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Domingo, 28 de abril de 2024

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homenagem da ufmt

"Sou um homem de quantidade", disse Wlademir Dias-Pino durante solenidade para receber título de Doutor Honoris Causa

Foto: Marianna Marimon

Wlademir Dias-Pino

Wlademir Dias-Pino

“Eu sou um homem de quantidade”, assim se definiu Wlademir Dias-Pino, artista de vanguarda que recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), nesta terça-feira (10). São muitas atribuições à Wlademir, pai do poema-processo, do intensivismo e um dos nomes mais expressivos do concretismo. Um artista de muitas facetas, porém, tímido e reservado, alega que “não se dá à ousadias, mas quando me dão ousadia, aproveito para cutucar a ferida e fazer coçar”.

Crítico ferrenho da instituição que ajudou a criar, em seu discurso lido por Larissa Freire, filha de Silva Freire, seu antigo e saudoso amigo, relembra com emoção os tempos da Universidade da Selva. O artista lamenta o fato de que o acervo de Estevão de Mendonça está guardado no porão da instituição, e cobra a memória histórica daqueles que fizeram história no Estado.

“A pesquisa em Mato Grosso é muito difícil, porque é um Estado que não tem memória e o próprio Estevão dizia: morrer em Cuiabá, é morrer duas vezes, porque é um silêncio medonho”, disse ao recordar de nomes como Estevão e Rubens de Mendonça.

Wlademir se diz orgulho de ter feito o livro-poema “AVE” em Cuiabá, por ser parte de um movimento literário intitulado de ‘intensivismo’.

E o artista despeja seu conhecimento amplo de vida em palavras que soam com clareza, antecipando o momento que ainda há de vir e assim solta sentenças como: “A realidade física não existe mais. Não existe mais a realidade do primor, só do rigor”, explicou ao discorrer sobre a relação do homem com a tecnologia e a produção.

Mas, o artista vai além, e sobre a discussão da preservação da memória histórica, Wlademir ressalta: ‘se somos descuidados com a memória, como vamos nos preparar para o futuro?”, questiona.



E suas ponderações rompem o senso comum e exploram um universo que ainda está sendo pensado: “como registrar o pensamento contemporâneo”, acrescenta. Afinal, Wlademir é um homem à frente do seu tempo. Nascido em 1927, lançou o primeiro livro aos 15 anos. Cresceu ao redor dos tipos de impressão na gráfica do pai, e talvez seja aí que começa uma relação diferente com os símbolos e signos.

Não é que Wlademir seja contra o alfabeto, mas sua visão é tão além que não pode ser fundamentada em conceitos pré-estabelecidos. “A palavra linguagem já está errada”, opina. Porque para Wlademir, a arte pode estar em tudo, desde a matemática à arquitetura. A sua principal luta é mostrar que o poema independe da poesia e pode estar e acontecer em todos os lugares.

Uma dificuldade vivenciada até para explorar a sua arte como forma de difusão, já que busca elementos que vão além da palavra escrita. Desvencilhado de pretensões de autoria, já que se diz contra qualquer tipo de autoria, Wlademir também é um artista diferente, garante que nunca vendeu um sequer quadro.

“Como posso vender a arte se eu não a inventei? Como posso cobrar por algo que a sociedade me deu?”, segue Wlademir com seu discurso rompante de quem se doa para a vida, sem esperar nada em troca.

Um artista simples, de uma grandeza incomparável e inconfundível. Em suas palavras, todos os olhos voltados em atenção para ele. É uma fonte inesgotável de conhecimento, do mais profundo ao mais amplo, com uma visão de vida inigualável. E para finalizar, nada melhor do que se dar a dimensão deste grande artista, que criou o logotipo da UFMT, do Teatro e tantas outras obras que em sua grande parte, permanecem desconhecidas do público.

“Eu não tenho medo das coisas grandes, eu sou irmão delas. Eu tenho medo é do micróbio que ninguém vê”, concluiu sem concluir nada, apenas deixando fluir seu conhecimento interminável sobre o mundo.
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