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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Thriller sobre psicopatia e relacionamento abusivo: "No Escuro, de Elizabeth Haynes

Osmar Cabral Jr.

No Escuro, de Elizabeth Haynes, é aquele tipo de livro que faz você perder o fôlego várias vezes. Comprei por acaso e não me arrependi nem por um segundo. A capa me chamou a atenção e estava muito barato, pesquisei sobre ele, vi muitos comentários elogiosos e achei que precisava de um para chamar de meu.

Você pode até estranhar o tipo de leitura no início, porque a narrativa se desenvolve de maneira paralela, com o passado e o presente coexistindo, se desenrolando juntos. Capítulos de cada um dos tempos são alternados, mas não na forma de flashback. É um tanto estranho, pois sabemos o que aconteceu no “final” da sessão de passado porque temos o presente nos dizendo o que houve, mas sem os detalhes sórdidos, que vão sendo expostos de maneira crua e sem meias palavras com o passar das páginas.



No Escuro é um thriller policial. Nele conhecemos Cathy e Catherine. Elas são a mesma pessoa, mas em fases diferentes da vida. Catherine é jovem, alegre, inconsequente, sociável e do tipo que leva a sério a expressão “Girls just wanna have fun”. Ela começa um relacionamento com Lee, um homem que na frente de todos é o namorado perfeito, mas que no privado é abusivo, violento, psicopata e muito cruel. Depois que ele foi preso por agressão a ela, Catherine vira Cathy, que fugiu do interior da Inglaterra, onde moravam, e foi para Londres. Com traumas muito sérios, TOC em altíssimo grau e medo até da própria sombra, Cathy se isola do mundo e vive pelos seus rituais de conferir trancas, janelas e verificar dezenas de vezes por medo de Lee voltar a procurá-la.

Mesmo vivendo nesse seu mundo isolado, Cathy conhece o novo vizinho, Stuart, um psicologo que tenta ajudá-la a por a vida de volta nos trilhos. Mas Lee retorna para rondar a vida de Cathy e a mexer com o seu já frágil psicológico. Ou é apenas a sua imaginação? Stuart e outras pessoas vão acreditar nela?

A autora mostra uma maturidade literária como se ela já tivesse escrito mil romances policiais (O que, acreditem, não é fácil de escrever), mas, por incrível que pareça, é a primeira obra dela. Todas as pontas foram amarradas e o leitor fica muito satisfeito porque nada, nenhum detalhe, fica em aberto. Elizabeth Haynes manipula os sentimentos do leitor do mesmo jeito que Lee manipula os de Catherine. Várias vezes eu me peguei sem ar ou encolhida na poltrona quando a protagonista relatava os abusos em primeira pessoa.

É interessante como a história ficou tão crível, tão real. É um retrato assustador de problemas mentais e de relacionamentos abusivos. Em vários momentos eu me peguei pensando em: O que eu faria no seu lugar? É impossível não se solidarizar com Cathy/Catherine.

Leia preparado para lidar com passagens pesadas, mas não tanto a ponto de mexer muito com os leitores mais sensíveis. Por vezes, não é um livro agradável de dias ensolarados, é denso.

Recomendo muito.

*A escritora e jornalista Marcela Machado, conhecida por todos como “Teca”, é leitora ávida e apaixonada por livros. Escreve no blog “Casos, Acasos e Livros” e é autora de “I Love New York”, publicado pela editora Novo Século. Teca dá dicas de livros no Olhar Conceito todas as terças. Email de contato: tecamachado@gmail.com


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