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Quarta-feira, 01 de maio de 2024

Notícias | Música

Após desabafo, Patricia Marx diz que voltou a ser procurada para shows

Seis meses após lançar um disco que comemora três décadas de carreira, Patricia Marx não está exatamente feliz. No último dia 18, a cantora de 39 anos publicou no Facebook um desabafo. Reclama das dificuldades de trabalhar no Brasil e explica que está "de saco bem cheio" por não fazer shows. Revoltada, ela escreveu que "artistas que fazem shows são os mesmos que dominam o mercado com seu lixo cultural", acusou a existência de "panelinhas" e questionou: "Cadê o espaço 'democrático' no mercado de shows, senhores produtores?".

Em entrevista por telefone ao G1, Patricia, que começou sua carreira aos nove anos no grupo infantil Trem da Alegria, já lançou onze álbuns e chegou a vender mais de três milhões de discos, revelou que, após seu desabafo, ela voltou a ser procurada para shows. "Incrível porque esse país parece que só funciona colocando a boca no trombone mesmo. Só o Sesc ainda não se manifestou", afirma.

No próximo dia 30, a cantora lança em CD e DVD "Trinta ao vivo", um show gravado em 2012 e no qual, além das músicas de "Trinta", ela também interpreta os maiores sucessos de sua carreira. O segundo volume de "Trinta" começa a ser gravado em outubro e tem lançamento previsto para 2014. Leia a entrevista abaixo:
G1 - Você postou aquele texto no Facebook sobre "panelinhas" e as dificuldades pra conseguir fazer shows. Por que você acha que isso acontece? E por que você estaria sendo excluída dessas tais "panelas"?

Patricia Marx - Não sei examente porque é tão difícil fazer show no Brasil. Aliás, eu tenho uma ideia de que as panelinhas existem e sempre existiram. Eu não entendo essa mentalidade, desse favoritismo descarado por alguns artistas. Essa informação veio do meu próprio agente. Ele vem há três meses batalhando datas em todos os Sescs e não está conseguindo. Adiaram milhares de vezes, prometeram data e nada. Isso tem sido difícil também nas outras casas pois existe sim um favoritismo por artistas que certamente dão retorno financeiro ou que eles sabem que vai dar certo. Acho isso um absurdo porque eu tenho um público grande, que me acompanha há muito tempo. Eu não comecei ontem. Fiquei muito brava e indignada por isso postei isso no Facebook e não esperava que fosse repercutir desse tamanho.

G1 - Você já teve contato com outras pessoas que enfrentam a mesma situação? Alguém te procurou para se solidarizar? E depois de publicar esse texto, qual foi a repercussão?
Patricia Marx - Já, já, conheço vários músicos que também estão tentando fazer show e trabalhar, reclamando que mandam material e ninguém dá retorno. O meu próprio parceiro Luciano [Nassyn], do Trem da Alegria, faz muitos shows em lugares pequenos, mas não consegue levar o trabalho dele a lugares médios ou maiores. Muitos músicos também ganham mal ou não recebem. Isso já acontece há muito tempo. Já tentei Lei Rouanet, os editais, mas isso tudo é uma grande piada. Programas de TV e de rádio também têm "panelas". Mas essa dificuldade eu não tenho porque a música "Espelho d'água", que eu gravei com o Seu Jorge, está tocando no Brasil inteiro. É um paradoxo isso. Alguns artistas têm música na novela da Globo, mas não conseguem fazer show.

G1 - Você acha que isso pode te ajudar a conseguir mais trabalho ou teme que agora alguns produtores possam te barrar ainda mais? Não tem medo de alguma represália nesse sentido?
Patricia Marx - Não dá para acreditar, mas as pessoas começaram a ligar para pedir show. Incrível porque esse país parece que só funciona colocando a boca no trombone mesmo. Só o Sesc ainda não se manifestou. Vou mandar meu produtor dar mais uma cutucada neles. Não tenho medo de represália. Eu me arrisco um bocado. Estou numa fase em que eu preciso dizer as coisas porque não dá mais para continuar do jeito que está. Faço isso por todos os artistas que têm um trabalho de qualidade que não conseguem espaço, mas merecem. Tenho essa intenção de ajudar outras pessoas também, não só a mim.
Acho esse favoritismo um absurdo porque eu tenho um público grande, que me acompanha há muito tempo. Eu não comecei ontem. Fiquei muito brava e indignada por isso postei o desabafo no Facebook"
Patricia Marx, cantora

G1 - Em outra entrevista, você disse que só conseguiu fazer três shows este ano, e que seu cachê é de R$ 15 mil, soma que ainda divide com sua banda. Se você acredita que o problema não é o valor, qual a desculpa que mais ouve quando tenta marcar alguma apresentação e não consegue?
Patricia Marx - R$ 15 mil comparado a R$ 50 mil, R$ 80 mil, R$ 100 mil a R$ 150 mil que outros artistas ganham. O que meu agente mais escuta é mudança de data. A pessoa marca a data e depois diz que tem que transferir para o mês seguinte. Tem gente que chora muito para abaixar o cachê, mas não dá para abaixar mais. Acho que é um valor justo até pelo meu trabalho de 30 anos de carreira. Acho até baixo. Se eu tivesse um cachê maior, chamava até outros artistas para cantarem comigo.

G1 - Você mencionou que pode acabar virando professora de canto. Preferiria fazer isso a ter que fazer algum tipo de concessão na sua carreira, como, por exemplo, entrar na onda de revival, cantar músicas do Trem da Alegria em festas dos anos 80?
Patricia Marx - Professora de canto é meu plano B, mas prefiro isso porque essa onda dos anos 80 já passou para as pessoas. Já acabou essa fase. Foram anos de festas desse tipo. Se eu participei de duas, foi muito. Não é minha praia. Estou com um trabalho novo, sou outra pessoa. Respeito esse carinho que as pessoas têm pela nossa infância, mas não é minha praia.

G1 - Você também lembrou o período em que morou em Londres, sobre ter feito três turnês na Inglaterra em apenas um ano. Você acha que foi mais valorizada lá? E por que você decidiu voltar, mesmo assim?
Patricia Marx - Eu me senti mais valorizada no que estava fazendo na época, que era música eletrônica, entre 2001 e 2004 pela gravadora Trama. Era um trabalho mais conceitual, de experimento de novas batidas. Como eu morei lá, minhas referências eram de lá. Tanto que o segundo disco, chamado "Patricia Marx", nem saiu direito no Brasil, acabou vendendo só lá, daí fiz três turnês em um ano. É muito fácil fazer show na Inglaterra porque tem espaço para todo tipo de música. Eles valorizam muito uma proposta verdadeira de música. Eu nem fazia show para brasileiro, fazia para inglês mesmo. O Brasil é muito conservador pela dificuldade de se ouvir novas coisas. O que faz "sucesso" são coisas fáceis. Até um bebê de três anos faria uma coisa melhor. Decidi voltar porque acabou meu contrato com a Trama.

G1 - Ficou decepcionada com a repercussão do lançamento de “Trinta”? Esperava mais convites para divulgá-lo?
Patricia Marx - Não fiquei decepcionada com o lançamento. É um disco muito bom, um trabalho de qualidade. Foi bem pensado, com regravações de antigos sucessos, de soul e black music. Eu já sabia que isso ia ser uma coisa mais demorada para ser divulgada porque, de novo, é uma coisa nova.

G1 - E quais suas expectativas com o lançamento do “Trinta ao vivo”? Acha que, ao te ver/ouvir ao vivo, as pessoas podem se convencer a marcar mais shows?
Patricia Marx - É uma vitrine para mostrar como seu show é. Obviamente que, no formato do DVD, a banda é maior. Tenho um formato menor de quatro músicos e isso facilita viagem. Também tenho o formato de voz e violão ou voz, violão e DJ, formatos que se adequam a lugares e viagens diferentes. Facilitar mais que isso (risos).

G1 - Como foi a escolha do repertório do disco? Você considera que ele resume as influências da sua carreira toda? E por que você decidiu regravar músicas como “Sem pensar” e “Despertar”?
Patricia Marx - Resume sim toda a minha bagagem ao longo desse tempo, mesmo as influências mais conceituais de eletrônica e black. Eu trouxe para uma forma um pouco mais comunicável, com uma linguagem mais contemporânea, junto com as releituras desses antigos sucessos. É uma coisa do inconsciente coletivo, essa black music das décadas de 70 e 80. Os arranjos foram pensados para revitalizar esse soul antigo. Isso não é novidade no Brasil, já existiu com o Tim Maia, eu só estou trazendo uma versão mais moderna.

G1 - Qual seria o balanço de seus 30 anos de carreira, após passar por estilos tão diferentes?
Patricia Marx - Achei tudo válido. Cada vez mais vou ousar, experimentar, fazer coisas novas porque eu não consigo ficar parada. Sou uma pessoa inquieta mesmo. Acho que isso faz parte de ser artista. Eu me baseio muito em grandes artistas que ousam bastante e nunca ficam num estilo só. Uma das pessoas é a Björk, que é extremamente visionária e a inquietude é uma verdade dela. Essa busca pela qualidade, de mostrar coisas novas, e dizer o que eu penso é uma verdade minha. Eu preciso ser verdadeira comigo e com os outros.
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