O diretor e produtor Lee Daniels garante ao G1 que não esperava o sucesso de “O mordomo da Casa Branca” e que os estúdios afirmavam que ninguém veria o longa-metragem. O filme arrecadou cerca de US$ 25 milhões somente no fim de semana de estreia nos Estados Unidos. Conta a história do mordomo fictício Cecil Gaines, que presta serviço durante sete mandatos presidenciais na Casa Branca, entre 1957 e 1986. Citado pelos críticos entre os favoritos ao Oscar 2014, o longa estreia no Brasil em 1º de novembro.

“Os estúdios diziam que ‘você não vai fazer nada’, e quando todos os estúdios dizem que ninguém vai ver esse filme, você meio que acredita, mas eu deveria saber, por que eles disseram a mesma coisa sobre 'Preciosa', sabe? Mas eu estava pensando, algumas vezes os estúdios subestimam a inteligência do público, o que o público quer ver e eu acho que isso é um exemplo disso”, opina. Ele conta ainda que não pensa sobre o Oscar, que procura sempre focar no seu próximo filme para não correr o risco de ter os seus sentimentos feridos caso os resultados não sejam o que se especula na mídia.

“Eu tento manter minha mente em uma bolha porque eu acho que no momento que eu começar a ouvir as pessoas falando sobre, eu vou ficar vulnerável, e eu não quero ficar vulnerável, porque se nada acontecer, eu não quero ficar com meus sentimentos feridos. Não penso muito sobre isso”, conta.
No filme, Cecil Gaines, ao mesmo tempo em que presencia os bastidores do Salão Oval da Casa Branca na época do movimento pelos direitos civis, vive conflitos com o filho mais velho, que é opositor do sistema. Os tumultos familiares têm se tornado uma característica nas obras de Lee Daniels.

“Todos vêm de família. Eu acho que é importante contar histórias sobre família. Para mim, família é tudo que temos, então, eu tento contar histórias que eu acho são sobre experiências familiares. 'O mordomo da Casa Branca' é a história de um pai e um filho e eu fiz por causa disso. Eu não estava pensando na história afinal ou do movimento dos direitos civis. Eu fiz porque eu e meu pai não nos dávamos bem e meu filho e eu, ele tem 17 anos, então, nós batemos de frente. E no filme, eles fazem as pazes”, completa.

No paralelo dos dramas familiares de Cecil, Gloria e Louis Gaines, Lee Daniels mostra a história dos Estados Unidos. Ele contou que só percebeu que o filmo não era apenas uma história de amor entre um pai e um filho quando filmou as atrocidades que os afros descendentes passaram na época. "Era uma história maior do que isso. Era sobre crianças que lutaram para salvar a alma da América. Toda a parte do mordomo é verdade, com exceção da sequência. Glória, sua esposa, não era alcoólatra. Ela não teve um caso e não tinha dois filhos, apenas um. Eu tive que ter uma licença poética para algumas coisas para que a gente pudesse aproveitar”, brinca.

Assim como em “Preciosa - uma história de esperança”, que faturou duas estatuetas da Academia por melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante, o drama épico traz cenas cômicas. Lee contou que é proposital. “Acho que aprendi com a minha história. Tive uma lição dos escravos que vieram nos barcos da África para a América, os que riam eram os que sobreviviam. Rir é um mecanismo de sobrevivência que o mantém vivo. Então, através do filme, eu gosto de te manter rindo, porque eu não quero me levar muito a sério. Acho que em ‘A Preciosa’ isso também aconteceu, se você olhar novamente, você vai se perguntar ‘Porque estou rindo? Eu não deveria estar rindo. Isso não é engraçado, mas é’, sabe?”

Estrelado por Forest Whitaker (Cecil Gaines), Oprah Winfrey (Gloria Gaines), David Oyolowo (Louis Gaines) e grande elenco, o filme é inspirado no artigo do Washington Post “Um mordomo bem servido por esta eleição”, escrito por Wil Haygood em 2008, que contava a vida real do mordomo da Casa Branca, Eugene Allen.