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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Flor Brilhante

Cineasta de MT produz e dirige documentário sobre Guarani Kaiowá; veja

Foto: Reprodução

Cineasta de MT produz e dirige documentário sobre Guarani Kaiowá; veja
A primeira cena é lúdica, e ao início do documentário, até o nome remete à literatura, “Flor Brilhante e As Cicatrizes da Pedra”, produzido e dirigido por Jade Rainho. São 28 minutos de filme que conta a história da reserva Guarani Kaiowána Aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS). Foram 11 meses até a conclusão do documentário que foi realizado de outubro de 2012 a setembro deste ano. “Foi como um parto”, brinca a diretora e cinegrafista.

Natural de Tucuruí no Pará, Jade Rainho está erradicada em Mato Grosso desde os sete anos de idade, e ousou neste projeto totalmente independente para dar voz aos indígenas, que em meio à ameaça do branco, tentam preservar o que resta de sua cultura.

Flor Brilhante é o nome da matriarca de uma família indígena de rezadores Guarani-Kaiowá, que sofreram influência do homem e lutam para repassar os ensinamentos dos antepassados. A matriarca ensina as crianças a rezarem, evocam os espíritos, seus deuses, e pedem bênçãos aos plantios de todo o país. Mas, nem tudo são flores nesta história.

Ao fundo da reza murmurada e em transe pelos indígenas, uma sirene ecoa, trazendo-os de volta à realidade em que vivem. São mais de 40 anos, ou seja, desde a década de 1970, os Guarani-Kaiowá, sofrem com a exploração de uma usina de asfalto, que dinamita e explora uma pedra sagrada no território da aldeia.

São 10 toques da sirene, consecutivos, para que todos ao redor da usina, saibam que uma explosão está para acontecer. O índio Jorge conhece bem este som. Foi o último que ouviu. Seus tímpanos foram feridos, e nunca mais irá recuperar sua audição depois de uma explosão. Flor Brilhante também chegou a ser atingida por uma explosão, mas sobreviveu.

Agora, os diretores da usina, levam Flor Brilhante e Jorge para “passear” toda vez que ocorre uma explosão, para que eles não fiquem nervosos com o barulho. Jorge questiona se farão esta manobra para sempre. São mais de 40 anos, que a aldeia sofre com a presença da usina. Flor Brilhante em sua reza, atenta que o homem branco está deixando os deuses irritados. A pedra sagrada pertence aKurupira. E Flor Brilhante garante que os indígenas respeitam muito a pedra.

Jorge, sem ouvir, sabe os efeitos da explosão. Segundo sua descrição, é como se formasse um vácuo na aldeia, e o vento fosse puxado para a direção da pedreira, causando impacto que até hoje, não foi medido pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

São 40 anos de exploração contínua da pedreira, e há 40 anos, os índios sofrem com esta invasão em suas terras consideradas sagradas. E somente agora, as autoridades estão tomando conhecimento do impacto na vida da aldeia, tendo sido protocolado o primeiro documento sobre a situação vivenciada pela aldeia na Funai, em 2012. E até o momento, nenhuma solução foi encontrada. O representante da Funai no documentário lamenta que nem a usina e nem os indígenas irão sair dali, e por isto, uma solução para o impasse deve ser buscada. “Só se houvesse uma situação insuportável”, explica.

Flor Brilhante ainda traz esperança em seus olhos, e lembra os antepassados, os familiares que já se foram e que também sofreram com a pedreira, como o próprio avó. E ao encerrar o documentário, a matriarca revela seu nome na língua Guarani-Kaiowá, CuñaPoterandu’y cujo significado é Flor Brilhante. Mas, as cicatrizes que a pedra deixou e ainda deixa, não podem ser traduzidas.

Veja o trailer do documentário aqui.
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