Em um dos corredores da casa em que mora há uma vida inteira, no bairro Poção, em Cuiabá, estão guardados centenas de carrinhos em miniatura do colecionador Antônio Carlos Moura Teles, de 65 anos. A coleção que começou com apenas dez carrinhos, em 1970, se multiplicou com direito a separação por modelos, edições especiais ou presentes de amigos queridos. 

Leia também 
Casal nômade com quase 300 mil seguidores atravessa Brasil de ônibus: ‘amamos o bolo de arroz’

A grande paixão de Totó, como é conhecido pelos amigos e familiares, são os carrinhos temáticos da Coca-Cola. Ele não esconde que é um grande adorador do refrigerante e garante que as garrafas da bebida nunca faltam enquanto mostra algumas unidades na geladeira. No corredor, uma armário também é reservado só para os itens da marca. 

“Tenho trator, helicóptero, veículos do Exército, carrinhos de rally, lancha, tratores agrícolas, Ford Bronco e Jeep de um modo geral. Minha paixãozinha, até me dá uma secura na boca de gosto. Sou apaixonado pela Matchbox, por conta do acabamento”, explica Totó enquanto aponta para as prateleiras recheadas de carrinhos e segura uma miniatura de 1970. 

O colecionador é um entusiasta da marca Matchbox, criada pela Lesney Products, que foi pioneira na fabricação de miniaturas em 1953. Apesar de uma réplica da carruagem da coroação da Rainha Elizabeth II ter vendido mais de um milhão de unidades, o pontapé da Matchbox chegou com a criação de um rolo compressor, o Road Roller. 

Totó tem edições especiais completas na coleção de carrinhos em miniatura. (Foto: Olhar Direto)

Na década de 50 e 60, a marca lançou a linha “Models of Yesteryear”, que trouxe versões de veículos clássicos de vapor. O sucesso atravessou décadas, já que alguns dos xodós de Totó são os calhambeques e Corvettes que tem na coleção. 

As miniaturas eram vendidas em pequenas caixas, que lembram as de fósforo, coloridas e com a ilustração de cada carro que guardavam. As embalagens com as réplicas originais ainda guardadas também fazem parte da coleção de Totó. 

“Quando comecei, esses eram os carrinhos que tinham para vender na época. Eles estão aqui novinhos, não brinquei com eles. Tem uma Ferrari 0km, de 1981. Isso quando pude comprar, ia na loja e comprava. Quando tinham poucos modelos, eu comprava para minha coleção. Nos Estados Unidos custava 34 centavos”. 

Totó não sente ciúmes que seus carrinhos sejam fotografados, tocados ou que sirvam de brinquedo para os dois netos, ele também não pensa duas vezes em presentear quem quer que seja com miniaturas duplicadas em sua coleção. 

“Não vendo nunca, mesmo se for repetido não vendo. Brinco que o que tenho é meu e está pago, não vou vender. Mas, se quiser, eu dou um carrinho. Esses carrinhos [que ainda estão nas caixas antigas] são da época que eu saía do trabalho e passava nas lojas que vendiam. Na época eu não tinha dinheiro, as coisas eram mais difíceis lá atrás”. 


Embalagens antigas da Matchbox, semelhantes com caixas de fósforo, guardavam réplicas mais antigas feitas pela marca e são relíquias para Totó. (Foto: Olhar Direto)

Coleção começou com dez carrinho e hoje passa de 4 mil miniaturas

Os carrinhos mais antigos, que ainda estão guardados nas pequenas “caixas de fósforo” foram comprados durante a juventude de Totó, no Paraná, onde nasceu e foi criado. Ele conta que já teve épocas de vida mais fáceis e mais difíceis. Antes do pai, que era dono de farmácia no Sul do Brasil, “quebrar”, a situação financeira era mais confortável. 

“Meu pai tinha farmácia e foi muito feliz. Todos esses carrinhos comprei no Paraná. Quando eu comecei a ganhar dinheiro, tinha condições de comprar”. 

Desde criança, as miniaturas da Matchbox sempre foram as preferidas de Totó. Sem esconder a animação no tom de voz, ele explica sobre cada detalhe que torna as pequenas réplicas realistas e bem projetadas. 

“Cada um tem seus detalhes, tipo de pintura e acabamento. São muito bem feitos. Tenho prazer em ter todos esses carrinhos. Tem muitos na embalagem ainda, como vou abrir? A maioria não existe mais para comprar”. 

Em 1992, a Matchbox foi comprada pela Tyco Toys que, por sua vez, foi comprada pela Mattel cinco anos depois. Fazendo com que Matchbox e Hot Wheels, até então rivais, ficassem na mesma empresa. A compra não foi vista com bons olhos pelos fiéis colecionadores, já que o perfil de miniaturas da Hot Wheels sempre mirou a fantasia, enquanto a Matchbox ostentava realismo. 

Totó é um dos fãs fervorosos da Matchbox e arrisca dizer que é o maior colecionador da marca em Mato Grosso, com quase 4 mil carrinhos. Atualmente, a Mattel mantém as duas marcas no mercado, cada uma com as próprias individualidades. 

Carrinhos temáticos da Coca-Cola estão na lista de preferidos do colecionador. (Foto: Olhar Direto)

Paixão pela Hot Wheels 

No cômodo da casa que foi projetado para ser uma brinquedoteca, o colecionador Juliano Bezerra, de 60 anos, guarda centenas de carrinhos em miniatura da Hot Wheels em pastas de plástico. Diferente de Totó, que mantém as réplicas à mostra e não se importa de que os carrinhos sejam manuseados, Juliano é mais reservado com a coleção. 

A grande paixão do colecionador é a marca Hot Wheels. Tudo começou quando as primeiras miniaturas foram compradas para o filho dele. Elas ainda estão guardadas em uma das pastas de plástico da estante de Juliano como relíquias. 

A qualidade das réplica e a infinidade de modelos fabricados pela Hot Wheels foram pontos cruciais para que Juliano se apaixonasse pelo universo das miniaturas. 

“Comecei a colecionar em 1992, quando meu filho começou. Ele tinha quatro anos e colecionava com os primos. A Hot Wheels é um mundo que não termina nunca, você tem sempre que ficar ligado nos lotes, eles sempre estão inovando. Eles tinham assinatura com a Ferrari, e chegou ao fim, então, quem tem, tem”. 

Coleção de Juliano conta com quase 4 mil carrinhos e começou com o filho dele. (Foto: Olhar Direto)

Juliano classifica o colecionismo como uma forma de terapia. Ele conta que no mesmo quarto onde estão guardados seus tesouros da Hot Wheels, também tem uma vitrola antiga e uma coleção de discos, que são tocados quando Juliano deseja entrar no próprio universo. 

Para o colecionador, a melhor parte da “brincadeira” de colecionar os carrinhos é ter a possibilidade de conhecer pessoas novas e se relacionar. De uma das vezes em que presenteou alguém com uma miniatura duplicada que tinha, por exemplo, nasceu uma grande amizade. 

“A brincadeira é manter esse bom relacionamento com pessoas que você não conhece. Consegui um carro essa semana de 1957, O mais antigo que tenho é de 1948 Tenho os primeiros que meu filho começou a colecionar. Na verdade a coleção é dele, ele ainda gosta, eu só continuei”. 

Uma das relíquias de Juliano é protegida por três camadas e pelo ciúmes do colecionador. A miniatura de um Buick Riviera do ator Leonard Nimoy, que interpretou Mr. Spock em Star Treck, é um dos itens raros que ele guarda na coleção. 

Juliano tem carrinhos antigos e modernos na coleção. (Foto: Olhar Direto)

“Tem um carrinho que gosto mais, que não gosto nem que peguem nele. Foram feitas mil unidades no mundo inteiro e eu tenho um. É uma longa história, é um carro raríssimo. O ator que fez o Mr. Spock em Star Trek passou no deserto americano e viu um Buick jogado em um ferro velho, todo enferrujado. Ele pediu para o motorista dele parar e comprou o Buick”. 

Juliano explica que o ator levou o carro, que até então estava abandonado, para ser customizado por Chip Foose. Quando a Hot Wheels ficou sabendo da história, se interessou em pagar pela reforma com a premissa de que pudesse transformar o Buick Riviera em miniatura. 

“Ele pediu que um customizador americano chamado Chip Foose, que por sinal tenho vários carros assinados por ele e fora do preço normal de preço, valem até 2 mil dólares. A Hot Wheels pagou toda a reforma do carro, contanto que a Hot Wheels pudesse transformar em miniatura com a imagem dele fotografada no estúdio da Universal”.