade, faz parte das nossas identidades, que acreditamos que identidade é algo fluido, vivemos experiências que a todo momento estão acrescentando”, continua. 

Atualmente, a banda também é composta por Pablo Martinez, na guitarra, João Silva, no baixo, e Rafael Arruda, na bateria. “A Khali demorou um pouco para chegar na formação que temos hoje, que tem fluído muito bem e que tem executado seu som muito bem, acredito que tudo isso foi fruto de amadurecimento e de como a gente se portar na cena de rock alternativo em Cuiabá”. 
 

Criando espaço por conta própria 

Durante a experiência como mulheres na cena de rock, as amigas entenderam que, por serem uma banda independente e de frente feminista, teriam que fazer mais do que tocar e cantar. As duas são responsáveis pelas composições, produções e execuções, inclusive dos eventos para movimentar o rock cuiabano.
 
Sara não nega que, para mulheres, “tudo é mais difícil”, e não é raro que ela e Ariana sejam descredibilizadas. “As pessoas vão, sim, duvidar do seu trabalho, vão questionar se você sabe tocar, vão questionar se você entende o que está fazendo… Não digo que isso só vem dos homens, pela nossa própria experiência de banda, essa lógica também é compartilhada por muitas mulheres”. 

Nesses momentos, as amigas se unem ainda mais para conseguirem resistir e mostrar a música que fazem. Sara explica que a Khaali é uma banda que se aventura na produção cultural, na tentativa de criar novas portas para a cena autoral de rock em Cuiabá. As duas criaram o “Faça Você Mesmo”, evento que vai para a terceira edição. 

“A gente percebe que talvez por sermos duas mulheres, relativamente caras novas na cena contemporânea e que têm muita personalidade, firme e forte, porque assim precisamos ser, percebemos que não era tocar e esperar que as pessoas nos convidassem para tocar. Se as pessoas não abrem as portas, a gente vai chegar chutando essa porta ou vamos construir uma casa, com uma porta, para que ali a gente seja bem aceita e convide os que querem estar com a gente”. 

A ideia é de que, no futuro, o Faça Você Mesmo se torne um festival de música. Assim como as adolescentes que encararam palcos pelo Brasil movidas pelo desejo de fazer rock, Sara e Ariana não se intimidam com falta de representatividade ou preconceitos por serem mulheres na música.

“Eu e Ari não somos muito de ficar lamentando, somos mais da atividade, de fazer… ‘Ah, não tem espaço?’ Não tem, mas diria que não tem espaço para geral. A gente não é de ficar choramingando, a gente é de ir lá e fazer o nosso, então a gente grava o nosso som, lançamos nosso som, fazemos o evento, convidamos quem quer colar, fazemos acontecer. Temos muito orgulho de falar que somos uma banda 100% independente. Quem sabe nessa nossa insistência de criar espaço, as pessoas enxerguem que é possível fazer”. 

“Hoje em dia, talvez por já termos passado por diversas formações, passamos por duas só de mulheres, entendemos que não é um som de mulher. É som feito, produzido, idealizado, executado, financiado e alimentado por mulheres, a gente não simplesmente toca e canta, a gente faz todo o corre”, continua. 

Para além das dificuldades de ser mulher no rock ou da cena independente que requer mais investimentos do que apresenta lucros, reforça Sara, as amigas têm vivido um momento empolgante com a banda Khaali. Cheia de felicidade, a vocalista explica que, do palco, elas têm visto cada vez mais pessoas se identificando com as composições e fortalecendo o trabalho árduo que fazem. 

“É um momento muito legal ver que tem um público cantando e pulando, que curte de fato nossa música. Isso para a gente é demais, porque estamos ali dividindo nossa intimidade, nossa criatividade, que é uma coisa muito subjetiva. Se isso toca a subjetividade do outro, cara, olha que potência. A gente espera que com o passar dos meses e dos anos, isso só cresça”.

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