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Sábado, 27 de abril de 2024

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bonecas hiperrealistas

Bebês reborn feitos por artesã de VG são vendidos por R$ 600 com bolsa maternidade e certidão de nascimento

Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto

Bebês reborn feitos por artesã de VG são vendidos por R$ 600 com bolsa maternidade e certidão de nascimento
Quem entra na casa da artesã Sibele Monteiro, de 50 anos, em Várzea Grande, é recepcionado pelos bebês reborn feitos a mão por ela. Algumas das bonecas hiperrealistas “dormem” nas prateleiras, enquanto outra, de vestido de bolinhas e olhos fechados, está dentro de um cesto, ao lado da própria bolsa maternidade, que tem direito a certidão de nascimento, teste do pezinho e mamadeira falsa. 

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O bebê reborn é um brinquedo que imita bebês de verdade nos mínimos detalhes, como uma picada de mosquito na testa de uma das bonecas pintadas por Sibele. A artesã várzea-grandense também faz o cabelo aplicando fio por fio, para garantir que o aspecto fique mais próximo do natural possível. 

É possível fazer bebês do sexo feminino ou masculino e as características de cada um são escolhidas pelas “mãezinhas”, como Sibele chama as clientes carinhosamente. A artesã confessa que gosta mais de produzir os recém-nascidos, por conta da grande quantidade de detalhes, algo que ela já dominou por conta dos quase quatro anos de produção. No entanto, é possível fazer bonecas realistas de até 7 anos. 

Sibele conta que a ideia de fazer os bebês reborn surgiu quando viu uma amiga da filha com uma boneca do tipo. A artesã conta que ficou encantada pelo nível de detalhes do brinquedo e decidiu que compraria um para ela. 

Bebê reborn possui detalhes realistas e virou tendência entre colecionadores adultos e crianças. (Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto)

Hoje é possível encontrar bebê reborn vendidas por valores exorbitantes, no caso dos feitos inteiramente de silicone, ou mais baratos, mas com acabamento compatível ao preço. No entanto, na época, Sibele lembra que não podia pagar por uma bebê reborn e decidiu fazer a própria, no começo da pandemia da covid-19, em 2020.  

“Custava mais ou menos R$ 2,5 mil e era um preço bem alto para as minhas condições no momento, não tinha condições. Não tivemos oportunidade de ter brinquedos quando era criança. Um dia veio uma amiga da minha filha aqui e ela estava com uma bebê reborn no braço, fiquei encantada. Consegui comprar o material devagarinho, fui comprando aos poucos e fiz a primeira”. 

A artesã demorou para chegar em um resultado que a agradasse, mas continuou treinando as técnicas de pintura que tornam a boneca tão realista. Para aperfeiçoar os bebês, ela começou a assistir vídeos no YouTube e buscar por cursos profissionalizantes com ajuda da internet. 

“Amo fazer bebezinhos, porque são mais realistas, as crianças gostam mais, ficam parecendo que acabaram de nascer. Comecei assistindo vídeos, porque sou muito curiosa, mas fiz quatro cursos para me aperfeiçoar, aprender as técnicas. Não quero nem pensar em parar, é algo que quero levar para a vida, porque cada dia que passa me apaixono mais por essa arte”. 

As bonecas feitas por Sibele também já serviram como ferramenta para pessoas que estavam passando por uma fase de luto, por exemplo. Mães que acabaram de perder os filhos ou que passaram pelo trauma do bebê morrer no parto, já chegaram a enviar fotos para que a artesã reproduzisse os traços. 

“Tenho uma cliente que comprou uma bebê de 1 ano e dois meses, porque tinha perdido a avó, que era a mãe dela e criou ela. Ela comprou essa bebê para representar ela quando era pequena, para lembrar da avó dela que faleceu. É o xodó dela, a boneca tem rede social, só ‘anda no ouro’. Já tive pedidos com foto de criança no caixão para fazer a réplica, é bem triste, mas faço o possível para poder ajudar. Me sinto super feliz por poder ajudar”.

Bonecas são pintadas a mão por Sibele com tinta importada para garantir alto nível de detalhes. (Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto)

“Nasci artesã” 

A várzea-grandense conta que estudou em um colégio interno comandado por freiras, onde foi estimulada a aprender diversos tipos de trabalhos manuais, algo que sempre fez os olhos de Sibele brilharem. Ela brinca que já nasceu artesã. 

“Foi na escola mesmo, minha mãe era enfermeira, minha avó também. Vai fazer seis anos que perdi minha mãe. Foi só eu mesmo que toda vida gostei de artesanato, na família não tenho ninguém, sou até meio autodidata. Sou muito persistente, fiz a primeira, não ficou boa, mas sabia que iria conseguir”. 

As habilidades manuais que desenvolveu ao longo da vida ajudaram Sibele a reproduzir os bebês reborn que ela costumava ver na internet. É a artesã que costura os corpos das bonecas, com tecido suede, e faz os olhos de resina. As cores da pele, cabelo e olhos podem ser escolhidas por cada uma das clientes. 
 

“Fazia fontes artesanais de cimento, algo que vendia bastante, mas comecei a ter alergia ao cimento, também trabalhei com biscuit por muito tempo. O que for de trabalho manual, eu desenrolo super bem”. 

Quando a cliente pede por um vestido ou macacão a mais, por exemplo, Sibele senta na máquina de costura para fazer tudo a mão. Ela conta que já pegou a prática e, por isso, hoje não leva mais que dois dias para terminar uma das bonecas que, depois, é vendida por R$ 599. 

A base dos bebês reborn, rosto, braços e pernas, é vendida “crua” pela internet. Sem pintura ou qualquer tipo de detalhe. Nas mãos de Sibele, as bonecas ganham manchas de frio típicas de recém-nascidos, veias aparentes, unhas ou picadas de mosquito. A artesã explica que o custo da boneca é alto, mas ela optou por vender em preços acessíveis em Várzea Grande e Cuiabá. 

Sibele também confecciona modelos de roupas para as bonecas das clientes. (Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto)

“Pago até R$ 150 pelo kit, depois preciso transformar, colocar cabelo, roupa… Então é um gasto grande para fazer. Mas decidi fazer e colocar um preço bacana para quem não tem condições de comprar um bebê caro pela internet. Hoje você consegue comprar pela internet um bebê de até R$ 200, mas não é bem feito, passam um vermelhinho na boca e enganam as pessoas”. 

Sibele conta que já recebeu clientes que compraram bebês reborn pela internet e foram enganadas pela qualidade do produto, que no anúncio aparenta ser realista como as feitas por ela em Várzea Grande. 

“É triste, porque às vezes é uma criança que quer muito e a mãe leva um golpe. Me procuram para reformar, mas infelizmente eu não reformo, porque o tempo de eu desmanchar o bebê, tirar a tinta e o cabelo, faço duas. Já aconteceu da pessoa fazer orçamento comigo, mas pedir pela internet. Depois aparece pedindo para reformar, é muito trabalhoso desmanchar”.
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