Maria Gadú, cantora e compositora, mostrou que tem um belo fã clube cuiabano em seu show "Guelã", na sexta-feira (4), no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros. E aqueles que não a conheciam, ou, talvez, não curtissem tanto a artista, também não devem ter se decepcionado.

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Não saberia dizer ao certo se entre as quase 700 pessoas na plateia, a maior parte conhecia, ou não, o trabalho da artista. O certo é que os aplausos foram calorosos e não faltou empatia. E a apresentação rendeu, ainda, quase 1,5 tonelada de alimentos não perecíveis, que serão distribuídos à instituições filantrópicas pela Sala da Mulher, o setor da Assembleia Legislativa que atua nas ações sociais.

A moça cantou bonito, inspirada e muito afinada, com sua voz de contralto inconfundível e acompanhada com por seus músicos: Lancaster Pinto (baixo), Felipe Roseno (bateria) e Federico Puppi (violoncelo). E Gadú mandando bem com seu violão, além de mostrar intimidade com a percussão.

Em matéria de shows nacionais que já passaram pelo Teatro Zulmira, não é equivocado arriscar a opinião de que este foi um dos melhores. A apresentação, é justo frisar, foi enriquecida pelo trabalho da iluminação. Uma luz muito bem desenhada, destacando os artistas, os diferentes momentos do show e o caráter emocional que deles emanava.

Não era pra menos, em hipóetese alguma. O show é objeto da turnê "Guelã", que divulga o terceiro trabalho solo da artista, lançado no ano passado. E ela aterrissou em Cuiabá após uma viagem internacional onde esteve promovendo o disco. Ou seja: Gadú, Lancaster, Felipe e Federico estão "tinindo", como se diz. Entrosadíssimos. Há uma alquimia coletiva nesse quarteto.

Com tão notável performance dos artistas, o que se evidencia são as intenções musicais muito bem definidas e mostradas. A resolução sonora de "Guelã" revela uma cantora e compositora com intenso potencial, mas um potencial que já é realidade. Gadú dá conta de escolher e interpretar seu repertório, passando pela autoralidade própria e valorizando novos compositores que precisam e merecem visibilidade.

Essa postura revela uma artista que, além de ter talento, é corajosa. Uma pessoa especial que faz a fila da notável música brasileira andar, explorando coisas novas. Ora ora, Maria Gadú, que não está na estrada há tanto tempo assim (começou a despontar em 2008), já goza de prestígio junto a alguns medalhões da música brasileira. Um deles, aliás...

Milton Nascimento

Nascido no Rio de Janeiro, mas projetado para o mundo da música ainda muito jovem, em Minas Gerais, Milton Nascimento é um artista setentão, apontado - justiça seja feita - como monstro sagrado da música brasileira. Goza de reconhecimento internacional e, não que tenha roubado a cena no show de Gadú aqui em Cuiabá. Ele, simplesmente estava lá!!!

"É um prazer recebê-lo aqui...". Diante da frase, um discreto sorriso como resposta. A notícia bombástica de que Milton estaria em Cuiabá, para assistir ao show de Gadú e conversar com ela (eles são amigos), causou um frisson em todo mundo que estava envolvido com a produção de "Guelã".

Estar frente a frente com o maior artista brasileiro que já passou pelo Teatro Zulmira foi uma situação que exigia essa obviedade protocolar.

Se ele ia ou não subir ao palco, talvez cantar com Gadú... um grande mistério. A informação era a de que ele chegaria por volta das 20h30, e que se sentaria numa das poltronas bem na frente da plateia. E alguns minutos antes disso, ele chegou ao Teatro Zulmira.

Milton vai direto para o camarim de Maria Gadú, que ainda nem havia chegado ao teatro. Não quer entrevistas e nem fotos. O Teatro Zulmira deve ser entendido, também, como um templo sagrado para os artistas daqui e de acolá. É de bom tom, portanto, acatar a vontade dessas personalidades que visitam o local.

Repercussão

O artista não subiu ao palco para cantar com Gadú, mas permitiu fotografias ao final do show da amiga.

“Sair de Juiz de Fora e viajar até Cuiabá pra ver o show de uma amiga é porque não pode ser qualquer amiga... É Maria Gadú... Salve Mato Grosso”. Foi o registro de Milton em seu facebook, sobre sua travessia por Cuiabá, onde esteve com o seu filho, Augusto.

“Cantar com um ídolo na plateia e mais que responsabilidade”, enfatizou Maria Gadú. Ela agradeceu a presença dele e lembrou que, certa vez, cantando em uma apresentação, viu-o entre o público presente. Ficou nervosa e emocionada. Agradeceu ao carinho cuiabano e a presença de todos.