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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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O que devemos fazer com os "livros de mulherzinha"?

Foto: Reprodução

O que devemos fazer com os
“Eu não leio livros escritos por mulheres”. Este é o título de um artigo de opinião publicado nas primeiras horas desta segunda-feira (18). O autor é André Forastiere, jornalista, editor, empresário e muitas outras coisas. Antes de ler este texto em sua frente, recomendo que leia a coluna em questão clicando AQUI.

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A famosa frase de Sócrates já está muito batida, é usada sempre e o ideal seria evitar os “clichês”. Mas não pude tirá-la da minha mente ao refletir sobre o que li. Eis a frase: “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”.

Sim, o título do artigo do senhor André é polêmico. Comecei a lê-lo com o coração acelerado, esperando uma enxurrada de preconceito e ignorância. Mas no final, só fiquei triste. Triste porque a reflexão do autor é válida e ele identificou uma lacuna na sua “estrada literária”. Mas ele prefere seguir o caminho com a lacuna.

Depois da leitura, que aliás foi indicada por uma amiga, uma discussão calorosa iniciou-se (e continua ainda no exato momento em que escrevo estas linhas). Cada uma leu o texto e o entendeu de uma forma. Eu entendi que ele identificou a falta de leitura de autoras femininas e preferiu continuar assim. Já outras pensam que o texto é um alerta feito para chamar atenção para este suposto fato. A opinião de que os homens não leem muito livros escritos por mulheres é porque “elas” não escrevem livros pra “eles” também apareceu na discussão. Ou seja, cada uma interpretou de uma forma.

Mas sabe qual é o principal problema deste “fenômeno”? O tal do “livro de mulherzinha”. Não, não o livro em si. Mas a nomenclatura que algumas obras ganham da sociedade no geral, tanto de homens, quanto de mulheres. Talvez este seja o maior problema. Livros escritos por homens são considerados neutros até mesmo quando a personagem principal é uma mulher. E cito aqui dois clássicos, pois são estes os livros que o autor gosta: “Madame Bovary” (1856), de Gustave Flaubert, e “Anna Karenina” (1877), de Liev Tolstói. As questões centrais destes livros não são os relacionamentos, o amor, a angústia, a fragilidade do casamento, o conflito com a tradição, o preconceito da sociedade da época, os desejos em oposição ao dever? Mas como foram escritos por homens, são geniais e neutros.

Do que se trata “Orgulho e Preconceito” (1813), também um clássico, mas escrito por uma mulher? Não são os relacionamentos, o amor, a angústia, a fragilidade do casamento, o conflito com a tradição, o preconceito da sociedade da época, os desejos em oposição ao dever? Sim, porque os livros que ultrapassaram a barreira do tempo tem algo em comum: Eles sempre tem algo mais a falar sobre a vida. Mas você lê “Anna Karenina” e não “Orgulho e Preconceito” porque, na nossa sociedade, um é considerado como “de mulherzinha” e o outro não. E você não consegue superar uma barreira imaginária. Ou pior: você não quer fazer nada a respeito.

Então o problema de o porquê você não lê livros escritos por mulheres não é um mistério tão grande assim. Se nós todos parássemos de tratar as obras feitas por mulheres como um nicho, como criação com “temas exclusivos” para mulheres, como algo a ser temido e colocado em uma área específica da livraria, então quem sabe você não teria tanto medo de se aventurar pelos livros da Jane Austen e de outras escritoras tão boas quanto.

E sabe o que é mais engraçado? Se você digitar “Reading Harry Potter” (Lendo “Harry Potter”) no Google, você vai ver meninos e meninas lendo a obra. Então talvez algumas coisas estejam, de fato, mudando na minha geração, que foi literáriamente criada por uma mulher. Você não lê os livros pelo mais puro e simples preconceito. E por fim: “Eu odeio ouvir você falar de todas as mulheres como se fossem senhoras finas em vez de criaturas racionais”. Uma fala da nossa amiga Jane Austen, do livro “Persuasão”. Recomendo a leitura.
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