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Domingo, 28 de abril de 2024

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A arte imita a realidade: Fahrenheit 451 retrata a perseguição aos livros em metáfora futurística

Foto: Reprodução

Fahrenheit 451

Fahrenheit 451

O tempo é futuro. Casas e veículos modernos. Roupas e pessoas modernas. O personagem principal é Guy Montag que ao fim do filme 'Fahrenheit 451' foge da perseguição aos que sofriam por defender a literatura. Neste tempo futuro, os livros são proibidos e queimados. Montag é um ‘bombeiro’, mas, seu trabalho não é apagar o fogo, mas sim queimar os livros. Sim, os livros. Perseguidos pelo poder de transformação, de reflexão e questionamento. Os livros são perseguidos por abrirem mentes e possibilitarem a imaginação, a busca por novos mundos.

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Esta sociedade é baseada no digital – principalmente a televisão, companheira de todos os cidadãos – e o livro é o marginalizado. Mas, Montag se rende à curiosidade e um dia, salva um livro e o folheia em casa. Recluso, o bombeiro começa a se aventurar em uma obsessão por leitura, rompendo todas as regras e leis, que até então regiam sua vida.

Imerso em uma realidade contínua, imposta, e sem perspectivas, Montag acorda de sobressalto quando mergulha na literatura. Montag está desperto. O mundo mudou e a literatura é sua vertente mais expressiva da vida.



A cena mais impactante contudo, é quando os bombeiros encontram uma biblioteca clandestina em uma residência, e a senhora dona dos livros, não deixa a casa, que é condenada ao fogo. A idosa se rende às chamas ao resistir sair e declara ‘morrerei como vivi, com meus livros’.

O fim do filme mostra Montag refugiado em uma floresta, ao lado de ‘livros-pessoas’. Os livros-pessoas decoravam toda a história, do início ao fim, com todos os pontos e vírgulas, para poderem viver sem serem condenados por perpetuar a escrita. A literatura estava guardada na memória e viria à tona quando os livros regressassem ao hábito comum da sociedade.

Uma crítica imersa em um imaginário que não está distante da realidade. Fahrenheit 451 (é a temperatura em graus Fahrenheit em que o papel é queimado) traz uma reflexão profunda sobre um tempo em que a tecnologia comanda a vida em sociedade, e não há espaço para leitura. O Brasil é exemplo disto, os brasileiros leem em média quatro livros por ano, e destes terminam apenas dois.

O filme dirigido por François Truffaut de 1966 é baseado no livro de mesmo nome de Ray Radbury publicado em 1953. A fogueira dos livros em Fahrenheit não é fictícia, apesar da obra ser ficção. É apenas contar de outra maneira como a literatura foi perseguida ao longo dos séculos, seja por culturas ou religiões. Outros motivos de perseguição vêm dos próprios autores, que muitas vezes, condenam suas obras à destruição (talvez por acreditar na densidade do que expõem, e que o mundo não está preparado para aceitar, ou entender).

A literatura é maldita como seus autores, e trazer toda a crueza da realidade humana é transpor os limites da hipocrisia da sociedade, que acredita funcionar enquanto está a ceifar as vidas que a permeiam. Livros considerados ‘pesados’ foram perseguidos, como Lolita de Vladimir Nabokov, que o próprio autor quis queimar sua obra, salva das chamas pela esposa (um dos exemplos da consciência da aura carregada que engloba a narrativa, mas que traz uma face humana que ainda é alvo de tabu quanto aos debates).



Franz Kafka antes de falecer pediu que todos os seus manuscritos fossem queimados. Porém, o executor de seu testamento não o obedeceu, e salvou livros como O Castelo e O Processo. Mais um escritor que condenou a si próprio por abraçar a nudeza do que é a vida humana.

Em 1857, Gustave Flaubert publicou Madame Bovary. As desventuras amorosas de uma adúltera, Emma Bovary chocaram a França conservadora da época e o romance causou polêmica. Flaubert sofreu um processo acusado de atacar à moral e os bons costumes. Acabou absolvido.

Mas o que todos estes livros não nos deixam esquecer, principalmente a metáfora de Fahrenheit 451 para abordar a falsa distância entre a literatura e a vida humana que desejam impetrar, é que quando livros são perseguidos por revelarem a bruteza do mundo, é porque existe um imaginário popular de condenação com relação aquilo que se prega como fora do padrão - mesmo que exista na vida real e persista nas retratações vivas daquilo que se é.
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