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Conexão virtual descola a realidade da nova geração e impulsiona o exibicionismo desenfreado

28 Dez 2013 - 14:20

Especial para o Olhar Conceito - Nina Moon

Foto: Reprodução

Conexão virtual descola a realidade da nova geração e impulsiona o exibicionismo desenfreado
Com os lábios descarnados em um vermelho rubro, os pés descalços e a meia-calça desfiada, o único registro do momento é uma foto no elevador. Mais uma para a sessão narcisista das suas redes sociais. Afinal, estar conectado é também deixar um quê de mistério sobre o que acontece em suas noites. Mas, o espelho é o pior inimigo.

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Depois de vomitar todos os seus demônios, expurgados com a ajuda do eterno amigo solitário, o álcool, a maquiagem borrada revelava algo a mais daquele olhar apático. Com um sorriso ensaiado, os olhos fingiam acompanhar o ritmo frenético daquela vida. Mais um flash. Mais um momento guardado.

Se você pudesse, mesmo que por um segundo, fitar aqueles olhos maquiados, se espantaria de descobrir que o mundo não é tão colorido como ela pinta no seu mural do Facebook e nas suas fotos do Instagram. Se pudesse fitar aqueles olhos, veria que uma alma triste existe por trás de cada cílio grudado com o rímel preto, que naquela altura da manhã, borrava sua pele branca com as lágrimas que desciam sucessivamente.




Estava só. Estava em casa. E como sempre, prosseguia com seu ritual. Após mais uma noite sem pudores, sentava no chão do banheiro e chorava. Chorava como uma criança desamparada e martelava na cabeça todas aquelas frases repetidas: ‘essa vida não é sua’, ‘isso não é para você’, ‘você merece mais do que uma noite’.

O que as fotos pretendem revelar nunca é aquilo que é de verdade. É sempre fake. É sempre máscara. É sempre um momento ensaiado. E tudo ganha ares de ‘espontaneidade’. Mas, no fundo de sua existência vil e medíocre, sabia muito bem, qual era o final de cada noite.



Toda a pose de atitude, a rebeldia escancarada, e o discurso de “I’m so FABULOUS” apenas deixam entrever que existe uma voz dentro de si, que chora em busca daquilo que acredita que deve ser, mas que nunca se encontra.

A nova geração “Shit! I’m a bitch” incorpora o espírito de uma liberdade que o século XXI nos promete ter. É uma vitrine. A vitrine das ‘vidas coloridas’. E o discurso? O discurso aqui, não existe. O que existe é o Narciso, o Belo, todas as coisas lindas que merecem ser registradas. Não há espaço para o feio, para o cruel, para as mazelas da vida.

O que este exibicionismo desenfreado, cujas portas foram abertas pela conexão 24 horas das redes sociais não considera, são as lutas pela liberdade do corpo travadas ao longo de séculos de constantes guerras. Queimar sutiã em praça pública não simboliza mais o feminismo. Poder exercer o seu direito sobre o próprio corpo, inclusive de mostrar aquilo que até então era resguardado a quatro paredes, simboliza uma visão diferente da luta pelo corpo feminino, que é apenas por ser, sem possuir qualquer embasamento ou sentido para travar esta batalha.

A incorporação da atitude ‘bitch’ é como ligar um botão que manda toda a sociedade ir para aquele lugar longínquo. Mas, a busca pela auto-afirmação, a exposição da imagem como publicidade do eu, revela que o mundo continua a ser um lugar solitário para todos, mesmo que no feed de notícias, mais de 100 amigos curtam as suas fotos.



Ser ‘bitch’ é ser tudo o que a mídia dita que é belo como padrão, mas vai além disso, e demonstra que existe um mundo descolado da realidade, que não mais se limita aquilo que é o físico e ressalta os meandros de um novo universo, o virtual.

Mas, se esconder atrás de uma máscara de uma ‘suposta’ atitude é tentar esconder embaixo do tapete, que a feiúra bate na porta a cada segundo. Porque as pessoas continuam a morrer de fome, a corrupção continua a assolar hospitais e escolas, a miséria continua a nos chocar em cada esquina, mas, para as ‘bitchs’, é como ligar o botão do ‘eu não me importo, porque sou mais eu’, e assumir, terminantemente, que o egoísmo e o narcisismo, são as novas regras do jogo.
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