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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Situações típicas de cruzeiro são pano de fundo para filme com Porchat

Comer e beber tudo o que está incluído no pacote, aproveitar cada aula e atração oferecida e passar mal por causa do balanço do navio são cenas típicas de um cruzeiro, todas incluídas na comédia "Meu passado me condena – o filme", com Fábio Porchat e Miá Mello, cuja estreia será nesta sexta-feira (25) em 350 salas do país.


Os noivos em lua de mel que se casam um mês após se conhecer e logo começam a se estranhar são os mesmos da série que inicia sua segunda temporada na próxima quarta-feira (30) no Multishow. Mas o cenário da pousada de Itaipava, em Petrópolis (RJ), dá lugar ao transatlântico italiano Costa Favolosa, com capacidade para 3.800 passageiros e 1.100 tripulantes

A produção do filme começou há um ano, e o navio – 80% composto por passageiros idosos – partiu em março do Brasil, passando por sete cidades do país e seis estrangeiras: Santos (SP), Rio de Janeiro (onde a equipe entrou), Ilhéus (BA), Salvador, Maceió, Recife, Fortaleza, Santa Cruz de Tenerife, nas Ilhas Canárias; Funchal, na Ilha da Madeira; Casablanca, no Marrocos; Barcelona, na Espanha; Marselha, na França; e Savona, na Itália.

Para gravar dentro de um navio de grande porte, com orçamento total de R$ 3,6 milhões, durante 21 dias – cinco deles em alto-mar, entre Fortaleza e as Ilhas Canárias –, a equipe "enxuta" de 42 pessoas teve que se virar como pôde para conseguir figurantes: os próprios passageiros da embarcação, que acabaram se inscrevendo para participar.
Além disso, foi preciso gravar no cassino quando o local ainda estava fechado (pois o som das máquinas atrapalharia o áudio) e aproveitar bem a descida das pessoas durante algumas horas em cada parada, momentos em que havia mais espaço e liberdade para filmar. Por conta disso, Fábio Porchat e outros atores do elenco principal só conheceram de perto a Ilha da Madeira, as Canárias e Casablanca.
"Tivemos atores de verdade como figurantes apenas nas cenas da despedida de solteiro gay e da festa à fantasia, quando entraram 50 profissionais já fantasiados em Ilhéus. E ninguém podia falar de forma grosseira no set, porque aquelas pessoas haviam pagado pela viagem. Além disso, nós tínhamos que ser mais atraentes que o cassino, que a piscina, para que elas quisessem participar", conta a produtora Mariza Leão, que produziu também "De pernas pro ar" 1 e 2, "Apenas o fim" e "Meu nome não é Johnny". Elke Maravilha foi uma das exceções na figuração, e aparece como uma idosa que adora paquerar os funcionários jovens do navio.

As gravações do filme entretiveram tanto os passageiros, que muitos pensaram que o casamento – de verdade – do diretor de fotografia, ocorrido a bordo, fizesse parte do roteiro. O contrário aconteceu com o personagem Wilson, interpretado por Marcelo Valle: ele foi confundido várias vezes com um animador real de cruzeiros, pois vestia a mesma roupa que os demais e estava identificado com um crachá de "funcionário".
Outras adaptações
Além da redução da equipe ao máximo, as gravações enfrentaram outras adaptações para rodar o primeiro filme brasileiro feito 90% dentro de um navio. Segundo Mariza, nenhum objeto de madeira poderia entrar a bordo, por exemplo. O equipamento de travelling, que faz movimentos de câmera, também precisava caber no elevador da embarcação.

"Era preciso fazer tudo dentro do tempo e horário desses 21 dias, pois não dava para refazer depois, não tinha como voltar", destaca Porchat, o único do elenco que já havia viajado em um transatlântico (do Brasil ao Uruguai), ao lado do pai quando tinha 16 anos, e em cruzeiros pelo Rio Nilo, no Egito, e no Vietnã.
Era preciso fazer tudo dentro do tempo e horário desses 21 dias, pois não dava para refazer depois, não tinha como voltar"
Fábio Porchat,
ator e humorista
Para que tudo desse certo, o filme foi montado quase em tempo real – a fim de que as falhas fossem vistas e corrigidas rapidamente –, e a equipe andava sempre junta, quase em "fila indiana", pois em um navio "é só virar à primeira esquerda para nunca mais ser visto", brinca o elenco. Além disso, rádio e telefone não pegavam direito, principalmente em alto-mar.

Na tentativa de garantir que as filmagens sairiam conforme o previsto, em dezembro do ano passado – três meses antes da viagem – alguns membros da equipe (como o diretor de arte e o figurinista) viajaram em um cruzeiro entre Santos e o Rio de Janeiro para entender como funciona a vida em alto-mar, quais são as limitações e como é conviver tanto tempo dentro de um navio.

Sabendo disso, foi montada uma réplica de uma cabine de navio em um set no Rio, onde foram gravadas, uma semana antes da partida, todas as cenas que se passam dentro do quarto do casal. Isso porque a cabine reproduzida era um pouco maior e podia acomodar melhor as câmeras e a iluminação.
Imprevistos

Mesmo com tudo bem planejado, a equipe precisou mudar uma locação ao chegar ao Marrocos, pois a Mesquita Hassan II, onde seria feitas as cenas em Casablanca, havia proibido qualquer tipo de gravação após um filme erótico ter sido feito lá sem conhecimento de quem autorizou – o que só foi descoberto depois.
A equipe, então, saiu à procura de lugares para rodar na cidade e acabou encontrando um mercado popular, onde o personagem Cabeça, amigo "mala" de Fábio (na história, Porchat se chama Fábio mesmo, e a mulher, Miá, assim como na série), entra na trama.

Outro problema ocorreu durante as gravações nas áreas externas do navio, por causa do vento forte. Para não haver interferência no áudio, 40% dessas cenas tiveram que ser dubladas, segundo a diretora Julia Rezende, que estreia no comando de um longa-metragem e também está à frente da série do Multishow, ao lado da mãe, Mariza Leão.

Pergunte o que há no pacote – e outras dicas
Em "Meu passado me condena – o filme", o personagem de Porchat pergunta o tempo todo se tal coisa está incluída no pacote – "Para pagar uma fortuna, tem que curtir tudo", enfatiza. Brincadeiras à parte, fora das telas o ator diz que é importante mesmo tirar dúvidas, pois existem vários tipos de all-inclusive – o "plus", o "master".

Ainda na história, o recém-casado Fábio menciona "chá de boldo com cidreira" como receita de família contra enjoo e, durante as instruções do navio sobre como usar o colete salva-vidas, ele pergunta se ali tem bote para todo mundo, "ou é como o Titanic, onde só os ricos se salvam".
Do lado de cá, Porchat dá algumas dicas para quem quer fazer um cruzeiro: "Se você for cruzar o Atlântico, leve desde sunga até cachecol, porque é difícil prever qual tempo vai fazer. Além disso, tome o drink mais colorido que tiver, daqueles com guarda-chuvinha, leve livros, jogue alguns jogos. E, se brigar, tem que fazer as pazes (pois as cabines são pequenas)", aponta o ator.
Já Miá Mello seguiu a dica de uma funcionária do navio para não passar mal: comer de 3h em 3h e não beber muito líquido. Ela ficou as três semanas da viagem ao lado do namorado, Lucas Melo, que fez as fotos oficiais do filme. No Brasil, a atriz também teve a companhia da mãe e da filha pequena, que desembarcaram antes de o cruzeiro atravessar o oceano.
Para evitar náuseas na equipe, a produtora Mariza Leão distribuiu pulseiras antienjoo baseadas na técnica milenar chinesa "Do-In", que acredita no reequilíbrio do organismo por meio da pressão em determinados pontos do corpo. O ator Rafael Queiroga, o amigo "chato" Cabeça, diz que passou muito mal até pôr o acessório, o que o levou a crer que o método realmente funciona.
Aos casais que pensam em fazer um cruzeiro juntos, Mariza Leão alerta: "É preciso ser animado, gostar de atividades e ter uma relação mais madura, se conhecer bem" – melhor que os personagens, pelo menos.
O ator Marcelo Valle, que interpreta o animador Wilson, completa: "Se quiser viajar de navio, vá bem acompanhado e escolha o cruzeiro certo, para a sua idade e o seu perfil".
A travessia

Tantos dias seguidos dentro de um transatlântico, sem ter para onde correr, foram mais um teste para a equipe, que passou o tempo todo unida. Por sorte, o mar ficou tranquilo quase a viagem inteira.
"É muito horizonte, você fica procurando peixe para ver. Quando passou um barco perto da gente, todo mundo correu para acenar. O ser humano não está em seu estado normal ali, tem necessidade de se juntar para sobreviver", filosofa Queiroga, que passou os cinco dias de travessia do Atlântico pensando no caminho inverso feito pelos portugueses há mais de 500 anos.

"Na Ilha da Madeira, paramos ao lado de uma réplica da caravela Nina, e éramos 40 vezes maiores. Como aquilo era precário!", compara.

Para a produtora Mariza Leão, olhar o mar no fim da tarde era "lúdico e agregador". Segundo ela, o trajeto a fez ter certeza de como o ser humano é "uma cabecinha de alfinete no planeta, no Sistema Solar".
"É uma viagem com boa dose de emoção. E o tempo do navio é o mesmo do carro, do trem, é o tempo da vida. O avião, não, em algumas horas você está em Paris. A viagem é o percurso, o processo", analisa.
Nesses dias sem internet nem telefone, a equipe também aproveitou para ver golfinhos, arco-íris, o nascer e o pôr do sol. Os fumantes se reuniam para tragar um cigarro, quem gostava de dançar ia para o baile, os "órfãos" iam fazendo amizade – e assim as relações eram criadas, pois "ali estava todo mundo literalmente no mesmo barco", diz Mariza.
O desembarque

Após deixar de vez o navio – no Porto de Savona, região da Ligúria, no noroeste da Itália –, a equipe ainda passou três dias gravando as cenas finais do filme. Depois disso, cada um seguiu o seu caminho: a maioria tirou um período de folga para passear pelo país – Porchat, por exemplo, ficou quatro dias em Veneza.
Já o ator Marcelo Valle voltou para o Marrocos e percorreu Casablanca, Marrakech e outras cidades durante 20 dias, ao lado de um amigo.
"É um lugar incrível, tem deserto, montes cheios de gelo, famílias de beduínos em cavernas, uma cidade que parece a Suíça, são muitos lugares diferentes. Andei de camelo até um acampamento e tomei banho quente em pleno deserto!", destaca.
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