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Sábado, 04 de maio de 2024

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Em parto humanizado, cuiabana dá à luz a gêmeos com sete horas de intervalo entre os bebês

Foto: Elis Freitas

Primeiro bebê nasceu à 1h31, e o segundo às 7h48

Primeiro bebê nasceu à 1h31, e o segundo às 7h48

Há oito dias, no dia 16 de junho de 2016, Gael e Athos vieram ao mundo. Gêmeos, os dois nasceram com sete horas de intervalo, embalados por uma mãe forte que chegou até mesmo a parir de pé e tirar – ela própria – o primeiro bebê. Damaris Carvalho, mãe, tem 36 anos e conta que depois que sua bolsa estourou, foi até mesmo no salão fazer as unhas e escova no cabelo. E tomou banho logo depois de cada parto.

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O trabalho de parto de Damaris, na verdade, começou há quase um mês. Em três quintas-feiras seguidas, ela teve contrações e chegou a pensar que eles iam nascer – mas eram alarmes falsos. Na primeira vez, ficou com três centímetros de dilatação. Na segunda, os bebês desceram um pouco e o colo afinou, e ela continuou com os três centímetros. Na terceira vez, chegou a cinco centímetros. Só na semana seguinte, na quarta-feira, percebeu que sua bolsa estourou enquanto levava um documento para protocolar no trabalho.

“Eu não sabia se a bolsa tinha rompido ou não, porque foi pouca água e eu não tive contrações. Ainda passei no salão, fiz a unha, fiz escova, fui pra casa descansar, comi, só depois fui pro hospital, quando a dor estava mais forte”, conta a servidora pública ao Olhar Conceito.

Depois que chegou no hospital, no entanto, o processo foi rápido, e Gael não esperou nem mesmo que a mãe se deitasse. “Cheguei na suíte, estava indo pra cama e pari, em pé mesmo, e eu mesma que tirei”. O primeiro parto foi à 1h31 de quinta.


Damaris pariu Gael de pé, e ela mesma que tirou (Foto: Elis Freitas)

Logo depois do parto, as contrações diminuíram. “É normal diminuir, como é normal nascer um depois do outro. Mas como hoje em dia existe uma ideia de que gêmeos só podem nascer de cesárea, normalmente eles nascem com dois minutos de diferença”, afirma. Com ela, no entanto, foi diferente. Damaris passou toda a madrugada aguardando a chegada de Athos. Vez em quando, as contrações aumentavam, principalmente quando ela amamentava Gael. “Mas não dá pra ficar amamentando durante todo o trabalho de parto, né?”, brinca.


Damaris deu à luz a Athos sentada (Foto: Elis Freitas)

Às 7h48, Athos nasceu. Neste caso, Damaris optou por injetar um pouco de ocitocina, pois já estava com sono e fome. “Eu dormi um pouco, acordei com fome, mandei o marido comprar pão. Aí pedi pra injetarem a ocitocina porque já estava cansada. Mas é bem diferente isso do que se faz em alguns hospitais, quando a mãe está com quatro centímetros de dilatação e injetam para que ela dilate na marra. Eu já estava com dilatação máxima, foi só uma forcinha”, disse.
Vinte minutos depois do segundo parto, Damaris estava de pé, andando para sua suíte e tirando foto com a equipe. “Tem gente que fala ah, duas horas depois eu estava de pé. Eu, na verdade, pari de pé e estava andando dois segundos depois, né?”.


Athos e Gael (Foto: Elis Freitas)

Conhecimento é liberdade


Davi ouvindo a barriga da mamãe Damaris; a bolsa tinha estourado horas antes (Foto: Elis Freitas)

Gael e Athos não são os primeiros filhos de Damaris. Há dois anos e quatro meses, ela deu à luz a Davi, seu primeiro filho, que também nasceu de parto normal, num procedimento que durou trinta horas entre a primeira contração e o nascimento.

O processo de aceitação da ideia do parto normal, no entanto, não foi tão simples. “Na minha adolescência e juventude eu sempre dizia que queria ter filhos de cesárea. Até porque todas as histórias de parto que eu já tinha ouvido eram horrorosas. Até mesmo a da minha mãe, do meu nascimento”, conta.

Depois que se casou e começou a pensar nos filhos, Damaris decidiu estudar o assunto. Percebeu que as histórias que conhecia, na verdade, eram rodeadas de violência obstétrica e de uso de procedimentos dolorosos para acelerar o processo do parto.

“Eu assisti o vídeo promocional de um documentário, ‘Renascimento do Parto’, que me deixou muito intrigada. Duas falas nele me deixaram com a pulga atrás da orelha, uma que dizia que as mulheres eram levadas a se sentirem incapazes de parir, a ter a sensação de que o parto normal não dá certo, e a outra que mostrava como os médicos usavam dados falsos para indicar que a cesárea era ideal. Fiquei revoltada com aquilo”.

Depois da revolta, Damaris foi pesquisar afundo sobre a cesárea, e descobriu que, por exemplo, a cirurgia bariátrica (que muitos temem), mata menos do que o procedimento cirúrgico do parto. “Eu já sabia que não queria mais a cesárea, mas ainda tinha medo do parto normal”, conta.

Aos poucos, ela leu mais sobre a violência obstétrica: “Percebi que aquela era a realidade da minha mãe e de tantas outras, e que o que eu tinha medo, na verdade, era disso. Eu tinha certeza de que não precisava passar por isso”.

Assim, mesmo antes de engravidar de Davi (seu primeiro filho), procurou profissionais dispostos a fazer um parto humanizado com ela. Quando o dia chegou, já tinha lido tanto sobre o assunto que sabia exatamente o que tinha que acontecer, e que estava tudo dando certo, mesmo com as longas horas de trabalho.

“Davi era um bebê grande, nasceu com 4,220kg, e estava alto. Tivemos que esperar ele descer, e da primeira contração até a dilatação demoraram 21 horas. Qualquer outro médico não teria esperado, teria dito que ele era grande demais”, explica. Segundo a mãe, o importante, mesmo que o parto demore, é que o bebê esteja sempre assistido, ou seja, que o médico siga ouvindo seu coração para ter certeza que ele não sofre.

Dois anos e quatro meses depois, a mesma equipe ajudou Damaris a trazer Gael e Athos ao mundo. Mesmo com todo o misticismo sobre o parto de gêmeos, ela se lembra da resposta que dava para quem dizia que o parto normal era impossível: “Seria difícil se fosse sair as duas cabeças ao mesmo tempo, né? Mas é uma de cada vez, é tranquilo!”, brinca.

Com três filhos nascidos de parto humanizado, ela afirma que defende, acima de tudo, o conhecimento: “Tem muita gente que fala ah, vocês são contra a cesárea. Não é isso. Se a pessoa tem o conhecimento, sabe dos riscos e opta pela cirurgia, tudo bem. O que me dói é quando a mãe é induzida pelo médico a fazer essa escolha. Por isso, se pudesse dar uma recomendação, seria para que todas as mulheres buscassem conhecimento para optar, com consciência, pelo que querem”, finaliza.
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