Toda terça-feira o Olhar Conceito vai trazer poemas clássicos a seus leitores. De pano de fundo vai revelar um pouco da vida de seus autores. O pernambucano Manuel Bandeira inaugura o ciclo. Nascido em 1886, conviveu com a  eminência da morte quando contraiu tuberculose ainda na juventude. A doença lhe obrigou a conviver com o tédio e o silêncio e abandonar curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo. Com ajuda da família economizou e foi tratar-se na Suíça. Tendo que regressar quando iniciou a Primeira Guerra Mundial.

Inteligência artificial cria emaranhado de palavras sem vida; a alma transforma em poesia

Foi então que Bandeira iniciou-se na literatura com o livro "A Cinza das Horas", em 1917, numa edição de 200 exemplares, custeada por ele mesmo. Um dos maiores críticos do escritor Davi Arrigucci Junior, escreve que, "a poesia de Bandeira tem início no momento em que sua vida, mal saída da adolescência, se quebra pela manifestação da tuberculose, doença então fatal. O rapaz que só fazia versos por divertimento ou brincadeira, de repente, diante do ócio obrigatório, do sentimento de vazio e tédio, começa a fazê-los por necessidade, por fatalidade, em resposta à circunstância terrível e inevitável".

Com versos simples que expressam vontades eminentes da maioria dos seres humanos, ‘Vou-me embora pra Pasárgada’ está presente no terceiro livro do autor, Ritmo Dissoluto.

Nas palavras do próprio poeta, esse foi o poema de mais longa gestação de toda sua obra. “Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas” suscitou na imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias como o “L’Invitation au Voyage” de Baudelaire. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: ‘Vou-me embora pra Pasárgada!’. Senti na redondilha a primeira célula de um poema”.

Versos que cria um lugar imaginário onde todo desejo é satisfeito um sonho que em palavras expressa sentimentos recorrentes de ir à busca de um lugar onde ‘a existência é uma aventura, onde é possível andar bicicleta, montar em burro brabo, subir no pau-de-sebo e tomar banhos de mar’ sem se preocupar.

Apesar de a morte ter sido sua companheira durante a vida, Manuel Bandeira morreu aos 82 anos com hemorragia gástrica, no Rio de Janeiro. Ele foi sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.