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Domingo, 28 de abril de 2024

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PEQUI, CUPOLATE, IPÊ E MAIS

Da natureza para mesa: bióloga comanda negócio que vende produtos de Plantas Comestíveis Não Convencionais

Foto: Armazém PANC

Bolo de buriti decorado com flores comestíveis/ Produtos com Pequi

Bolo de buriti decorado com flores comestíveis/ Produtos com Pequi

Sabe aquelas plantas consideradas daninhas, invasoras e que muitas vezes crescem automaticamente em seu quintal, como por exemplo o Caruru, Urtiga Mansa, Broto de bambu, Folhas da Beterraba e Flor de Ipê? Bom, na verdade, todas elas são PANCS – Plantas Alimentícias Não Convencionais - que possuem, em sua maioria, potencial alimentício e valor nutricional mais elevado que as hortaliças tradicionais que são vendidas nos mercados e consumidas largamente pela população.

E quem faz das plantas não convencionais um empreendimento é a bióloga e empresária Daniele Medeiros, de 30 anos, proprietária do Armazém Panc Cuiabá. Já pensou em comer pasta de pequi com pimenta, ou então usar o Cumaru, extremamente aromática, para substituir a baunilha? Ou, ainda, se deliciar com a geleia de Vitória Régia ou fazer com a castanha do cupuaçu o mesmo uso que se faz com o chocolate?

Pois bem, segue o texto para conhecer mais sobre este armazém saudável, nada convencional, super nutritivo e que só trabalha com produtos agroecológicos, alimentos biodiversos e que coloca a natureza na sua mesa!

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A conversa com Daniela aconteceu em um dos locais onda ela comercializa os produtos do armazém. No centro de Cuiabá, instalou parte das receitas com PANCS em uma estação da Galeria Mandala, localizada na Rua Coronel Neto, 736, Goiabeiras. Mas para quem preferir, também atende no Instagram @armazempanc.

Daniela logo explicou os benefícios das plantas não convencionais para o organismo e a saúde. Não que as hortaliças convencionais tenham menos valor, mas as PANCS, muitas vezes, são altamente nutritivas e com altíssimo valor alimentício. E mais, são facilmente encontradas no dia-a-dia nos canteiros da cidade, simplesmente nascidas nos quintais e onde houver espaço.

“Não queremos que as hortaliças tradicionais saiam dos cardápios. Não. É para acrescentarmos e diversificar”, disse acrescentando que as vantagens das PANCS são inúmeras, a começar pela diversidade.



Enquanto mostrava sobre as benesses das PANCS foleando as páginas de um livro de biologia, Daniele mostrava os produtos que vende no Armazém. A Juçara, por exemplo, é uma palmeira conhecida por fornecer excelente palmito, que quase a levou à extinção.

Para manter a juçara em pé, iniciou-se a utilização do fruto em forma de polpas congeladas e geleias. A polpa da juçara é mais rica em antocianinas e compostos antioxidantes do que a polpa do açai-do-pará.

Para se ter uma ideia, o Armazém também vende farinha de Buriti, perfeita para turbinar, de forma saudável, sua alimentação. Rico em vitamina A, Vitaminas do complexo B, Vitamina C, ferro e Cálcio, a farinha de Buriti fica ótima em iogurte natural, vitaminas de fruta, mingau, bolo, salada de frutas.

E não para por aí. Daniele trabalha somente com ingredientes naturais, livres de conservantes, aromatizantes e produtos químicos. “Vendemos produtos minimamente processados que tem as PANC como base. Então tudo que for ligado a isso nós vendemos. Geleias, farinhas, conservas, antepastos, as flores desidratadas, farinhas”.

E nessa infinidade de opções saudabilíssimas, uma chamou bastante atenção: o Cupulate, que é um produto derivado do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), do mesmo gênero do cacau (Theobroma cacao), o que explica e possibilita todas as semelhanças quanto à textura, ao aroma e ao sabor do produto final após o processamento.

“Do cupulate que faz o mesmo processo do cacal, mas é tirado da semente do cupuaçu. A mesma utilização eu você faz com chocolate, você faz do cupulate”, explicou.

Há também receitas derivadas daquele fruto polêmico, polarizado e amado por uns e odiado por outros: o pequi. Na loja da bióloga, o pequi se transforma em pastas, farinhas, molhos e geleias que, além de nutritivos, são abundantes em aromas e sabores.



A ideia por trás do empreendimento, segundo contou a bióloga e empresária, é fazer com que o máximo de pessoas possam ter acesso as PANC. A forma ideal que ela encontrou para o negócio foi revender produtos que tiveram a utilização das não convencionais como base para produção dos produtos finais.

“E quando a gente abre o leque para alimentar com mais variedade, trazemos mais saúde. As PANCS não trabalham com conservantes, então são todos produtos naturais sem agrotóxicos ou conservantes. Quando as pessoas começam a identificar as PANCS, ganham até uma autonomia para escolher e conhecer os alimentos”, explicou.

“Às vezes a PANC está crescendo ali espontânea no seu quintal e você não precisa estar indo no mercado para ter um alimento com nutrientes. E muitas vezes esses alimentos trazem muito amis nutrientes do que aquilo que você encontra nos mercados”, acrescentou.

Além de tudo isso, o empreendimento da bióloga ainda caminha entre a economia criativa e sustentável. Agrofloresta e PANCS aqui andam lado a lado: agrofloresta é um sistema que concilia produção de alimentos com a preservação da flora e fauna local, com objetivo de tentar reproduzir ao máximo a floresta como ela é e, com isso, obter rentabilidade.

E quanto mais plantas diversas se inserem na alimentação das pessoas, mais se colabora com esse sistema sustentável. “Neste momento, percebemos que precisamos conhecer mais sobre as plantas alimentícias não convencionais. A natureza está em perigo, mas nós podemos ajudar. Consumindo mais PANC, colaboramos com nossa saúde e com o meio ambiente”, diz um dos conceitos do empreendimento da bióloga.

PANCS

É a sigla para Plantas Alimentícias Não Convencionais, que apesar de negligenciadas pelo mercado industrial, são potentes alimentos com altos valores nutricionais. Consideradas daninhas, matos ou inços, surgem em todos os lugares.

Em meio à plantanações, hortas e calçadas, se inserem no dia-a-dia e cotidiano das pessoas e, muitas vezes passam despercebidas. Porém, a falta de percepção esbarra nas forças dessas plantas que são resistentes à pisoteio e herbicidas.



Almeirão-Roxo, Bambu, Cemélia, Coração da Bananeira, Ipê-Amarelo, Jasmim-Manga, Inhame, Araçá, Taioba, Cumaru, Caruru, Pequi, Vitória Régia, Bertalha, Dente-de-Leão são exemplos de algumas PANCS habituais e comuns. Estima-se, inclusive, que existem aproximadamente três mil espécies não convencionais com potencial alimentício.
 
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