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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Olhar Conceito publica cinco poemas inéditos do poeta cuiabano Matheus Jacob

Foto: Stéfanie Medeiros

Matheus Jacob em Cuiabá.

Matheus Jacob em Cuiabá.

Matheus Jacob Barreto é, aos 21 anos, autor de três livros de poesia, embora só considere o último que publicou, intitulado “É”. Apesar da pouca idade, os versos de Matheus já chamam atenção - e de forma muito positiva. Em janeiro deste ano, o professor doutor em Letras pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Nelson Luís Barbosa, escreveu um artigo dizendo que a poesia de Matheus podia ser comparada com os grandes da literatura, como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira e João Cabral de Melo Neto.

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Poeta aos 21: terceiro livro de Matheus Jacob já vai para segunda edição

E uma das vantagens de ser jovem e desde cedo nutrir o talento para versos é que a energia criativa é incessante: Por isto, depois de publicar o livro “É” em 2013, Matheus Jacob apresenta ao público cinco poemas inéditos através do Olhar Conceito.

Estes novos poemas, que você pode conferir abaixo, demonstram de forma sutil, porém habilidosa, os silêncios e vazios que carregamos conosco. “Nós somos como balões: acaba que no final é isto que mais temos de nosso: Nossos vazios e silêncios”, explicou Matheus. Mas o poeta logo ressalta que isto não é algo ruim, pois onde há estes vazios também tem espaço para a ternura, como indica o poema “Mãe no ônibus”.

O poema principal desta pequena coletânea é o “Poema de apartamento e seus 60 m²”, dedicado à poeta cuiabana Lucinda Persona que, na opinião de Matheus, “é uma das grandes”. A história de como Matheus apaixonou-se pelo trabalho de Lucinda é um daqueles “acasos da vida”.

Matheus ganhou de um amigo o livro “Tempo Comum”, pouco antes de mudar-se para São Paulo para estudar letras na USP. Sem dar atenção ao livro, Matheus deixou-o guardado em sua estante por dois anos quando, em um período de férias em Cuiabá, a obra lhe despertou o interesse. Pegou para ler apenas um verso e quando viu, já estava na metade do livro.

“Lucinda tem uma qualidade que todos os meus escritores favoritos têm: uma complexidade transformada em simplicidade. Ela consegue criar algo muito delicado, quase como um origami - essa imagem sempre me vem à mente quando penso nela - a partir de uma situação muito complexa, muito cotidiana e muito humana. É difícil explicar, mas ela faz o mar caber numa gota”, disse Matheus.

Confira os cinco poemas de Matheus Jacob, publicados com exclusividade pelo Olhar Conceito:

Homem Homem Homem

Você está com a boca cheia de silêncios.

Poema de apartamento e seus 60m²

(Para a poeta Lucinda Persona)

Carrega na mão tanto silêncio
que os bichos e as águas
desviam
seus cursos
pra não despencar na solidão de homem

e o próprio sol
vira o rosto envergonhado.

Inquérito aos quatro ventos

“Um dia em que se possa não saber.” – Sophia de Mello Breyner Andresen

As horas só observam
o tempo que se lhes passa.
Seja esse o tempo de gozo
seja o tempo da desgraça.

As horas azuis, paradas
no peito do próprio tempo.
No limiar do que passa e
nem sabe: rápido ou lento.

As horas deitam-se, amplas,
dilatadas de si mesmas
e contentes por estarem
e serem sua natureza.

A hora, ela é preguiçosa,
não segue as ordens do dia.
Será que as horas se riem
dos homens?
Ninguém sabia.

Mãe no ônibus

E o toque mais doce do mundo
hoje
é a mão de mãe da mãe
de leve no bumbum do bebê
calmíssimo
dulcíssimo

pra não cair.
Pra não cair no mundo.
Pra não cair nos homens.
E hoje o mais doce toque do mundo
é a mãe
e o filho
e, na ponta dos dedos,
um mundo à parte deste,
de matéria-prima: mãe.

Pra não cair.
Pra não cair no mundo
e nos homens.

O canto máximo

Quisera não nascer homem
ou melhor não ter nascido
se ser é se perder sempre
e nascer é nunca ter sido.

Olhai o galho à janela.
É duro, e de morrer não nasce
e sem nascer e sem morrer deita
[à eternidade
a face.

Olha o gato esquecido de nascer.
Olha o cão olha o peixe olha a ara-
nha.
Esquecidos de nascer
[nascem
e perduram no tempo comprido.

Quisera não nascer homem
ou melhor não ter nascido
se ser é se perder sempre
e nascer é não ter existido.







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