O Coletivo Spectrolab de Intestigação Cênica foi selecionado para o Programa Cruzamentos, por meio do Edital Bolsa Funarte e Aliança Francesa de Residências Artísticas em Artes Cênicas Brasil/França. O grupo vai passar por Cuiabá, Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Grenoble (França) a partir de segunda-feira (5).
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O objetivo do projeto é promover um intercâmbio cultural entre os dois países e fortalecer a cena do teatro de formas animadas no Brasil, já que a França é referência internacional na modalidade artística. A linguagem utiliza objetos, bonecos, marionetes e outros elementos animais para contar histórias ou criar perfomances teatrais.
Ela é uma das principais práticas artísticas conduzidas pelo Coletivo Spectrolab, fundado em 2016 pelos artistas Douglas Peron, Millena Machado e Rakoo de Andrade, em Cuiabá. Em 2022, Rakoo estabeleceu o Collectif Artistique Spectrolab, versão francesa do coletivo, em Reims.
Atualmente, o Spectrolab desenvolve projetos artísticos nos dois países, sendo “Jantar” o primeiro projeto intercontinental do grupo, contando ainda com a participação dos artistas franceses Cassiel Bruder, Laurine Chalon e Morgane Carlyle, além do brasileiro Caio Ribeiro, que também é integrante permanente do Spectrolab.
“Vai ser nosso primeiro grande projeto juntos, após quase 5 anos longe. Será uma grande oportunidade de fortalecimento entre a nossa antena Brasil-França, além do intercâmbio de experiências que cada membro do coletivo vivenciou ao longo desse período”, conta Millena.
Ela e Dougas iniciaram a criação do espetáculo “Jantar” em 2021, com uma apresentação piloto em Cuiabá, patrocinada pelo Banco da Amazônia.
"Jantar" e as questões ambientais
O projeto nasceu a partir da coleta de materiais residuais, especialmente lixo eletrônico. Utilizando esses materiais, a dupla produziu bonecos e máscaras, explorando cenas que simbolizam aspectos culturais e ambientais da Amazônia Brasileira, como animais e personagens folclóricos.
O enredo é uma releitura da figura folclórica Capelobo, uma lenda presente nas regiões amazônicas e na cosmologia de povos indígenas do norte do país. Nas histórias, essa figura vive nas florestas e é conhecida por ser uma combinação híbrida entre um ser humano e um tamanduá-bandeira.
O espetáculo, dirigido por Rakoo e com dramaturgia de Caio, aborda questões ambientais relacionadas ao descarte de resíduos e seus impactos na vida da Amazônia e também do cerrado e pantanal, os três biomas presentes em Mato Grosso.
Outros temas são o aumento da mineração nas florestas brasileiras e o uso excessivo de novas tecnologias de exploração do meio ambiente. Na história, uma família vive e trabalha sob a influência de uma fábrica instalada no interior do Brasil. Seus integrantes possuem cabeças de tamanduá-bandeira e sentem os mistérios de uma vila assombrada por momentos de terror.
“Trabalhar com estas cosmologias folclóricas é uma maneira de continuar construindo nosso imaginário social mato-grossense, um Estado cheio de riquezas e contradições” comenta Caio Ribeiro, que além de assinar a dramaturgia do grupo, é antropólogo formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Residência brasileira
Em solo brasileiro, a primeira residência artística do Spectrolab acontecerá em Belo Horizonte, entre os dias 5 e 13 de junho, na sede do coletivo mineiro Pigmalião Escultura que Mexe. O grupo é reconhecido internacionalmente por sua trajetória no teatro de bonecos, com apresentações e oficinas realizadas em países como França, Portugal, Espanha, Itália, Suíça e País de Gales.
O objetivo é reconstruir as cabeças de tamanduá e promover encontros entre a Aliança Francesa e os artistas franceses e brasileiros envolvidos no projeto, inclusive o in-Próprio Coletivo, grupo mato-grossense que também apoia o projeto e atualmente está baseado em Belo Horizonte.
Na segunda etapa de residência no Brasil, entre os dias 13 e 27 de junho, os artistas brasileiros e franceses se reunirão em Cuiabá, com passagens também por Chapada dos Guimarães (MT) e pelo pantanal mato-grossense.
O grupo dará sequência à dramaturgia, iluminação, trilha sonora e investigação corporal do espetáculo. A iniciativa movimentará pelo menos três espaços culturais de Cuiabá, entre eles o LABIRINTO Espaço Criativo, onde está localizada a sede brasileira do Spectrolab.
Já na gravadora Sumac Records, a equipe se reunirá com Lucas Oliveira, responsável pela sonoplastia de “Jantar”. Por fim, no Cine Teatro Cuiabá, os artistas ainda promoverão um encontro com alunos da MT Escola de Teatro no dia 16 de junho.
A terceira e última etapa da residência brasileira acontecerá entre os dias 27 de junho e 4 de julho, na sede da Aliança Francesa Botafogo, no Rio de Janeiro.
Residência francesa
Já na França, os artistas brasileiros e franceses embarcam para Grenoble, entre os dias 2 e 30 de novembro, onde a atenção estará voltara aos ensaios, à adaptação final das marionetes, ajustes de figurinos e cenários, além da tradução do espetáculo para o idioma francês.
O grupo também ministrará uma oficina criativa e fará uma apresentação do espetáculo ao público, no dia 30 de novembro. A apresentação será no Teatro MC:2, um dos mais tradicionais de Grenoble, conhecido por sua estrutura e arquitetura.
Em poucos mais de 7 anos de trajetória, o Coletivo Spectrolab coleciona uma série de projetos artísticos, educativos e de pesquisa, selecionados em editais públicos e privados, tanto no Brasil quanto na Europa.
Alguns de seus principais projetos ainda incluem "Agustino Peixe Grande", "Da Lama Nasce", "Maiêutica", "Epifânia", "Resí(duo)", "Coió", "Laboratório Corpos Residuais", "Ensaios com Ela", "Le vide entre la tête et la queue" e "Do que Restou".
