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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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EM BUSCA DE LIBERDADE

Casal de jornalistas de MT deixa estabilidade para trás e parte 'pelos brasis' em uma Kombihome com seus cães: Tieta e Astronauta

Foto: Airton Marques/ OD

Casal de jornalistas de MT deixa estabilidade para trás e parte 'pelos brasis' em uma Kombihome com seus cães: Tieta e Astronauta
Quem nunca pensou em deixar tudo pra trás, entrar numa Kombi e cair na estrada? É isso que um casal de jornalistas de Cuiabá está prestes a fazer. Lucas Bólico, 33, é editor-chefe e atua no mercado há quinze anos. Isabela Mercuri, 30, é editora adjunta e repórter de política. Casados há seis anos, trabalham no mesmo veículo e se cansaram da estabilidade: abriram mão da rotina e estão com tudo pronto para realizar um sonho antigo de percorrer o Brasil de Norte a Sul.

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Na “Cuiabana”, como a Kombi 2002 foi batizada, levarão seus fiéis “cãopanheiros” Tieta e Astronauta e partirão em uma aventura em busca de liberdade. Sem medo do desconhecido, estão de peito aberto para tudo que o caminho conduzir. E eles sabem que serão levados para algum lugar.

Com intuito de furar a bolha daquilo que vivem e conhecem para imergir na riqueza de um país multicultural, que se expressa pela diversidade, adaptaram a “casa” com placas solares, internet, caixa d’água, fogão, cama, espaço para os dogs e todo o necessário para o caminho, ainda incerto.

“A gente só tem noções vagas do que pode acontecer. Mas, o caminho vai nos dizer”. O trajeto começa em dezembro partindo para Brasília, passa por Chapada dos Veadeiros e se desloca até o Nordeste, para o carnaval de Olinda. Depois disso, o futuro que sabe.

Toda experiência será registrada no perfil de Instagram “Pelos Brasis”. O nome já diz: “queremos conhecer os Brasis. No plural justamente por isso, para dar essa noção de diversidade de um país rico e multicultural”.
 

Liberdade

A ideia é percorrer todo o Brasil vivenciando festas populares como São João, o Carnaval, Círio de Nazaré, Festival de Parintins, dentre outras. Querem conhecer e viver o país para ter noções tanto espaciais e geográficas, como culturais. “Queremos conversar com pessoas, provar comidas diferentes, conhecer lugares. Fazer uma imersão”.

Longe do sentido ufanista, têm enorme interesse e paixão pelo país que, nas palavras de Lucas, é “muito intrigante, de muitas contradições e coisas para descobrir”.

Isabela complementou: “vamos sair da nossa bolha mesmo, da nossa convivência, das pessoas que a gente conhece, dos sotaques que conhecemos, dos sabores, dos modos de pensar que conhecemos. Lá da ponta, numa praia do nordeste para uma cidadezinha no sul. Eu estou muito afim de conversar com pessoas, ouvir mesmo. Escutar e conhecer essas diferenças”.


Airton Marques/ OD

Por enquanto, não pretendem ir para fora como muitos daqueles que rodam em motorhome fazem. No momento, “queremos conhecer os Brasis. No plural justamente por isso, para dar essa noção de diversidade de um país rico e multicultural”.

O casal está deixando pra trás uma carreira consolidada. Lucas atua no mercado há 15 anos e é editor-chefe de jornal. “Fiz todo trajeto que poderia no jornalismo, começando como estagiário e chegando ao posto de editor-chefe. Gostei disso e fui muito feliz. Agora acho que está na hora de viver uma experiência diferente”, comentou.

Isabela está há 8 anos no mercado e atualmente é repórter de política e editora adjunta ao lado do marido. “Essa decisão também veio porque a gente... por exemplo, Lucas está a 15 anos no mesmo lugar e eu há 8. É uma vida... há muitos anos a mesma coisa. Enfim, acho que a gente meio que chegou em um ponto que falou: tá, e aí? Vamos sair da mesmice!”, acrescentou.

Carregando anos de experiência na bagagem, também pretendem aproveitar o conhecimento da prática jornalística para alimentar as redes sociais do projeto. “É uma coisa que o jornalismo trouxe pra gente: vivenciar outras histórias a partir de reportagens. Mas, agora, vamos viver uma experiência disso um pouco mais a fundo. Gosto de ter essa vivência. Acho que vamos tentar aprofundar isso mais”.

“Pelos Brasis”



E eles já criaram um perfil de Instagram, “Pelos Brasis”, para que as pessoas possam acompanhar a aventura. Perceberam, após a tomada de decisão, que o sonho deles é comum de muita gente e nisso encontraram uma forma de transmitir e compartilhar a experiência.

Um podcast está no horizonte dos conteúdos que produzirão no caminho. Até o momento, vislumbram produzir duas vezes por semana em formato de diário, com relato das experiências e entrevistas com pessoas que encontrarem na estrada.

Sonho antigo

Lucas sempre teve aquele sonho de moleque, de pegar uma Kombi e cair na estrada. Esse sonho ficou guardado na gaveta por muito tempo, até que ele e Isabela foram para Índia, em 2020. Durante um mês nas vastas terras hindus, conheceram diversos lugares, andaram de trem, avião, se deslocaram de carro, ônibus e puderam sentir o impacto de se surpreender com o outro que vive distante.

A experiência para Lucas foi marcante e, a partir dela, reacendeu o sonho de moleque, que agora será realizado em sua terra. Ele propôs a ideia para Isabela. “Cara, o que você acha de a gente fazer uma parada assim (pegar a Kombi e partir)?”. Isabela apoiou. Não só apoiou, como também comprou a ideia.

Após a Índia, eles voltaram para casa logo na pandemia. O mundo se fechou e o país entrou em lockdown. O plano de pegar a Kombi para viajar, então, desapareceu. Volta e meia a ideia pairava entre o casal, mas sempre no “mais pra frente”.

Conforme as medidas de biossegurança foram afrouxando, eles superaram a parte mais crítica do isolamento e voltaram a pautar o plano. E na iminência de planejar um filho, caiu a ficha de que se eles não fizessem o roteiro pra já, talvez fariam só “quando aposentar”, o que não era opção.

O prazo definido foi o término das eleições de outubro deste ano. Focaram nas eleições, trabalharam e, enquanto isso, foram buscar opções de viabilizar a partida até que encontraram uma pessoa que constrói motorhomes em Cuiabá.

“A gente achou um cara aqui e a sintonia bateu, a gente gostou dele e da Kombi”. O veículo ainda não estava finalizado e eles puderam fazer algumas adaptações conforme queriam. “Pedimos para ele, a gente achou a Kombi e aí deslanchou”. Com o fim do trabalho na eleição, começaram o processo de “deixar tudo pra trás”.


Airton Marques/ OD

A partida

Na pandemia, ficaram dentro de casa e cumpriram o lockdown. Com o tempo, veio a ansiedade. Com medo, Isabela chegou a pensar que talvez a pandemia poderia não acabar e eles ficariam sem viajar, algo que sempre foram apaixonados.

Sempre que tiram férias, escolhem um novo destino. Com a Covid-19, Isabela começou a ficar sem perspectiva. Até que esgotado o isolamento, estabeleceram um plano e encontraram uma luz no fim do túnel quando o sonho de viver na estrada foi tirado da gaveta.

Eles irão partir no final de dezembro e o primeiro destino será a capital do país. Em seguida, farão Chapada dos Veadeiros e subirão até o Nordeste para passar o carnaval em Olinda. Pretendem, além disso, experimentar as grandes festas e manifestações populares culturais e folclóricas que marcam a diversidade do Brasil.

“A gente não tem um roteiro fechado, porque a gente quer sentir como vai ser o ritmo da viagem, sentir a estrada, sentir a Kombi, sentir os cachorros, respeitar muito os cachorros também, porque eles vão estar conosco, dois viralatinhas. Então a gente não tem um cronograma fechado”. Tieta e Astronauta são dois vira-ladas adotados. Astronauta, inclusive, tem só três patinhas, resultado de um atropelando do passado, antes de ter sido abandonado pelo antigo tutor. 

De peito aberto desde quando encontraram a Kombi, logo começaram a viabilizar a partida. Colocaram apartamento para alugar, guardaram suas coisas com familiares para em caso de algum erro de planejamento, ter um amparo. Fizeram seguro do carro e plano de saúde.

“A gente tem noção que pode dar muito errado, sei lá, no primeiro mês. A gente pode sofrer acidente, pode ser roubado, a gente pode brigar muito feio e não querer mais conviver juntos”.

A expectativa é de ficar um ano na estrada, podendo este prazo ser estendido. Têm a compreensão, também, que caso algo dê errado, “tudo bem também”. O que eles realmente querem, além de cumprir metas ou trajetos, é viver a experiência e sentir o que o caminho poderá proporcionar.

O futuro

Ainda sem saber definir o futuro após o percurso, elencaram, porém, dois cenários. O primeiro seria voltar e procurar emprego. O segundo: “podemos achar uma casinha no Nordeste que a gente consiga viabilizar trabalhar remoto e ficamos por lá. Não sei, tudo pode acontecer”, disse Isabela.

“Se a gente conseguir um trabalho legal, remoto, se a gente conseguir viabilizar isso, acho que talvez a gente fique mais tempo ou pare em algum lugar. A gente não tem certeza de nada”, acrescentou o marido.

“A gente está largando uma rotina super estável e começando alguma coisa cheia de incertezas. E o caminho mesmo vai conduzir a gente para algum lugar. A gente tem noções vagas do que pode acontecer. Mas, o caminho vai nos dizer”.

Das dificuldades

A maior dificuldade encontrada por eles para iniciar o plano foi ter coragem para tirá-lo do papel. Mil maravilhas quando nada era palpável. Mas, na hora de anotar na ponta da caneta, “bate um medo e incertezas. Você vai deixar o emprego, salário, viver em uma casa vulnerável. Então a decisão foi o mais difícil”.

O fato de terem que se adaptar para uma vida de “mínimos”, considerando o espaço limitado do carro, também causou estranheza. “O mínimo de roupa possível, o mínimo de utensílios doméstico possível, o mínimo de comida possível, é tudo mínimo”.

Individualmente, Isabela, por exemplo, sentiu em ter que abrir mão de sua organização e do controle que tem sobre a própria rotina. “Sempre fui super organizada, de fazer lista das coisas que vou fazer no dia, na semana. Então essa está sendo uma dificuldade pra mim”.

Lucas encontrou problemas em ter que desapegar de seus livros, revistas e objetos acumulados durante a vida. “Na Kombi não vai ter espaço para nada disso”.

Mas, em contraponto às adaptações para o mínimo, abraçaram a ideia de viver a liberdade em plenitude. “É meio que uma ideia de viver a liberdade. De fazer suas escolhas ali fora de uma rotina, mas acabar criando uma nova rotina”, finalizaram.

Serviço

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