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plot twist

Godzilla: O retorno do rei dos monstros ao ocidente e os personagens espectadores na trama de Gareth Edwards.

20 Mai 2014 - 16:15

Especial para o Olhar Conceito - Thales de Mendonça

Foto: Reprodução

Godzilla: O retorno do rei dos monstros ao ocidente e os personagens espectadores na trama de Gareth Edwards.
De más escolhas o cinema está cheio. Roteiros mal estruturados, atores mal selecionados, edições confusas ou até mesmo a música errada podem arruinar por completo histórias cheias de potencial, e enfiá-las no limbo do esquecimento para que no futuro possam ser reutilizadas por alguém que faça as escolhas certas, e tente apresentar ao público uma história que já fracassara. Ícone no cinema internacional e principalmente no Japão, “Godzilla” permanecera no limbo por 15 anos devido à sua ultima tentativa falha de ganhar uma versão ocidental, mas agora parece ter encontrado um tratamento a sua altura.

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Criado em 1954 nos cinemas japoneses como a personificação da bomba que devastara Hiroshima, o dragão gigante que surge das profundezas triunfara em seu país e ganhara conhecimento internacional, perpetuando-se como a metáfora sobre o desastre que não podiam comentar, e abrira um precedente para uma série de filmes asiáticos de monstros que com seu estilo próprio e seus arruinados prédios de papel tornaram-se referência mundial. “King Kong”, gorila gigante que aterrorizava a América desde os anos 30, lutara com Godzilla em “Godzilla VS. King Kong” no início da franquia japonesa que hoje conta com duas séries animadas e cerca de trinta filmes.

(“Cloverfield – 2008” “Tarântula – 1955” “O Hospedeiro – 2006” “Tubarão – 1975”)

Diferentes dos demais filmes de monstros, filmes de monstros gigantes são característicos devido às suas proporções. Seus protagonistas, se não maiores ou similares a arranha céus, tem tamanho o suficiente para pisotear um carro ou dois, e geralmente o fazem, pois costumam ter um apreço também por destruir as cidades. Os recentes “Super 8” de J.J Abrams,“Cloverfield” de Matt Reeves,O Hospedeiro” de Bong Joon-ho e “Círculo de Fogo” de Guillermo Del Toro, ou os clássicos “Tubarão” de 1975, “A Bolha” de 1958, “Tarântula” de 55 ou até mesmo “O incrível homem colossal” de 1957 são alguns exemplos deste gênero que atrai as pessoas ao cinema devido à grandiosidade das catástrofes que suas criaturas trazem consigo.

Com a franquia que só crescera com o decorrer dos anos, Godzilla ganhara um panteão de inimigos próprios e diversas características tão regionais que acabam por afastar o público ocidental devido a difícil assimilação de suas simbologias. Acostumados à outra forma de narrativa, o cinema ocidental criara seus próprios equivalentes das criaturas orientais, deixando Godzilla para a apreciação dos fãs mais fervorosos e os conterrâneos do dragão atômico até 1998, onde nas mãos de Roland Emmerich ganhara uma adaptação tão vazia e mal executada que ajudara a mandar para as profundezas o gigante por mais quinze anos.




Lançado na semana passada, o filme já arrecada cerca de US$ 93 milhões nos Estados unidos e US$ 103 milhões pelo mundo, ganhando sinal verde para uma continuação e firmando a visão de Gareth Edwards sobre Godzilla, que sob sua luz parece ter ganhado a projeção merecida. Alterando a origem do rei dos monstros, mas fazendo menções ao seu original de 54, o filme de Edwards recria o início para apresentar Godzilla aos novos fãs. Após o surgimento da criatura no pacífico em 54, resultando nos testes com bombas, o ser que parecia estar morto retorna para derrotar uma criatura que se alimenta de radioatividade. Entre a devastação criada pelos dois monstros, acompanhamos a vida de um soldado americano que quer reencontrar a sua família.

Acertando ao inserir Godzilla como uma catástrofe natural, o filme de Edwards dá ao monstro a escala necessária para sua ação grandiosa, e a câmera lenta durante as batalhas carrega o peso dos movimentos colossais. Com um design que faz jus ao seu original e com antagonistas fiéis ao panteão de inimigos habituais, além de outras características tiradas diretamente da franquia original, o filme cumpre o papel de agradar aos fãs enquanto agrada o público americano com clichês e uma trama de fácil assimilação. Aprendendo com “Tubarão” de Steven Spielberg, o Godzilla de Gareth esconde-se entre escombros e vislumbres até metade da trama, e sua menção devastadora nas cenas da primeira metade ajudam a construir o suspense e envolver a criatura numa atmosfera de medo crescente, mas o excesso na precaução quase custou ao Godzilla seu papel de protagonista.




Projetado para aparecer massivamente somente no terceiro ato de seu próprio filme, Godzilla dá espaço em sua história para contar o drama dos humanos que estão sofrendo aos seus pés, uma trama não tão estruturada quanto o drama geral do longa. Seus diálogos, muitas vezes clichês e pouco elaborados, acabam por tornar seus personagens meros peões nas ação do filme, e têm pouco tempo para desenvolverem seus dramas quando suas falas são rasas e curtas, seu papel é estar no local da catástrofe para nos colocar sobre sua ótica, e entendermos a dimensão da destruição, mas isto não diminui o filme.




Graças ao competente trabalho visual e a boa construção da atmosfera de suas cenas, o filme salva-se de seus próprios erros e apesar de não envolvê-lo no drama de seus personagens, consegue criar um laço entre o monstro e o espectador e nos faz torcer pelo predador alfa milenar. Satisfatoriamente, o filme de Edwards equipara-se aos melhores filmes da franquia oriental, e trás ao monstro uma apresentação digna ao ocidente, mas não eleva a narrativa da criatura a outro patamar, como talvez fosse esperado com o avanço da franquia. Ao repetir os clichês, a trilha sonora eclética e fazer diversas menções ao original para atender aos fãs mundiais, Gareth Edwards perde um pouco da originalidade presente em seu incrível trabalho autoral anterior, “Monstros” que parecia dar a profundidade exata para que seus personagens sejam mais que meros espectadores de suas próprias tramas, mas verdadeiros protagonistas.

*Thales de Mendonça tem 23 anos, estudante de Cinema e Filosofia, trabalha com edição e criação de roteiros em São Paulo. Viciado na sétima arte, não fala de outra coisa senão filmes e seus desdobramentos na sociedade. Chato de carteirinha ama cinema asiático, filmes com banho de sangue e dramalhões pra chorar aos domingos.





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