As manifestações iniciadas a quase 15 dias em São Paulo, e que tinham como objetivo único impedir o governo estadual de lá de aumentar a tarifa do transporte público, ressoaram Brasil afora e chegaram ao interior de Mato Grosso com força tamanha que autoridades, principalmente do Poder Executivo, ainda se encontram perplexas.

Manifestantes picham vidros da Assembleia, ateiam fogo em container e gritam 'Manda conta pro Riva'; Fotos e vídeo

Cerca de 10% da população de Cuiabá foi para as ruas protestar contra corrupção

O prefeito de Primavera do Leste, Erico Piana (DEM) provavelmente é uma delas. Imaginar que um dia teria que colocar a força policial em frente à sua residência para impedir que algumas centenas de manifestantes, desgostosos com o descaso das autoridades com serviços públicos como saúde e educação, nunca deve ter passado por sua cabeça.
Pois foi o que aconteceu nesta quinta-feira (20). Impedidos por um cordão policial de protestar em frente a Prefeitura Municipal, manifestantes se dirigiram a residência do chefe do Executivo. Lá chegando, encontraram outro cordão formado por demais policiais.

Após horas de caminhadas pelas principais vias públicas de um dos mais ricos e violentos municípios de MT, os manifestantes resolveram sentar de fronte a casa de Erico, à espera do prefeito.
Sem sucesso.

Um dos manifestantes foi preso. Carregava em sua bolsa uma bomba qualquer. Provavelmente querendo explodir o sistema, como a maioria dos mais exaltados se coloca ao dispor. Este também não foi atendido pelo prefeito. Ninguém foi. O recado, contudo, foi mandado. Desenhado. Para os que não conseguiram ler o que estava escrito nos cartazes.

No município de Alto Araguaia também houve manifesto. Quatrocentas pessoas. Em Sorriso, Alta Floresta e Lucas do Rio Verde. Por lá, assim como por cá, pintaram-se rostos, quebrou um pouco de tudo aqui, acolá. Dizem que em Rondonópolis entre 6 e 10 mil pessoas ‘chutaram o pau da barraca’. Bombearam o Paço Municipal com bombinhas de festa junina e cartazes poéticos.

Em Cuiabá falam de algo em torno de 50 mil cidadãos mobilizados. Coisa linda de se ver aquele mar de gente. Todos, ou pelo menos a grande maioria, empatizaram com lágrimas de canto de olho. Alguns juram que inclusive membros da burguesia se emocionaram. Duvido. Muito.

Em Barra do Garças a Polícia Militar contou três mil. Nesta sexta-feira (21) cidades como Tapurah e Sinop experimentarão, pela primeira vez, o gostinho de uma passeata. Alguns defendem o vandalismo e dizem que sem ele as autoridades não se sentem motivadas a mudar.

Outras condenam veementemente qualquer ato que coloque em risco pessoas e patrimônios, sejam eles público ou privado.

Poucos ou muitos, vândalos ou educados, pobres, ricos, altos, baixos, magros, gordos, brancos e negros. Velhos e jovens. Ao que parece, o gigante acordou a todos.