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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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'Fomos contaminados pela febre do ouro', diz diretor de 'Serra Pelada'

"A relação de dois amigos ao longo de dez anos na mina”. Esta breve sinopse de “Serra Pelada”, que estreia nesta sexta-feira (18), não transparece as dificuldades pelas quais o diretor Heitor Dhalia (“O cheiro do ralo”), a roteirista Vera Egito e a produtora Tatiana Quintella passaram para levar essa história ao cinema. (Assista a uma cena do filme ao lado).
O roteiro começou a ser trabalhado em 2009 – e várias versões foram desenvolvidas durante três anos –, quando Dhalia teve a ideia de escrever uma história que se passasse no garimpo de Serra Pelada. No mesmo ano, Wagner Moura, que estava a par do projeto, foi anunciado como coprodutor e confirmado como protagonista, no papel do personagem Juliano, e as gravações foram previstas para começarem em 2011 na Amazônia.

Em entrevista ao G1, por telefone, Dhalia fala de sua relação com o ator, para quem logo mandou a primeira versão do roteiro. "Trabalhamos juntos em 'Nina', e ele fez uma participação afetiva no 'Cheiro do ralo'. Logo ficamos com vontade de voltar a trabalhar. Quando rolou o 'Serra', ele topou de cara, por nossa relação de parceria e amizade. E também se interessou em produzir", conta.

Filme encerra Festival do Rio e estreia em circuito comercial. Atraso impediu exibição em Cannes
Em 2012, com o atraso no processo de pré-produção de “Serra Pelada”, Dhalia lançou “12 horas”, seu primeiro filme feito em Hollywood, estrelado por Amanda Seyfried. Em entrevista ao G1, na ocasião, o cineasta assumiu ter dirigido um “filme de indústria”, totalmente diferente do cinema “autoral” que pretendia com “Serra Pelada”. Em junho do ano passado, Daniel de Oliveira e Sophie Charlotte também foram confirmados no elenco do longa. O ator no papel de Joaquim e ela – em sua estreia no cinema – como Tereza, a noiva de um poderoso fazendeiro da região do garimpo (Matheus Nachtergaele). Nomes como Camila Pitanga e Seu Jorge também foram cogitados pela produtora Paranoid.

Com orçamento de R$ 12 milhões, Dhalia teve que paralisar as gravações, entre julho e agosto de 2012, por conta dos custos da filmagem no Pará, onde fica o garimpo, que seriam muito maiores do que em SP. A Companhia Vale do Rio Doce não cedeu o terreno previsto como cenário e o governo do Pará decidiu não apoiar o longa.
"Vários fatores influenciaram nisso. Teve o fator emocional da equipe. Fomos contaminados pela febre do ouro, pela grandeza da produção. Todo mundo estava assustado com aquilo sem saber o que fazer. Era muito complexo e a gente teve que se proteger muito", afirma. "E questões práticas, de financiamentos que não aconteceram, e a dificuldade de filmar no Norte do Brasil. Todos os filmes que foram para lá sofreram com a logística, como o filme do Babenco, o 'Xingu'. As produções acabam sendo afetadas diretamente em seus orçamentos. E o nosso foi crescendo tanto que era impossível saber onde ia terminar. Foi dramático", conta Dhalia.
Outro problema foi a agenda de Wagner Moura. Chamado para filmar “Elysium” no exterior e convidado para um filme sobre Federico Fellini - que acabou não sendo realizado -, ele teve que abrir mão do papel principal em “Serra Pelada” e ficar com um personagem secundário, o vilão Lindo Rico, que exigia menos dias no set. Em entrevista ao “Fantástico”, Moura falou sobre os imprevistos encontrados pela produção. "Hoje em dia, onde era Serra Pelada, é um grande buraco alagado. Tem água lá. A gente terminou filmando mesmo em SP, e ficou igual. As imagens são impressionantes. Ficou idêntico. A gente usou muita imagem de arquivo, alguns efeitos de computação", afirmou. "É incrível como a gente no Brasil consegue fazer um filme desses. Um épico como 'Serra Pelada', com o dinheiro que a gente dispõe. Os americanos não acreditam. Um filme como 'Serra Pelada' eles só conseguiriam fazer com milhões de dólares", completou.

Fomos contaminados pela febre do ouro, pela grandeza da produção. Todo mundo estava assustado com aquilo sem saber o que fazer. Era muito complexo e a gente teve que se proteger muito"
Heitor Dhalia, cineasta

O longa, então, foi filmado entre outubro e novembro de 2012 em Mogi das Cruzes, em SP, onde o garimpo foi recriado em uma antiga mineradora que dispunha de uma cava do tamanho de dois campos de futebol e com 100 metros de profundidade. A escolha dessa área foi definida após vários voos de helicóptero por SP e de visitas ao local, e contou com a assessoria do consultor ambiental Pedro Stech. Os cenários da vila, bares e prostíbulos foram filmados em Belém, e um aterro sanitário em Paulínia (SP) foi utilizado como cenário para o acampamento dos garimpos.

No lugar de Wagner Moura e Daniel de Oliveira - que também saiu do elenco por conta de "agenda" -, entraram Juliano Cazarré e Julio Andrade nos papéis de Juliano e Joaquim, respectivamente. "Foram escolhas acertadíssimas. São atores maravilhosos. O Julio já até estava escalado no filme no papel do Lindo Rico", diz Dhalia. O atraso impediu que "Serra Pelada" fosse exibido no Festival de Cannes deste ano. A estreia mundial foi no encerramento do 15º Festival de Cinema do Rio, no início de outubro. "Ele foi muito bem recebido pelo público tanto no Rio como em SP, nas pré-estreias. Está sendo um fenômeno instantâneo", anima-se o diretor.
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