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Domingo, 28 de abril de 2024

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Coluna cinestesia: Os devaneios rubro azuis de Amianto

Arquivo Pessoal

Era uma vez Amianto. Mesmo não usando essas palavras para iniciar sua história, Doce Amianto (2013) é narrado como um conto de fadas, porém, um conto de fadas sombrio e, por isso, sarcástico.

A produção é do coletivo Alumbramento, de Fortaleza-CE. O roteiro, baseado num poema de Uirá dos Reis, quem também dirige ao lado de Guto Parente, conta sobre as desilusões e, consequentes, ilusões de Amianto (Deynne Augusto), uma mulher de inocência infantil. Ela é visitada e confortada pela fantasmagórica Blanche (Uirá dos Reis), fada madrinha bizarra com sua barba cheia. Deynne e Uirá são homens que interpretam mulheres.

Elementos interessantes do cinema de Keneth Anger, David Lynch e Jonh Waters podem ser vistos na construção dos personagens, na arte, na fotografia e na trilha sonora. O elemento bizarro, comum nestes diretores e, mais ainda, no trash, não se deixa ausentar em nenhum instante dando validade à linguagem solta.

A dicotomia gritante entre as cores vermelho e azul evidenciam, semioticamente, o estado de espírito da doce Amianto, sempre a beira do abismo, entre o fim e o recomeço. É como se o personagem suportasse um anjinho conselheiro ao ombro direito e um nefasto demoninho provocador ao ombro esquerdo. Mas a linguagem de Doce Amianto é muito mais dada à experimentação do que a narração: a liberdade de criação não se deixa subjugar em nenhum instante aos trâmites didáticos da narrativa. Muito mais que um cinema gay, Doce Amianto entrega sinceridade, apesar do sarcasmo. Como ser honesto sem ser sarcástico ao contar um conto de fadas?

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