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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Coluna de estreia: O nerd é o novo cool

Arquivo Pessoal

Não faz tanto tempo assim, eu me lembro perfeitamente, os Nerds eram motivo de chacota. No cinema eram os gordinhos, as meninas tímidas, os magricelas, quase todos cheios de espinhas e com seus olhares distraídos por detrás de fundos de garrafa, lendo seus gibis e jogando seus videogames. Eram enfim os "impopulares", ou no máximo o coadjuvante esperto que ajuda o fortão bonitão e a mocinha linda e loira viverem felizes para sempre.

Aqui em terras tupiniquins o fenômeno veio mais tarde e com menos força, com sabor de "Seção da Tarde" nos anos 90, mas ainda assim o pessoal que fazia "Datilografia" (se você fez curso disso deve ter pelo menos 30 anos) ficava intrigado com o advento dos computadores CP500 e depois do indefectível 386.

Quem com mais de 30 anos não sonhou um dia em ter um 386 com 2mb de memória RAM e incríveis 33 Ghz?! Não se esquecendo do botão Turbo, afinal, para a esmagadora maioria dos programas, 33Ghz era rápido demais e desligar o Turbo permitia tudo rodar direitinho.

Mas esses anos 90 eram outros tempos, computadores eram para pessoas com um certo aporte financeiro, celulares eram coisa de gente realmente rica ou com empregos que tinham emergências constantes, a internet então era um mistério, assunto de inúmeros filmes de hackers misteriosos e androides assassinos, de “Tron” à “Johnny Mnemonic”.

Uma coisa aconteceu no final dos anos 90, uma coisa imensa que catapultou a cultura tecnológica e colocou em evidência um universo que antes era restrito e essa coisa foi o “The Matrix”, filme de 1999 dos irmãos Wachowski (que agora são irmão e “irmã”) derrubou queixos pelo mundo, um fenômeno cultural que fechou com chave de ouro os anos 90 e preparou a década tecnológica que viria depois.

Depois disso tudo passou num flash acelerado; A Apple renasceu com o Ipod, os celulares e computadores invadiram todas as casas, depois os celulares viraram computadores com a explosão do Iphone, Steve Jobs agora é um herói, o Nerd franzino dos anos 90 agora é um Popstar; Sim, os anos 2000 foram palco de uma revolução na humanidade, a revolução da informação, não é a toa que toda criança quer um Tablet de presente de natal.

Houve quem dissesse que era um fenômeno passageiro, mas quando a indústria dos jogos eletrônicos, que antes era um produto de nicho, se tornou a maior indústria de entretenimento do mundo, superando o cinema, os detratores provavelmente acharam melhor ficarem quietinhos.

Depois dos “The Matrix” e nos anos 2000 os Nerds e a cultura tecnológica passaram de coadjuvantes e curiosidades à peças cada vez mais centrais no palco social; e no intervalo de uma década já haviam se consolidado firmemente onde estão hoje, e sem perspectiva de saírem tão cedo deste local, a ciência e a tecnologia estão em evidência.

Hoje, liga-se a televisão e temos novelas da Globo sobre tecnologia, o programa de maior sucesso de público e crítica na tv americana, onde Jim Parsons, ator que vive o “Sheldon” já deve ter perdido a conta de quantos prêmios já ganhou, chama-se “The Big Bang Theory” e se você anda vivendo numa caverna nos últimos sete anos, é sobre quatro cientistas Nerds e suas empreitadas sociais, que aliás é ótimo e recomendo, e no cinema os filmes de maior sucesso nos últimos anos são os da Marvel, “Capitão América 2" e "Homem Aranha 2” acabaram de estrear com um sucessos estrondosos de bilheteria, enfim, a cultura Nerd dominou o mundo.

Como é natural, o poder político é conservador e geralmente exercido por pessoas de idade madura, mas muito em breve essa geração de jovens que nasceram num mundo onde a cultura tecnológica é dominante estará no poder e nós teremos de dar as boas vindas aos nossos novos senhores, os Nerds. Sheldon para Presidente!

*Victor Campos é formado em direito, cientista social, poliglota e cozinheiro. Divide seu tempo entre a família, leitura compulsiva e videogame. Ocasionalmente também trabalha.


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