“Uma mulher grandiosa”, é como a professora de pole e estudante de Educação Física, Patrícia Ribeiro, de 23 anos, descreve a si mesma. A grandiosidade de Patrícia deixou de caber nas sentenças e decisões da área jurídica e fez com que ela, mesmo recém-formada e bem posicionada no mercado de trabalho, deixasse o Direito para se aventurar nos giros que executa na barra.
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Apesar de ainda ser uma mulher jovem, Patrícia conta que por muito tempo sentiu que estava sentenciada a seguir em uma única profissão, no caso, o Direito. A mudança para o mundo artístico pegou de surpresa e foi uma quebra de expectativa para as pessoas que rodeiam a instrutora de pole.
“Isso ocorre muito quando estamos no ensino médio, as pessoas esperam que a gente saia com a profissão da vida. Comigo não foi diferente. Existiu uma expectativa em cima de mim na área jurídica. Ainda mais para trabalhar com o meio artístico que aqui no Brasil sabemos que não é valorizado. Saí de uma profissão que é cobiçada para ir para a Arte”.
Patrícia se lembra que, no ensino médio, enquanto as amigas já nutriam certezas sobre as futuras profissões, ela ainda não havia encontrado algo que brilhasse os olhos. O Direito surgiu de um dos conselhos do pai e a jovem conta que, por boa parte do tempo, se viu apaixonada pelo curso.
“Quando abracei o direito, eu realmente abracei, porque tudo que eu pego para fazer é isso. No começo fez sentido, até a metade do curso ainda era algo meu. Ainda que não fosse algo que me brilhasse os olhos, amava ter minha independência financeira e gostava do trabalho. Estava cada vez mais perto de me formar e não me via mais trabalhando no que eu estava fazendo há quase quatro anos. Foi quando pensei: ‘e agora?’".
Era 2021 e a bacharel em Direito colou grau virtualmente por conta da pandemia da covid-19. Mesmo sendo uma mulher sorridente, Patrícia enfrentou momentos turbulentos antes de decidir colocar em prática a decisão de migrar para o mundo artístico.
Por medo de decepcionar os pais, a jovem decidiu guardar a incerteza do futuro apenas para si. Não demorou para que sintomas de depressão começassem a aparecer.
“Muita gente colocou investimento financeiro ou de tempo, muitas pessoas me ajudaram. Nadei, nadei, para chegar no final e falar que não queria mais. Caí em um buraco da depressão, estagnei e me vi totalmente perdida. Sentia que não tinha opções, mas não dividia isso, porque não queria frustrar ninguém com a minha frustração”.
Paixão pelo pole dance
Patrícia conta que desde que fez a primeira aula de pole, há mais de dois anos, nunca mais parou de treinar os movimentos que envolvem força e flexibilidade corporal. A ideia de praticar o esporte surgiu por orientação da psicóloga da jovem durante o tratamento para depressão. Como não gosta de fazer academia, ela começou a procurar alternativas e, por acaso, descobriu o pole dance.
“Na primeira aula de pole foi muito louca a sensação de ver o que meu corpo era capaz de fazer. Vendo a demonstração parecia impossível. Juntou essa questão do desafio de conseguir fazer uma acrobacia ou movimento, foi um sentimento de superação, gostei muito da sensação. Não tinha me identificado com uma atividade física antes”.
Depois de colar grau, enquanto ainda estava trabalhando em um super estágio do Direito, Patrícia começou a perceber que era no estúdio de pole que vivia os momentos de plenitude. Em um dia de frustração, ela desabafou com a instrutora sobre o que estava passando e recebeu um convite tentador para se capacitar e dar aulas no local.
“A Aisha, que é a dona do Mátria, começou a conversar comigo e dividi com ela que estava completamente infeliz. Sou uma mulher que sabe o potencial, realmente me reconheço como uma mulher grandiosa. Mas não via meios de ser assim na carreira jurídica. A Aisha falou: larga tudo lá e vem trabalhar comigo. Eu ri, mas à tarde fui trabalhar e mandei uma mensagem: você falou sério?”.
Com a resposta positiva, Patrícia começou a se capacitar para ser professora de turmas iniciais no estúdio Mátria, onde atualmente é uma das instrutoras de pole. A jovem conta que começou pegando uma turma e logo foram surgindo outras. No entanto, o trabalho precisava ser secreto.
“Ninguém sabia que eu estava dando aula, foi segredo fora do estúdio. Comecei a ir pegando mais turmas e me envolvendo cada vez mais, porque já não me satisfazia mais ficar naquele mundo da área jurídica. Comecei a usar minhas redes sociais e me mostrar para o mundo como professora, contei que estava dividindo minha vida”.
Patrícia não recebeu só reações positivas quando revelou que estava trabalhando como instrutora de pole. Ela conta que os pais foram contra o desejo de mudança de carreira da jovem.
“No começo não foi legal, porque ninguém apoiou, todo mundo foi muito contra. Eu não julgo, porque foi uma expectativa, querendo ou não os pais sempre geram. Era um mundo novo e diferente para eles, outra geração. Precisei ter paciência também para entender. Não senti desrespeito, só não apoiaram”.
Durante o período em que precisou se dividir entre a Arte e o Direito, Patrícia conta que sentia como se estivesse fazendo algo errado. A demissão do super estágio chegou como uma “dica do universo”, como define, para que o pole pudesse começar a ocupar uma parte maior da vida da jovem, algo que ela já desejava há muito tempo.
“Foi como se a vida tivesse me dado um empurrão, porque eu não estava acreditando 100%. Decidi que pararia de estudar para OAB, já não era um sonho que fazia sentido e tudo bem ele ficar adormecido. Se algum dia eu decidir voltar, retomo isso. Comecei a investir tempo de estudo e financeiro no pole”.
“Vai com medo mesmo”
Depois do primeiro impacto causado pela demissão, Patrícia respirou fundo e começou a se apresentar como professora de pole, além de se capacitar profissionalmente para trabalhar como instrutora no estúdio Mátria. Ela explica que financeiramente foi complicado, já que viu sua renda diminuir consideravelmente.
“Não vou mentir, no começo foi muito difícil, até eu conseguir caminhar de uma forma legal só com o pole. A minha renda diminuiu demais e eu precisava investir muito nas capacitações. Nisso a Aisha também foi um anjo, porque ela sempre ajudou muito. Ela sempre foi fantástica e eu devo muito por ela ter sido a única pessoa que me deu base. Acho que às vezes é só isso que a gente precisa”.
Patrícia conta que precisou ser corajosa para não ser paralisada pelo medo de se arriscar. “Vai com medo mesmo”, aconselha a jovem. Quando olha para a Patrícia de cinco meses atrás, a instrutora confessa que se surpreende quando percebe que está exatamente onde queria estar no passado: se dedicando 100% ao pole.
Depois de começar a trabalhar como instrutora, Patrícia iniciou faculdade de Educação Física. (Foto: Arquivo Pessoal)
“Agora vivo uma vida extremamente alinhada ao meu propósito, que é principalmente com mulheres e atividade física. Sempre soube que era uma mulher grandiosa demais e livre demais para ser enquadrada em um plano que fizeram para mim. Vivo a minha liberdade, vivo o que eu amo e faz sentido para mim. Consigo ajudar outras mulheres a sentir o que senti”.
Além da nova profissão, decidiu começar a faculdade de Educação Física, já que tinha curiosidade de entender mais sobre as potencialidades do corpo humano para poder tornar suas aulas ainda mais completas.
“Minha rotina hoje, por incrível que pareça, é muito mais pesada e cansativa do que era, ainda mais agora que comecei a faculdade de Educação Física. Só que o prazer que eu sinto, é inexplicável. É como se eu quisesse viver esse cansaço, apesar de eu viver para o meu trabalho, sou completamente realizada e feliz. Isso era algo que eu desconhecia”.
A jovem não consegue conter o sorriso e esconder o brilho nos olhos quando lembra a experiência de ter dado aula pela primeira vez. Ela conta que se emocionou quando percebeu que tinha conseguido passar o conhecimento para outra mulher. No pole, Patrícia conta ter se identificado mais com a modalidade sensual, no entanto, o esporte possui variações esportivas e coreográficas, por exemplo.
“É incrível ver a alegria das mulheres que chegam aqui e conseguem executar os movimentos. Agora a Educação Física me mostrou um leque de possibilidades infinito, se antes eu queria saciar minha curiosidade nas questões do pole, agora descobrir outros caminhos para o pole e também como educadora física”.