O bruxismo é um hábito diurno ou noturno de apertar ou ranger os dentes, e que está associado a danos em estruturas dentárias, músculos e articulações envolvidos na mastigação. Uma terapia muito utilizada no tratamento do distúrbio é o uso da placa oclusal estabilizadora com função miorrelaxante, uma maneira eficaz para abordar as causas e problemas relacionados ao bruxismo.
Leia também:
Vale a pena colocar aparelho depois dos 30 anos?
O bruxismo é um hábito muscular rítmico de apertamento e/ou ranger dos dentes, sem nenhuma função útil aparente para o nosso organismo (parafuncionalidade). Responsável por danos severos aos dentes – como fraturas e desgastes, aos músculos e articulações temporo-mandibulares (ATM), o distúrbio é comum até mesmo em crianças. E quando associado ao estado emocional de estresse, pode deixar sequelas permanentes como estalidos e travamento de fechamento da mandíbula. Em outras palavras, um problema.
O uso de placas oclusais estabilizadoras ou miorrelaxantes, popularmente conhecida como placa para bruxismo, é, até agora, a forma mais eficiente para o controle do desgastes que este distúrbio causa, seja ele o bruxismo diurno ou noturno
Causas e tipos do bruxismo:
O bruxismo tem múltiplas causas e quase sempre duas ou mais delas estão relacionadas com o início do problema. Os danos aos dentes, músculos e articulações atuam de forma diferente entre pacientes e são modulados pela severidade, potência muscular e tipo de oclusão (mordida). Além disso, o estresse psicológico é um potencializador para a atividade muscular parafuncional característica do bruxismo. Compreender como todos esses fatores causais relacionam-se e como abordá-lo é importante para o tratamento do distúrbio.
• Causas
As causa podem ser de origem local, quando um ou mais dentes podem estar interferindo no fechamento normal da mordida, de origens sistêmicas, como deficiências nutricionais ou alergias, de origens psicológicas como o estresse e a ansiedade, ou ainda de origens neurológicas como o autismo ou paralisia cerebral.
• Tipos
Uma forma simples de dividir o bruxismo é a que divide o bruxismo com relação ao momento do dia em que ele acontece: quando estamos dormindo, bruxismo do sono ou o bruxismo que acontece quando estamos acordados, bruxismo de vigília.
Outra divisão para o bruxismo, e que tem caráter mais importante para a indicação correta para a placa de bruxismo, é com relação ao contato entre os dentes durante o movimento parafuncional da mandíbula. Nesse sentido, o bruxismo pode ser dividido em dois tipo: bruxismo cêntrico, em que estão ausentes os movimentos de desgastes entre os dentes; e o bruxismo excêntrico, em que a mandíbula, ao movimentar-se lateralmente, provoca desgastes dentários.
O estresse precisa de uma atenção especial. É que embora o bruxismo seja uma desordem relacionada com os reflexos musculares com origem no sistema nervoso central, o estado emocional alterado potencializa os danos provocados pelo apertamento e ranger dos dentes. Além de aumentar as fraturas e desgastes dentários, o estresse intensifica a magnitude de ação muscular a tal ponto que os danos podem ser observados na ATM, a articulação temporo-mandibular.
A ATM precisa estar no foco do tratamento com placa para bruxismo. Danificada, essa articulação pode dar origem a dores de cabeça e de ouvido ou, ainda pior, provocar estalidos e até mesmo o travamento da mandíbula durante a abertura – e que, casos extremos, necessita de ajuda profissional para que seja levada à posição normal. Um problema que de tão recorrente pode levar indivíduos com o problema em busca de tratamentos cirúrgicos.
A forma como o estresse atua como potencializador para o bruxismo não é bem explicado. O mais importante é saber que as articulaões temporo-mandibular são estruturas pequenas e delicadas, e que quando ligamentos e discos articulares são danificados, as consequências podem ser permanentes. E levando-se em conta a pouca efetividade das cirurgias da ATM para tratamento do distúrbio, vê-se a importância da placa para bruxismo como prevenção e proteção para o problema.
Como a placa para bruxismo atua no organismo
A placa para bruxismo não atua diretamente na causa do bruxismo. A ação principal dela é proteger os dentes de desgastes e fraturas extensas e desprogramar o reflexo neuro-muscular de apertamento e ranger dos dentes. Na verdade, a placa não tem como eliminar esse reflexo, mas pode diminuí-lo. Além disso, a diminuição dessa ação muscular indesejada também diminui a própria potência de contração muscular.
O uso da placa para bruxismo precisa ser diário. É que essa é a única maneira eficiente para prevenir desgastes e desprogramar (momentâneamente) os reflexos musculares. Pacientes que usam placas de forma habitual relatam desconforto após noites sem o uso das mesmas. O uso descontinuado da placa para bruxismo não é eficiente porque a daptação prévia ao dispositivo é fundamental para não atrapalhar no sono do paciente.
Tipos de placas para bruxismo
• Placa miorrelaxante para bruxismo em acrílico. (placa oclusal estabilizadora rígida)
São poucas as variações técnicas na confecção de placas para bruxismo. A mais comum é a placa oclusal miorrelaxante em acrílico, com superfícies externas lisas. Além de proteger os dentes, essas placas diminuem a retração mandibular pelo afastamento dos dente e são mais eficientes na desprogramação da ação neuro-muscular característica do bruxismo quando comparadas com as placas cujas superfícies de contato promovem algum tipo de encaixe entre as arcadas.
indicações: bruxismo cêntrico ou excêntrico, com ou sem desgastes dentários; episódios esporádicos de dor; tratamento da disfunção temporo-mandibular sem episódios de dor
• placas para bruxismo macias (silicone)
O bruxismo não deve ser confundido com as disfunções na ATM (articulação temporo-mandibular). Os sintomas da ATM, como as dores musculares à palpação, a limitação dos movimentos de abertura e fechamento da boca e as dores faciais estão normalmente presentes nesse distúrbio.
O bruxismo é um risco potencial para o surgimento das disfunções da ATM, principalmente quando associado ao estresse psicológico. É possível a um indivíduo estar com distúrbio na ATM porém sem sinais da existência de bruxismo, e também é possível ser um bruxômano mas não possuir disfunções na ATM.
indicações: As placas macias são indicadas para a diminuição dos sintomas da ATM, mas não devem ser utilizadas nos pacientes bruxômanos sem a presença da disfunção de ATM. Essas placas, por serem macias, provocam o aumento de força dos músculos envolvidos na mastigação.
Se por um lado esse aumento de força ajuda a minimizar os sintomas da disfunção da ATM, por outro aumenta a capacidade do indivíduo de apertar ou ranger exatamente pelo mesmo aumento da força muscular.
Tempo de tratamento com placa para bruxismo
O tempo médio de confecção da placa, produzida após as moldagens das arcadas pelo dentista, é de uma semana. Após a instalação e ajuste da placa, o paciente necessita de, ao menos, duas consultas de retorno em sete e quatorze dias. Após esse período de observações o dentista planeja o intervalo entre as consultas de retorno, que podem ser mensais ou realizadas a cada seis meses. Vários fatores analisados pelo dentista vão determinar esse intervalo.
A placa para bruxismo torna-se um amigo inseparável do paciente bruxômano. Muitos pacientes usam o dispositivos por décadas, e uma boa parte desses pacientes tem relatos muito positivos do uso diário do dispositivo. Alguns pacientes possuem até mesmo mais de uma placa para bruxismo como prevenção para situações de perda de uma das placas.
O uso diário da placa para bruxismo é recomendável para todos os casos de bruxismo, do leve ao severo. Alguns pacientes, entretanto, só desenvolvem movimentações mandibulares que causam danos aos dentes ou estruturas articulares episodicamente – durante surtos de bruxismo, que podem acontecer todos os meses ou apenas durante alguns dias ao longo de um ano. O problema é que essas placas, quando descontinuadas no seu uso, não adaptam-se mais aos dentes – já que os dentes possuem um dinâmica de movimentação que lhes conferem sutis alterações de posições ao longo do tempo, suficientes para dificultar o encaixe da placa para bruxismo aos dentes. O ideal é utilizar diariamente a placa .
O uso de medicações nos casos severos de bruxismo
São controversos os estudos científicos sobre a eficácia do uso de fármacos para o tratamento do bruxismo. As medicações para os pacientes bruxômanos mais comuns são os relaxantes musculares, ansiolíticos e os anti-depressivos tricíclicos. Essas medicações são auxiliares ao tratamento e utilizadas em períodos em que a atividade muscular do bruxômano é mais intensa – ‘surto de atividade”. São normalmente prescritas junto com as indicações de dietas macias – alimentos macios – e uso de compressas quentes e úmidas nas regiões afetadas ( musculatura facial ).
O uso de medicações é mais comum como auxiliar no tratamento dos distúrbios de ATM do que no uso para pacientes bruxômanos sem a presença de sintomas do distúrbio de ATM.
Durabilidade das placas para bruxismo
A durabilidade da placa para bruxismo depende de muitos fatores, como espessura, número de dentes em contato e a severidade do distúrbio. Além disso, é preciso levar em contato o estado de conservação do acrílico das placas com relação ao acúmulo de manchas, placa bacteriana e até mesmo tártaro.
De forma geral, a placa para bruxismo é confeccionada para durar 6 meses, porém o uso cuidadoso de placas bem concfeccionadas pode se extender por até 12 meses.
As consultas de retorno ao dentista tem periodicidade que é determinada de acordo com a gravidade do bruxismo. 3,4 ou 6 meses são períodos comuns às consultas para reavaliação dos efeitos terapêuticos do tratamento. Não utilize a sua placa para bruxismo por períodos superiores a 6 meses sem a consultar o dentista responsável pelo seu tratamento.
*Ana Paula é cirurgiã bucomaxilo facial plantonista do Pronto-Socorro Municipal (PSM), professora de residência em Cirurgia Buco-maxilo-facial no Hospital Universitário (HGU), mestre pela Universidade de Cuiabá (Unic) em Ciência Odontológicas, e doutora pela Universidade de São Paulo (USP).
A Dra. Ana Paula atende na Rua Buenos Aires, 525. Jardim das Américas. Telefones (65) 3052-4696 e (65) 99233-4696.