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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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“Bandido bom é bandido morto!” pobre e preto!

Arquivo Pessoal

Não vou falar de cotas raciais e a importância delas em sociedade. Não vou falar da maioria negra que povoa os presídios brasileiros. Não vou falar que a maioria dos desempregados do país é negra. Não vou falar que a cor da favela é preta. Não vou falar que o mais baixo escalão trabalhista é preto.

No Brasil existe alguma diferença entre o bandido bom e o bom bandido. Afinal, existem diferenças? Veremos.

Fala-se por ai que nesse país não existe justiça. Eu discordo plenamente. Existe sim justiça! A justiça nesse país existe apenas para os ricos e funciona com todos os recursos necessários. Para eles os julgamentos respeitam todos os trâmites e instâncias nos tribunais. Ao lado dessa justiça que serve apenas aos ricos, está a “justiçagem” que serve aos pobres. Gosto de empregar essa palavra dessa forma para poder melhor diferenciar. A “justiçagem” é feita com as próprias mãos se preciso for. Ela tem aclamação popular na maioria das vezes. Alguns jornalistas até estimulam, como no caso da repórter do SBT Raquel Sheherazade e suas balbucias em horário nobre.

No Brasil, para ser um bandido bom potencial, basta ser preto e pobre. Já para ser um bom bandido, basta ser político, empresário ou ter muito dinheiro.

O bandido bom é amarrado no poste, apedrejado, linchado ou trancafiado numa cela superlotada com 10 vezes de sua capacidade. São como tantos Amarildos. O bandido bom é aquela criança que cresceu sem acesso a escola. Não mora no Jardim Itália. Não frequenta a choperia do Getúlio. Ele mora no Pedregal, Tijucal e Osmar Cabral. Ganha salário mínimo. Bandido bom na grande maioria das vezes tem cabelo crespo e pele escura. Ele não estuda na USP, aliás, essa universidade é casa de bons bandidos que hoje fazem parte da política de nosso país. Bandido bom não estudou meus caros. Bandido bom em maioria não sabe nem o que é ler um livro ou viajar para Europa. Ele é o estudante africano Toni Bernardo que veio estudar no intercâmbio oferecido pela UFMT, usou drogas como ator Fábio Assunção, vira pedinte de rua, comete erros e pequenos delitos, e perde sua vida brutalmente com consentimento da justiça sobre o fato da agressão de dois policiais e um empresário, absolvidos por espancá-lo com socos e ponta pés até sua morte. Ele era negro, e por ser viciado mereceu morrer, assim muitos disseram. Afinal, bandido bom é bandido morto!

O bom bandido é o empresário absolvido pela justiça. Ele quando vai preso passa em horário nobre dando entrevista para Rede Globo. Ele mora em residenciais de luxo do tipo Alphaville. Seus filhos estudam em boas escolas. Tem curso superior completo na malandragem. Bom bandido de verdade usa terno e gravata da Armani. Tem sorriso bonito e não lhe falta um dente sequer. Seu sapato é de cromo suíço. Usa pastinha. Tem carro importado. É o famoso bandido de colarinho branco. Isso sim é ser um bom bandido!

Bandido bom não cheira cocaína, ele fuma crack. Bandido bom também vende cocaína em paradinhas para playboys. Já o bom bandido trafica de helicóptero como no caso do Dep. Zezé Perella (PDT) e os 445 kg de pó encontrados no ES.

Bandido bom assalta banco. Já o bom bandido inaugura o banco, ele é sempre rico e poderoso. Bandido bom é bandido morto e bom bandido é bandido vivo.

O bom bandido sabe que com todo seu poder e grana os julgamentos da justiça dos homens não o atingem. No Brasil, a justiçagem dos homens é para pobre e negro.

Porque não afirmamos de das coisas que mais me indigna é o fato de não vermos alguém dizer de forma contundente que bandido bom é bandido morto para quem tem é da alta sociedade. Alguém já ouviu dizer isso para o bicheiro João Arcanjo? Não só para ele, mas para toda sua máfia que financiou campanhas em MT? Porque não falamos que bandido bom é bandido morto para um ser como o Dr. Paulo Maluf de SP? E se o Dep. José Genoíno (PT) morresse do coração, alguém diria isso? Ou de Pedro Henry e toda sua corja de Cáceres? Porque não levamos ao pé da letra essa máxima da bestialidade para nossos políticos corruptos? Porque não dizemos que bandido bom é bandido morto para quem rouba dinheiro dos cofres públicos? Porque não acorrentamos e deixamos pelados em praça pública aqueles que desviam dinheiro da educação? Porque a polícia não executa quem rouba dinheiro da saúde? Porque o BOPE e o Caveirão não invadem o parlamento em Brasília? São tantos porquês.

Temo que um dia algum filho meu venha me fazer perguntas tão óbvias e sem respostas. Ele vai crescer ciente que para ser um bom bandido, é preciso ser muito bom. Muito bom mesmo!

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teoria em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia]. Escreve todas às sextas-feiras na coluna Filosofia de Boteco.


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